Antonio Nunes de Souza*
Muito
acima do peso, dentes proeminentes e usando óculos fundo de garrafa, ou seja,
gorda, dentuça e quatro olhos, sinceramente, torna-se um prato cheio no colégio
para seus colegas gozarem a vontade, colocar apelidos maldosos e tratar a
pessoa com desprezo constante. E, naquele tempo, não existia esse nome
americano bonito (bullying) para caracterizar o comportamento. Era uma montanha
de apelidos sacanas e depreciativos, sem o mínimo respeito humano pela aquela
menina de dezesseis anos apenas, e com outros, independentes das suas idades!
Na
verdade não existiam combates punitivos com relação a esse comportamento, já
que qualquer um que tivesse um diferencial qualquer (físico ou gestual) era logo
apelidado de alguma forma. Era uma característica dessa cidade do interior, que
é muito peculiar no norte/nordeste, onde esse comportamento faz parte dos seus
folclores!
Depois
de sofrer anos seguidos nas garras dos colegas sacanas e debochados, um dia, o
pai de Maria Rosa (esse era o seu nome), por ser funcionário público federal,
foi transferido através de uma boa promoção, para trabalhar em S. Paulo. Foi um
grande furor dentro da família, pois, com esse deslocamento inesperado, seus
vencimentos seriam quadruplicados e, pela sua capacidade técnica, ainda teria
uma série de benefícios complementares (casa, carro, plano de saúde especial,
além de outras coisas mais que são destinadas aos funcionários graduados dessa
bendita nação!
Como
teria o prazo de quinze dias para se apresentar, trataram todos de preparar
seus paninhos de bunda e, sem despedidas maiores, seguiram todos num vôo da TAM,
e os apetrechos num caminhão da King Transportadora. Chegaram e se aconchegaram
numa bonita e confortável casa num condomínio fechado e de alto gabarito,
deixando todos (os pais, Maria Rosa, o irmão Luiz e a empregada que eles
levaram por ser alguém que já estava com a família há mais de dez anos)
deslumbrados com a mudança radical de status!
Todos
se posicionaram em suas atividades e, Maria Rosa que era uma aluna exemplar,
matriculou-se em uma maravilhosa escola, começou a malhar diariamente, colocou
um aparelho ortodôntico para corrigir as arcadas dentárias e, para completar,
fez uma cirurgia oftalmológica, eliminando, categoricamente, a necessidade de
usar óculos. Abreviando o fato, é que depois de cinco anos, Rosinha (como era
chamada em casa), tornou-se uma mulher linda, charmosa, sensual e com o
semblante feliz que nunca foi visto durante a sua vida de discriminação na sua
cidade natal. Formou-se em jornalismo, fez um teste na Globo, e logo foi
escalada para apresentar um dos jornais, já com o pseudônimo sofisticado de
Rosana Rosenberg!
Com
um ano na Plim-Plim, namorou vários galãs, viajou por meio mundo fazendo
reportagens, e casou-se com um diretor de novelas, complementando a sua
realização de ter vencido uma série de adversidades, que jamais imaginou que
pudesse acontecer!
Porém,
nada disso adiantaria, se não fosse à oportunidade de voltar a sua cidade natal,
como uma mulher consagrada, vencedora e, acima de tudo, linda e desejada. Para
isso, preparou um projeto sobre o modismo atual do combate ao “bullying”, e
seguiu no jatinho particular global, chegando à cidade recebida com as maiores
honras. Fez seu trabalho, viu uma porção de gente, que no passado lhe
criticavam. Todos gordos, barrigudos, feios, idiotizados e com seus trejeitos
interioranos, aparecerem em sua frente, ainda com as manias de apelidos idiotas
e depreciativos. Sentiu pena de ver os olhares de inveja que dirigiam à ela!
O
fato é que riu muito intimamente, sentiu-se vingada e, no fim do dia, voltou
para sua maravilhosa vida em Sampa, não deixando de no íntimo, agradecer aquele
povo que, com seus comportamentos, lhe deram forças e coragem para dar uma
volta por cima, e transformar-se em uma outra pessoa!
Esse
fictício exemplo mostra, que quando queremos...também podemos. Jamais nos
acomodar e achar que não temos capacidade para realizar nossos sonhos. Lógico
que temos que enfrentar uma grande luta, porém, seja sempre guerreiro meu amigo
ou amiga. Se outros podem, vocês também podem, pois, não existem pessoas mais
especiais que vocês!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros Fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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