quarta-feira, 10 de maio de 2017

Trabalho privilegiado!


Antonio Nunes de Souza*

Nem sempre os grandes trabalhos oferecidos pelo governo, grandes empresas multinacionais, ou indústrias de grandes portes, são tão generosos e agradáveis, oferecendo um “modus vivendi” privilegiado, como alguns considerados simples e humildes, com ganhos simplórios e poucas seguranças de estabilidades!
E, quem encarava um desses citados trabalhos era o estudante de filosofia Carlos Eduardo, mulato já com algumas características raciais mais finas, corpo atlético, um sorriso impecável, educado e com uma facilidade de convencimento pouco vista em jovens dos seus 23 anos de vida!

Vindo do norte, mais precisamente de Pernambuco, como sempre acontece, a procura de se formar, melhorar suas condições de vida e, como normalmente fazem, mandar buscar seus cansados pais que, pobres demais, porém, mesmo assim, com sacrifícios enviavam uma pequena merreca como ajuda logística! E Carlos Eduardo, depois de uma série de funções, conseguiu trabalhar numa ótima e bem equipada padaria em um bairro classe média alta. E isso lhe dava a oportunidade diária de atender as babás, domésticas, governantas e madames jovens e de meia idade das mais chiques e bonitas do pedaço. E com esse agradável trabalho, com seu charme, simpatia, inteligência e educação, era o balconista escolhido para fazer quase todos os atendimentos, já que a mulherada não deixava de dar mole para aquela figura bonita, inteligente e culta!
Era uma coisa tão inovadora e inusitada que, já que não podiam dar gorjetas, pois os pagamentos eram nos caixas, muitas delas traziam presentes eventuais, ou pratos de boas iguarias preparados em suas cozinhas. Com o seu razoável salário, a ajuda dos pais e essas gentilezas da clientela, Carlos Eduardo vivia bem em seu quarto amplo, alugado em um pensionato perto do seu emprego! Estaria eu, sem necessidade, escondendo que ele comia dezenas das suas clientes, de babás a patroas no decorrer dos seus dias de vendedor de pães, doces e salgados em geral. Sem dúvida alguma um emprego relativamente simples, porém, nas entrelinhas da vida, oferecia benesses miraculosos, proporcionando viver feliz e, como era primordial, dar continuidade a sua faculdade!

Para encurtar a conversa, Carlos Eduardo e a esposa de um major do exército se enamoraram, ela passou a ajuda-lo em todos sentidos, ele terminou o seu curso, o major foi comandar uma equipe no Haiti e, assim sendo, como tinha dois filhos pequenos, sua mulher ficou no Rio e, com Carlos, continuou seu romance, desta feita já lhe proporcionando melhores condições. Terminou seu curso, já não trabalhava mais na padaria, começou a fazer Mestrado e já estava nos finalmentes, quando o Major resolveu voltar já cumprida sua missão.

Ele e Angélica, educadamente se despediram e ele, já como professor universitário, passou a viver em seu apartamento de dois quartos comprado com a ajuda da sua protetora, curiosamente no mesmo bairro, continuou frequentando a padaria e, quando chegava ao balcão, ainda se batia com algumas das suas boas transadas do passado!
Já com o PHD feito, título de Doutor em Filosofia, outro dia, depois de uma palestra em uma universidade federal, o jornalista que lhe entrevistava, sabendo da sua origem pobre, perguntou: Doutor Carlos Eduardo, qual foi o melhor trabalho que o senhor já fez na vida?
Ele, prontamente, respondeu: “Balconista de padaria”! Todos presentes que ouviram a sua resposta, caíram na gargalhada, achando que era uma brincadeira, ou gozação do internacionalmente famoso filósofo!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL –antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com

Nenhum comentário: