Antonio
Nunes de Souza*
Nem
sempre os grandes trabalhos oferecidos pelo governo, grandes empresas
multinacionais, ou indústrias de grandes portes, são tão generosos e
agradáveis, oferecendo um “modus vivendi” privilegiado, como alguns
considerados simples e humildes, com ganhos simplórios e poucas seguranças de
estabilidades!
E,
quem encarava um desses citados trabalhos era o estudante de filosofia Carlos
Eduardo, mulato já com algumas características raciais mais finas, corpo atlético,
um sorriso impecável, educado e com uma facilidade de convencimento pouco vista
em jovens dos seus 23 anos de vida!
Vindo
do norte, mais precisamente de Pernambuco, como sempre acontece, a procura de
se formar, melhorar suas condições de vida e, como normalmente fazem, mandar
buscar seus cansados pais que, pobres demais, porém, mesmo assim, com
sacrifícios enviavam uma pequena merreca como ajuda logística! E Carlos
Eduardo, depois de uma série de funções, conseguiu trabalhar numa ótima e bem
equipada padaria em um bairro classe média alta. E isso lhe dava a oportunidade
diária de atender as babás, domésticas, governantas e madames jovens e de meia
idade das mais chiques e bonitas do pedaço. E com esse agradável trabalho, com
seu charme, simpatia, inteligência e educação, era o balconista escolhido para
fazer quase todos os atendimentos, já que a mulherada não deixava de dar mole
para aquela figura bonita, inteligente e culta!
Era
uma coisa tão inovadora e inusitada que, já que não podiam dar gorjetas, pois
os pagamentos eram nos caixas, muitas delas traziam presentes eventuais, ou
pratos de boas iguarias preparados em suas cozinhas. Com o seu razoável
salário, a ajuda dos pais e essas gentilezas da clientela, Carlos Eduardo vivia
bem em seu quarto amplo, alugado em um pensionato perto do seu emprego! Estaria
eu, sem necessidade, escondendo que ele comia dezenas das suas clientes, de
babás a patroas no decorrer dos seus dias de vendedor de pães, doces e salgados
em geral. Sem dúvida alguma um emprego relativamente simples, porém, nas
entrelinhas da vida, oferecia benesses miraculosos, proporcionando viver feliz
e, como era primordial, dar continuidade a sua faculdade!
Para
encurtar a conversa, Carlos Eduardo e a esposa de um major do exército se
enamoraram, ela passou a ajuda-lo em todos sentidos, ele terminou o seu curso,
o major foi comandar uma equipe no Haiti e, assim sendo, como tinha dois filhos
pequenos, sua mulher ficou no Rio e, com Carlos, continuou seu romance, desta
feita já lhe proporcionando melhores condições. Terminou seu curso, já não
trabalhava mais na padaria, começou a fazer Mestrado e já estava nos
finalmentes, quando o Major resolveu voltar já cumprida sua missão.
Ele
e Angélica, educadamente se despediram e ele, já como professor universitário,
passou a viver em seu apartamento de dois quartos comprado com a ajuda da sua
protetora, curiosamente no mesmo bairro, continuou frequentando a padaria e,
quando chegava ao balcão, ainda se batia com algumas das suas boas transadas do
passado!
Já
com o PHD feito, título de Doutor em Filosofia, outro dia, depois de uma
palestra em uma universidade federal, o jornalista que lhe entrevistava, sabendo
da sua origem pobre, perguntou: Doutor Carlos Eduardo, qual foi o melhor trabalho
que o senhor já fez na vida?
Ele,
prontamente, respondeu: “Balconista de padaria”! Todos presentes que ouviram a
sua resposta, caíram na gargalhada, achando que era uma brincadeira, ou gozação
do internacionalmente famoso filósofo!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL
–antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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