Antonio Nunes de Souza*
Às vezes demora acontecer coisas interessantes em nossas vidas, mas acontecem quando não esperamos. E isso tem me deixado bastante feliz!
Para que vocês entendam melhor o que digo, preciso contar o que ocorreu comigo dias atrás:
Como sou músico (canto e toco violão), costumo me apresentar em casas noturnas, clubes, festas particulares, eventos empresariais, etc. e, embora não seja o ideal como uma realização profissional, consigo uma renda que ajuda muito no meu sustento e dá para pequenos caprichos. E, inesperadamente, fui convidado para fazer uma apresentação em um hotel de categoria internacional, onde hospedam as finas flores e poderes econômicos da face da terra. Depois dessa primeira apresentação, mexendo os pauzinhos, consegui que fosse escalado outras vezes, até que passei a ter minha escala semanal definitiva.
Não precisa dizer que meu deslumbramento foi inigualável! Freqüentar um hotel de tamanho luxo era quase uma utopia em meus pensamentos. Porém, era uma realidade e um orgulho interior, causando até um olhar de inveja de meus amigos, quando eu dissertava as maravilhas que existiam no paradisíaco lugar. Fotografava todos os detalhes e, orgulhosamente, mostrava para todos, observando de esgoela as mais diversas e variadas reações de caras e bocas Mas, aos poucos fui me acostumando, sendo hoje uma coisa natural minhas idas e vindas para o Comandatuba. Esse é o nome do deslumbrante hotel!
Fiz esse preâmbulo no sentido de dar a vocês uma idéia de como realmente acontecem fatos em nossa trajetória, que mudam radicalmente nossa condição e fazem acontecer outros gostosos, no campo afetivo e, principalmente, sexual.
Como vocês pelo menos já ouviram através de conversas, nesses ambientes sempre existem, mulheres solitárias em busca de aventuras, famílias que trazem (filhas adolescentes que vem, às vezes, contra a vontade para apenas atender a imposição) e outros tipos que vêm por motivos diversos. E, assim sendo, na minha condição de artista, sempre existe alguém que se impressiona com nossa voz, as músicas que cantamos, sem contar com a aparência que, modéstia à parte, a minha não é de se jogar fora.
Foi aí que surgiu minha primeira aventura, com uma mulher rica e de classe, que estava de férias e ávida por prazeres carnais longe da sua terra e com pessoas diferentes. E, por minha sorte, ela gostou de mim e ficou olhando-me o tempo todo, com um sorriso nos lábios e mandando torpedos através do garçom, pedindo músicas do seu gosto. Claro que notei de imediato, que seu desejo não estava restrito apenas a minha audição musical. Seus olhares pecaminosos diziam sem pudores, que algo mais ela planejava na mente para fazer acontecer.
Não nego que, mesmo gostando daquele flerte, tinha duas preocupações: primeiro o receio de algo chegar ao conhecimento do hotel, com a conseqüência de perder minhas apresentações financeiramente melhores do que as que minha cidade oferece. E segundo que sou casado e não gostaria de ter complicações com minha mulher. Muito embora ela sempre acredita em minhas explicações e tem em mim um homem, literalmente, fiel. Para isso eu sempre conto algumas investidas com tons de chacotas e desinteresse, reforçando assim a minha qualidade de apaixonado e que somente ela existe para mim (aprendi essa técnica com amigos mais experientes).
Mas não deu outra! Quando acabei a apresentação, estava colocando meu violão na capa, ela aproximou-se e, sem nenhum escrúpulo ou timidez, disse:
-Você não gostaria de tomar um drink comigo?
-Infelizmente eu não posso sentar-me com os hóspedes, mas gostaria muito de ter esse prazer.
-Por que não vamos para o meu apartamento, lá estaremos livres de olhares incômodos?
-Tenho certeza que seria maravilhoso, mas, por mais que pareça uma bobagem, não posso arriscar o meu espaço aqui e não quero sair em circunstancias embaraçosas.
-Você não tem alguma sugestão que não crie problemas e só prazer? Disse ela com um sorriso malicioso.
-Podemos fazer o seguinte: Eu me hospedo em uma casa lá do outro lado. Moro apenas com um amigo chamado neguinho (um cara discretíssimo e ainda, quando encontra com minha família, só faz elogiar-me, deixando-me com a maior média em casa). Se você quiser ir para lá, poderemos tomar uns drinks e teremos uma noite inesquecível.
-Tudo bem! Para mim não tem problemas. Você vai à frente e me aguarda do outro lado, pois eu não sei o endereço da casa. Combinado?
-Ok! A propósito, meu nome é Léo Tosta. E o seu?
-Lucienne Lavoisier. Sou filha de franceses. Estarei lá em meia hora.
-Lindo nome. Combina com a pessoa. (disse esse clichê ridículo usado pelos idiotas, como uma coisa original) Vou indo e lhe aguardo no local combinado.
Com o olhar desconfiado fiz uma varredura no ambiente, mas percebi que ninguém tinha visto com maldade aquele rápido diálogo junto ao palco. Acelerei meus passos, pensando em ir rápido para, antes que ela chegasse, fosse em casa arrumar um pouco a sala e, principalmente a cama, estirando o lençol que havia trazido de minha casa, preparando o altar para o sacrifício.
Ajeitei as coisas no quarto e pedi a neguinho que arrumasse a sala e depois se picasse para dar uma volta na rua, voltando apenas depois de pelo menos duas horas. Ele como cúmplice em tudo, não pestanejou em me atender, pois amigos são para essas coisas.
Voltei quase correndo e, graças a Deus, ela não havia chegado. Porém, não demorou cinco minutos, ela chegou.
-Oi! Demorei muito?
-Nada! Por você eu esperaria uma eternidade! (tornei a repetir mais um horrível clichê. Será essa a razão de me chamarem de Prosa Ruim?).
Ainda tímido, saí andando ao seu lado, mas ela, sem cerimônia nenhuma, pegou minha mão e encostou seu ombro em mim.
Logo chegamos à casa, entramos e a sala estava impecável dentro do possível (Neguinho nunca me falhou). Sentamos e ofereci uma cerveja, já que era a única bebida que eu disponha. Ela aceitou e fui rapidamente buscar. Porém, antes coloquei uma fita no microsistem de Neguinho para dar clima ao ambiente.
Começamos a beber, conversar e, em pouco tempo já estávamos abraçados aos beijos e as pegações, instintivamente, iam tomando proporções cada vez mais ousadas. Com os desejos já completamente aflorados, seguimos para cama, mesmo vestidos, e deitamos dando continuidade às carícias, a essa altura sem limites. Mesmo sem jeito, fomos nos desnudando paulatinamente e, em alguns minutos, já estávamos transando nas mais variadas posições. Ela era de uma doçura maravilhosa. E, em meu ouvido, sussurrava na língua dos seus pais: Mon amour, mon amour. Aquilo me dava um tesão que há muito não sentia!
Não sei nem quantas vezes gozamos, mas, certamente, foram várias e continuadas. Ela sabia fazer como ninguém e seu doce sotaque fazia brotar em mim, desejos de continuar dentro dela por uma eternidade. Era a primeira vez que tinha tido sexo com uma mulher estrangeira e francesa, que todos me diziam serem as mais sensuais na cama e na arte do amor. Estava tendo a prova ao vivo e a cores, entregando-me de corpo e alma.
Duas horas e meia depois, levantamos, tomamos um banho, ela vestiu-se e disse; Vou voltar para o hotel, pois não quero que os amigos que fiz aqui, ao acordarem não percebam que dormi fora. Não precisa levar-me até o cais, é perto e irei sozinha. Dizendo isso, me deu um beijo e uma boa noite tão sexy que me deu vontade de começar tudo de novo.
Fechei a porta, ainda sorrindo de felicidade, mas, quando entrei no quarto e olhei para cama, o lençol estava todo manchado, com rodas disformes de esperma e liquido vaginal, fora as marcas molhadas de nossas babas nas investidas bucais.
Pó! Como vou levar essa merda pra casa? Minha mulher não vai entender nunca! Pensei em voz alta, sem saber que atitude tomar.
Mas, rapidamente, pensei em ir direto para casa de minha mãe, lá lavaria o lençol e chegaria em casa com todos os indícios do gostoso crime apagados.
E foi o que fiz logo que cheguei à casa de minha mãe. Lavei com sabão de em pó, coloquei no sol para secar e, depois de seco, dobrei rapidamente e coloquei na sacola sem nem mesmo olhar o estado que estava. Porém, no meio da viagem para Itabuna, rememorando as delícias daquela deslumbrante noite, lembrei-me do lençol e resolvi olha-lo com mais cuidado, já que minha mulher é inteligente, meticulosa e observadora. Quando abri a sacola e o desdobrei, tomei um bruto susto, pois, mesmo depois de lavado, as manchas persistiam meio amareladas, como se estivessem querendo me incriminar. Fechei o zíper ligeiro e passei a pensar a desculpa que daria ao chegar. Mas, infelizmente, nada vinha em minha mente que eu achasse justificável.
Depois de pensar durante o resto do trajeto, me deu um estalo com uma idéia luminosa e eu pensei: Quando chegar em casa já sei o que vou fazer. Pensei isso com um sorriso nos lábios, imaginando como eu sou esperto e sagaz.
Ao entrar em casa, embora com algum tremor interno, mas cheio de segurança externamente, abri a sacola, como faço habitualmente, pegando as camisas, calças, bermudas, etc. e atirando ao chão. Mas, o fatídico lençol, fui pegando sorrateiramente e indo lavá-lo com detergente, Q-Boa e sabão de coco, deixando o miserável mais braço do que bunda de albino. E, para não ficar muito na vista e despertar curiosidade na minha disposição de lavadeira, coloquei o bruto para secar lá no terraço, onde minha mulher não circula com regularidade.
Mas, minha mulher é bastante observadora, como já disse, ficou estarrecida em saber que eu, assim que chegara, havia lavado o lençol, coisa que não faço jamais, mesmo com uma década de casado.
-Léo, mate minha curiosidade: Por que você chegou e foi logo lavar o lençol, já que você nunca lavou nada aqui em casa?
-Tremi nas bases, mas a única resposta que veio em mente foi: Meu bem, eu esqueci de levar a toalha e me enxuguei esses três dias com o lençol. E como ele estava fedendo eu resolvi lavá-lo para não lhe dar trabalho.
-Você pensa que eu nasci ontem, para acreditar numa conversa ridícula dessa?
-Foi, minha filha! Eu só quis ajudar você que trabalha tanto...
-Qualé rapaz! Alguma merda aconteceu e você está me escondendo. Diga logo a verdade, pois eu jamais vou acreditar numa prosa ruim dessa.
-Você acha que eu ia esconder algo de você?
-Acho sim. Pois você tem sempre estado estranho depois dessas suas idas e vindo constante, para o Comandatuba e outros hotéis.
Puxa! Seu mal é esse. Sempre procura uma briga sem nenhuma razão!
O fato é que já se passaram vários dias, e a desconfiança continua evidente, mesmo eu dando testa e confirmando minha estória. Acho que perdi o meu crédito e preciso pedir a Neguinho para me dar uma força, falando sobre a minha pureza e honestidade.
Preciso melhorar a minha prosa para ter desculpas mais viáveis, pois sei que essas aventuras estão apenas começando. Jamais posso perder essa oportunidade de dar a chance ao meu pinto de ser um “polivaginal” e eu passar a ser um poliglota de tanto fazer boquete nas estrangeiras.
Mas, essa desculpa do lençol foi uma merda e jamais a repetirei!
*Escritor (Vida Louca –ansouza_ba@hotmail.com – antoniomanteiga.blogspot.com)
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