Antonio
Nunes de Souza*
Não
é nenhuma novidade, pois é de conhecimento geral, que os pescadores sempre
aparecem com “estórias” mirabolantes e grandiosas, geralmente com detalhes
incríveis, visionários e exagerados. Tanto que, nas rodas da vida, quando
alguém fala algo que está acima das normalidades, todos logo repetem em coro a
classificação de “estória de pescador”! Porém, mesmo sabendo dessa faceta que
acompanha os pescadores, temos que dar ouvidos a algumas delas, principalmente,
quando são grandes pescadores e, singrando o mar sem limitações, sempre depois
de uma quinzena, voltam com seus pescados e contam os fatos acontecidos
durante seus percursos!
Vicente,
pescador emérito e dono da maior banca de peixe da cidade, além do seu barco,
quase um saveiro ou escuna, há muito não fazia suas excursões marítimas,
ficando preocupado apenas com a vendagem dos grandes cardumes pescados em alto
mar pela sua equipe de auxiliares embarcadiços que, na verdade, eram os atuais
pescadores!
Com
seus cinquenta anos bem vividos nessa vida, um dia Vicente resolveu, para matar
a saudade, ir em uma das viagem de pescaria. Infelizmente, depois de dois dias
em alto mar, aconteceu uma tormenta inesperada e violenta, que a embarcação não
resistiu e virou no meio das grande ondas, jogando todos para fora. Ainda
tiveram tempo de pegar um bote inflável e remos, que acolheu aos três
marítimos, porém Vicente sumiu no meio das águas. Com a bruta chuva, ondas
gigantes e o apavoramento de todos, nada se via pela frente e pelos lados, que
pudesse ser a pessoa do nosso querido Vicente!
Ao
amanhecer, o tempo voltou com uma calmaria super tranquila e, pelas suas
experiências, conseguiram remar até a costa, aportando alguns quilômetros da
sua cidade! Entraram em contato com familiares, que foram busca-los, mas, a falta
de Vicente era sentida por todos que, naquela altura já o davam como morto
afogado pelo mar bravio!
Vicente
era um solteirão inveterado e de parentes tinha apenas uma irmã que, com seu
marido, ajudavam na administração e vendas dos pescados.
Aí
foi que aconteceu o inesperado depois de um mês da tragédia! Apareceu um taxi
e, deixando todos completamente apavorados, sai de dentro o nosso querido
Vicente, forte e robusto, provocando uma alegria inusitada com misturas de
choros dos que mais lhe queriam bem! Prepararam uma reunião no próprio salão da
peixaria, não só para comemorar como para que todos ouvissem de Vicente o que
aconteceu com ele.
A
noite com a chegada dos convidados, cada um trazendo uma iguaria ou bebida,
todos sentaram e Vicente começou a contar sua aventura de Netuno o Deus do Mar!
Depois
de uma hora mais ou menos, me batendo nas ondas e ventanias, apareceu uma
mulher linda que o agarrou nos braços e foi guiando ele para um lugar mais
calmo. Ele mesmo meio desfalecido, agradecia a Deus ter enviado essa exímia
nadadora, para salva-lo. E, numa hora de desespero ele foi abraçar a moça pela
cintura e percebeu umas escamas, desceu mais as mãos e, apavorado viu que era
uma Sereia, pela sua longa cauda de peixe. Essa constatação o deixou, mesmo
estando sendo salvo, completamente apavorado e sem acreditar nesse absurdo.
Mas, sinceramente, era verdade!
O
fato é que ela lhe levou para uma grande caverna, cuidou dos seus pequenos
ferimentos, preparou alimentação deliciosa somente com frutos do mar e ervas
marinhas. Então, passados uns dias, como acontece quando existe um aconchego
entre um homem e uma mulher, transamos uma noite inteira. Em cima beijos e
abraços nas carnes, embaixo ferro e espeto no peixe. Uma delícia esse mesclado,
que mais parecia um sonho.
Passado
um mês nesse romance de salvamento, ela me levou nas costas para perto da
praia, saltei, lhe deu muitos beijos de gratidão e, sinceramente, já estava
ficando meio apaixonado. Nos despedimos, cheguei a praia, pedi socorro e, como
estava na cidade vizinha todos já sabiam do meu sumiço, me ajudaram, me deram
roupas, dinheiro para o taxi e aqui estou eu sã e salvo cheio de saúde!
Todos,
principalmente os pescadores, com suas bocas abertas e entre trocas de olhares,
olharam para o céu e agradeceram a Iemanjá, por ter salvo o grande amigo!
Vicente
comprou um novo barco, continuou seus negócios como eram antigamente e, segundo
ele, depois de nove meses, pescaram um tubarão que era a “cara de Vicente”.
Ele
logo ficou na dúvida: Será que esse danado é o nosso filho?
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL –antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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