sexta-feira, 16 de julho de 2010

As pioneiras foram importantes!

As pioneiras foram importantes!
Antonio Nunes de Souza*

Ela era bonita, charmosa, corpo perfeito e branquinha como uma porcelana chinesa. Era o que todo homem chama de mulher gostosa. E, sabedora dessa sua condição, conquistava todos os homens que queria com a maior facilidade e não se fazia de difícil. Bastava ter um carro já levava 50% de vantagem para desfrutar daquela maravilhosa máquina humana.
As meninas que adoram carro eram chamadas de “Maria gasolina”, mas ela, por ser branquinha e gostar de ficar aberta encima de uma cama, seu apelido era Renata Lençol. Pois, quase todos os rapazes da faculdade já tinham forrado suas camas com a dita cuja.
As outras meninas nutriam uma puta inveja dela, mas, sempre cheias de pudores, faziam-se de difíceis e, mesmo naquela época, sexo já rolava solto, apenas com um procedimento mais discreto para evitar comentários. Ela não! Fazia o que queria e pouco estava se lixando para o que dissessem. O que queria mesmo era gozar a vida e aproveitar ao máximo as possibilidades que surgiam diariamente.
Ela tinha um comportamento típico dos homens, que se vangloriam de bocas cheias que já comeram centenas de mulheres, mostrando assim a sua masculinidade e condição de machão. Renata Lençol não deixava por menos e não escondia das colegas que transara com dezenas de caras e ainda, no barzinho da escola, ficava apontando para as colegas aqueles que eram melhores de cama e as deficiências de outros que lhe decepcionaram. Os olhares fixos e os ouvidos atentos, demonstravam claramente quanto elas tinham vontade de fazer a mesma coisa, mas, faltava coragem.
Ela, com a maior tranqüilidade dizia: Como posso escolher um homem para casar se não conhecer vários e sentir no meu corpo qual é o que será mais adaptável ao meu gosto e prazer?
Vocês quando vão escolher uma roupa na loja não experimentam várias para ver qual é a que melhor fica em seus corpos? Pois marido é a mesma coisa! Você vai usá-lo por bastante tempo (assim como a roupa) e é preciso que se ajuste bem no seu corpo e lhe faça feliz quando estiver lhe cobrindo.
-Você é doida, Rê! Falou uma das meninas, mostrando-se horrorizada com o que estava ouvindo.
-Doida uma zorra! Estou é vivendo minha vida com liberdade e os mesmos direitos que os homens sempre tiveram, e ás mulheres babacas, seguindo a regra idiota de que teríamos que ser virgens até o casamento, depois pegar um banana qualquer e ficar sem orgasmo o resto da vida ou ter que se separar por incompatibilidade de gênios que, na maioria das vezes, a incompatibilidade é de sexo. Pois, 90% dos problemas que acontecem em pé ou sentados, sempre se resolvem quando estamos deitados. A cama é a coisa mais metafísica que existe! Nela nós nascemos, crescemos, dormimos, sonhamos, amamos, sentimos prazer, vivemos e morremos. Então... como dividi-la com alguém que não conheço muitíssimo bem?
As meninas pararam pasmas com o que acabaram de ouvir, embora reconhecessem em Renata uma aluna estudiosa, não imaginavam que existia toda essa filosofia para justificar o que elas taxavam de mera putaria e libertinagem.
-Olhe, Rê, sabe de uma coisa? Você está certíssima em viver fazendo jus aos direitos iguais entre os seres humanos. Por que ficarmos passivas a julgamentos da sociedade, se ela mesmo diz que a mulher já conquistou o seu espaço e deve lutar por ele?
-Realmente Renata tem toda razão! Eu estou puta da vida de ter deixado de aproveitar todas as chances que apareceram, querendo bancar uma heroína de uma história que não existe mais.
Todas caíram numa gargalhada, pediram uma rodada de chope e brindaram com um grito, o desejo que estava reprimido nas suas gargantas e nos seus ventres:“Viva o sexo livre!”
Depois dessa explanação lógica, sábia e normal de Renata, o comportamento geral das meninas foram se adaptando a realidade dos tempos e, quando terminei o meu curso, a faculdade parecia a fabrica Santista de tantos lençóis que haviam a disposição.

*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com)

Nenhum comentário: