Antonio Nunes de Souza*
Volta e meia estou envolvido com as novas descobertas científicas e os modismos que a mídia trata com um destaque que chega as raias do terror, criando pânicos e assombrações psíquicas nas mentes humanas, levantando problemas e conjecturas com fatos que sempre foram encarados dentro da normalidade e, no passado, mesmo nos deixando putos da vida, empurrávamos com a barriga e descontávamos com as mesmas moedas, sem que tivéssemos de recorrer aos médicos ou divãs de analistas.
No momento o que está na “berlinda” é o tal do BULLYING!
Curiosamente, ou talvez por isso, vivi por mais de uma década em uma cidade do recôncavo (Santo Amaro) e, quase sem exceção, todos nós tínhamos apelidos e éramos sacaneados nas aulas, recreios, festas, esporte, etc., e ninguém ficava ou ficou traumatizado, deixou de estudar, tentou suicídio ou morreu de desgostos e complexos. Encarávamos os nossos defeitos e aparências com naturalidade, reconhecendo que havia sentido as merdas dos apelidos que nos rotulavam. Era algo tão normal que, sinceramente, tive amigos e colegas que até hoje não sei os seus nomes verdadeiros, pois, somente nos tratávamos pelos cognomes, até quando íamos chamá-los gritando nas portas das suas casas, e os familiares recebiam numa boa!
Só na minha rua a variedade era enorme: Baleia, Bola sete, Cabeça de Martelo, Bunda de balaio, Caveira amorosa, Cocô de pinto, Cabeça de cupim, Manteiga, Quatro olhos, Boca de Têta, Catarrento, Criado com vó, Barriga de bosta, Piniquinho, Tolete, etc.
Se eu tivesse de relacionar os apelidos dos meus amigos, colegas de colégio, infância e juventude, teria que preencher dezenas de cadernos. E olhe que não estou citando os pejorativos e imorais que não eram poucos. Posso dizer, com fé de ofício, que essa maravilhosa turma tornou-se vitoriosa, quase todos com formação universitária, excelentes profissionais, constituíram suas famílias alegres e felizes, encontro-me anualmente com a grande maioria deles, continuamos nos tratando pelos apelidos e nos abraçamos com manifestações carinhosas das lembranças agradáveis de nossas vidas.
Só como adendo, cito ainda que tomávamos muitos bolos de palmatórias nas sabatinas, cascudos dos professores e alguns outros castigos, etc., e ninguém morreu nem ficou depressivo. Fazia-nos era estudar mais para não se ferrar, pois, quem não tinha notas boas, não ia à missa no domingo e não lustrava os sapatos, não tinha direito de ir assistir os filmes da matinné. E era uma tragédia, já que não tínhamos TV nem computador naquela época.
Hoje, com essas modernidades, e as famílias não dando educação aos filhos, uma vez que os pais saem pela manhã para seus trabalhos e voltam a noite cansados e nem acompanham os fatos que acontecem na vida deles. Mas, se algum faz uma queixa, por mínima que seja, os pais vão logo procurar os direitos humanos, conselhos de classe, alegando que os filhos não comem, não bebem, não dormem em função do ocorrido, exigindo indenizações e expulsão imediata do professor.
É bom ressaltar que me baseio apenas em experiência de vida, sem nenhum conteúdo científico, mas, com uma grande dose de verdades e comprovações. O que não posso é ter a ousadia de dizer que isso seja frescura do mundo moderno!
*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com – antoniomanteiga.blogspot,com)
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