sexta-feira, 16 de julho de 2010

Carnaval na Bahia!

Carnaval na Bahia!
Antonio Nunes de Souza*
Você quer água?
Tá com sede?
Olha, olha, olha a água mineral! Olha, olha, olha a água mineral!
Ao ouvir a Timbalada começar a cantar e tocar essa música, fiquei toda arrepiada e comecei a gritar, pular e cantar o refrão, parecendo que o demônio havia se apossado de mim, já que a emoção de ouvir qualquer banda baiana me tira do sério, me deixando completamente fora de mim.
Aliás, essa sensação era sentida por todos da multidão que acompanhava o bloco, vestida com lindos abadás coloridos, sendo uns mais decotados que outros, deixando aparecer às partes mais sensuais possíveis, que serviam para aliviar o calor e também chamar a atenção para eventuais agarrações carnavalescas. Lógico que procurei dar uma cortada bem profunda na blusa, para mostrar os meus volumosos e duros seios, na certeza que essa minha parte do corpo, além de provocante, é um verdadeiro chamariz de abraços e algumas mãos bobas. Mas, carnaval é carnaval e tudo isso faz parte daqueles dias do ano que mais nos liberamos e esquecemos alguns conceitos e preconceitos, nos dedicando as luxúrias e aos prazeres.
Sem que eu esperasse, senti aqueles braços fortes em volta da minha cintura, puxando-me para o meio e, ao mesmo tempo, como um relâmpago me tascou um beijo na boca que, mesmo sem saber de quem se tratava, retribuí as linguadas e as esfregações, deixando para depois saber se estava ou não fazendo um bom negócio. Pensei rápido imaginando o seguinte: Se for um cara legal não vou largar tão cedo, mas se não for, saio de baixo e faz de conta que foi minha caridade baiana no carnaval.
Depois de um beijo demorado, muitos empurrões e pulos dentro e fora do ritmo, o cara se afastou um pouco e pude ver que, embora ele não fosse essa beleza toda, agradava no geral para que pudéssemos nos divertir pelo menos temporariamente, até aparecer coisa melhor. Sabe como é: No começo pegamos o que aparece, depois passamos a selecionar e no final pedimos a Deus que apareça qualquer um. O importante é não terminar a noite no 0x0. Pois carnaval foi criado exatamente para que possamos fugir dos comportamentos usuais e dar vazão aos nossos instintos, colocando a culpa nessa festa sodomiana.
Não demorou muito o cara que nem seu nome disse, falou que ia buscar uma cerveja e evaporou na multidão deixando-me livre novamente para que eu pudesse azarar e ser azarada sem limitações. Olhei para os lados e muitas das minhas amigas já estavam acompanhadas, brincando, dançando e os beijos rolavam aos montes entre risos e abraços. Curiosamente, dentro do bloco parecia uma demonstração de respiração boca/boca, só que os participantes estavam mais vivos que nunca e só se largavam para tomar um gole de cerveja ou capeta e voltarem aos beijos babados e molhados, animados pelo enlouquecido batuque de Carlinhos Brawn e sua banda.
Logo passou outro cara louro de olhos azuis, bem branquelo com as bochechas vermelhas, usando sandálias e meias soquetes que, por ser tão desajeitado e fora do ritmo, notava-se logo que era um gringo turista. Mas, com todos esses pormenores horríveis, o cara era um gato pra ninguém botar defeito. Ele veio em minha direção, abriu os braços e eu que não sou besta, agarrei em sua cintura e começamos a pular. Enquanto eu cantava os pedaços da música que havia aprendido, ele somente dava gritos e sorria, pois não falava merda nenhuma de português.
-Você é estrangeiro?
- Nom fala brasilêro. Eu sê americano.
-Ah! Sim, Yes. Como é o seu nome, name?
- Peter Kenneth.
-My name is Kátia. I know to speak inglish litle.
-OK! My Love!
Dei uma risada pelo modo engraçado que ele falou e continuamos pulando agarradinhos acompanhando o ritmo e os passos do bloco que seguia do Farol para Ondina.
Como pintou um clima gostoso entre nós, ficamos juntos todo percurso, sempre aproveitando para umas boas pegadas, pois o gringo embora não soubesse dançar o axé, de sacanagem ele entendia muito bem por ser uma linguagem internacional que todo mundo sabe fazer sem precisar de professores.
Quando dei por mim já estávamos no fim do percurso, a Timbalada parou e, quando olhei em volta, não vi nenhuma das minhas amigas, estando somente eu e Peter. De momento não me preocupei, mas quando me lembrei que tinha deixado a bolsa em casa por causa de roubos e também não tinha a chave e o endereço anotado de onde estávamos hospedados fiquei em pânico sem saber o que fazer. Peter não falava nada, somente sorria e me dava cada beijo que, depois das bebidas que tomamos, me deixava excitadíssima e querendo mais.
Procurei as meninas, mas, nada de encontrar ninguém. Creio que cada uma seguiu sua vida e direção, já que a independência era e é uma tônica entre nós. Nada de controles e policiamentos, pois somos maiores e independentes, sendo nossos atos de nossa própria responsabilidade.
Senti que Peter estava a fim de me levar para o seu hotel e, como tinha rolado uma química legal, resolvi que iria ficar com ele.
Quatro horas da manhã, tomamos um táxi, chegamos ao hotel, subimos para o quarto e não deu outra: transamos até adormecermos pelos gozos e pelo cansaço.
Na manhã seguinte, quase meio dia, mesmo meio envergonhada, pedi a Peter um dinheiro emprestado para um táxi, explicando para ele através de palavras e gestos a razão de não estar com a bolsa. E ele gentilmente me deu R$ 50,00. Trocamos beijinhos e marcamos para nos encontrar logo mais a noite.
Mas, não sei se por não conhecer a cidade ou por falta de interesse, não encontrei mais com Peter e brinquei o carnaval com muita alegria, sempre aparecendo rapazes que pintavam, abraçavam beijavam, pulavam e sumiam na multidão, fazendo, de qualquer forma, que meu carnaval fosse alegre e feliz.
Voltamos todas comentando nossas aventuras e desventuras, rindo e nos divertindo com as estórias acontecidas.
Passados nove meses, não é que tive um menino lindo de olhos azuis!
Coloquei o nome de Peter Brawn em homenagem ao pai e a minha querida Timbalada.
Esse ano eu estou aqui de novo. Deixei meu pequeno Peter com minha mãe e vou ter o maior cuidado, mas, se o diabo atentar e eu me bater com um turista argentino e rolar uma menininha, vou botar o nome de Daniela Sangallo da La Passion.
Ah! Como é gostoso e maravilhoso esse carnaval da Bahia!

*Escritor e poeta (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com - antoniomanteiga.blogspot.com)

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