Antonio Nunes de Souza*
Pagando meus modestos pecados, dei uma olhada no programa intolerável do Faustão e, para mais um espanto, já que dizer e mostrar bobagens são suas dinâmicas normais, presencio uma competição de cães pertencentes aos atores globais (para dar ibope) e, sem a menor cerimônia, lançam uma campanha para adotarem cães e gatos.
Claro que não sou contra tais animais, porém, num país como o nosso cheio de crianças abandonadas pelas ruas, jogadas em latas de lixo, assassinadas por mães e pais desnaturados, asilos abarrotados de crianças das mais diversas idades, porque não se direcionar uma sólida campanha para que sejam adotados esses seres queridos que, carentes, sofridos, discriminados, necessitam de uma oportunidade de encontrar um lar cheio de afeto e terem um futuro pela frente?
Todos nós temos afetos e carinhos por animais, e creio que todo mundo já teve em sua casa um cão ou um gato, mas, com os problemas acima citados com referência a seres humanos, porque utilizar a fama e o prestígio dos artistas brasileiros para adoções de animais, subestimando ou colocando em segundo plano as crianças?
Pior de tudo isso é que esses queridos animaizinhos são mostrados como verdadeiras jóias tratadas com os melhores alimentos, veterinários, roupinhas com grife, salões de beleza e ainda passeios diários de carro (com direito a cabecinha fora da janela) para não ficarem estressados nos apartamentos. E, enquanto isso, as crianças dormem nas marquises ou embaixo dos viadutos, comem restos de comida retirados das latas de lixo, vivem amontoadas em beliches ou colchões no chão nos asilos públicos, sem escola e assistência médico-dentária inexistente ou precária.
Será que seria pedir demais direcionar tal campanha para crianças em vez de cães e gatos?
Tempos atrás o ator Marcelo Anthony, que é pai adotivo de uma ou duas crianças, falou nesse mesmo programa aconselhando a adoção, declarando como se sentia feliz e agradecido. Mas, infelizmente, não houve nenhum eco ou estímulo para que fosse feita uma sólida e humana campanha em favor desses desfavorecidos da sorte. Será foi porque não daria pontos para o programa ou para a própria TV globo?
Sinceramente, não acredito que a sociedade brasileira, solidária como é, não se sensibilizasse e olhasse com mais carinho esse ato de generosidade e cidadania.
Uma pena que, com o poderio incomensurável de direcionar as massas, esses órgãos da mídia, somente se preocupam em transmitir bobagens e violências, deseducando o povo brasileiro.
Vamos todos trabalhar, dando uma parcela mínima que possível, para que possamos um dia mudar esse triste comportamento, pois, se isso não ocorrer com brevidade, estaremos colaborando para que a marginalidade cresça de uma maneira assustadora, como já estamos vendo e sentindo seus terríveis reflexos.
*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com – antoniomanteiga.blogspot.com)
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