Antonio Nunes de Souza*
Desde
menina sempre tive um “jeitão” meio esquisito, um porte forte e mais masculino
que feminino. Minhas brincadeiras eram, normalmente, as dos meus amiguinhos, deixando
sempre as minhas bonecas de lado, estando diariamente, ligada ao jogo de
futebol, voley e basquete!
A
turma, como normalmente acontece, apelidou-me logo de “Paraíba”, baseando-se na
música “Paraíba masculina, mulher macho sim senhor”, que tanto sucesso fez na
minha infância e juventude, e até hoje é bastante lembrada! Sinceramente que
não me incomodava e estava tranquila com meus hábitos, achando apenas que o
meio dos meninos era mais agitado e as brincadeiras tinham mais ações e
diversões!
Fui
crescendo, estudando e concluindo meu curso secundário, sempre fazendo Judô e
outras artes marciais que, tranquilamente, me deram um corpo lindo e bem
malhado. Tornei-me uma moça belíssima, mesmo com meus tipos de esportes
praticados, não deixavam transparecer nenhuma masculinidade, apenas um corpo
super delineado!
Quando
ao meu apelido (paraíba), por não ligar e aceitar na brincadeira, acabaram se
esquecendo me chamando de Vera Lúcia, que é o meu nome verdadeiro!
Fiz
meu vestibular para Educação Física, já que era o que gostava e, logicamente,
passei entre os primeiros lugares, pois, nunca deixei de ser uma boa estudante.
Minha família fez uma festança como é costume quando um filho vence o
vestibular e, conscientemente, um amigo de meu irmão mais velho, veio como
convidado e fomos apresentados. Ele era, curiosamente, um dos responsáveis pelo
concurso de miss do Rio de Janeiro e, mais que depressa, me elogiou bastante e
convidou-me para concorrer a miss que representaria o Estado do Rio, para o
concurso de Miss Brasil. Lógico que fiquei surpresa, uma vez que jamais tinha
passado por minha cabeça a ideia de ser miss, ainda mais representando um
Estado. Mas, sou sincera, pois fiquei entusiasmada e, sem delongas, aceitei o
seu convite e marcamos para que eu fosse a sua agência, combinar os detalhes e
ver as reais possibilidades, para uma moça com apenas dezenove anos!
Resultado
é que fui, analisei os estatutos e contratos, vislumbrei o meu sucesso na
mídia, sendo que tudo isso me encantou profundamente, já sentindo-me uma
estrela. Fui a escolhida na triagem feita, desfilei entre vinte e uma outras
candidatas e fui aplaudida de pé pelo público e quase por unanimidade, pelos
jurados!
Depois
do concurso oficial, ocasião que consegui ser a Miss Rio de Janeiro, preparamos
nossos vestuários, equipe de cuidados corporais, maquiagens, cabelos, etc.,
fomos para Brasília onde seria a escolha de Miss Brasil.
Não
precisa dizer que ganhei entre as cinco finalistas e, posteriormente, fui a
vencedora do título com louvor!
Hoje
estou aqui em Nova Yorque, onde foi realizado o concurso final e,
incrivelmente, fui a vencedora, conquistando o título invejável de Miss
Universo! Além de uma série de prêmios, inclusive um lindo carro Mercedes Benz!
Esse
meu relato é para esclarecer que essa questão de Bullying (ou apelidos) não são
traumatizante entre jovens, parecendo mais que são as preocupações das mães,
que não aceitam brincadeiras de crianças, e colocam dramas nas mentes dos
jovens. Tudo leva a crer que não passa de um “modismo” idiota esse combate
assustador contra tolos apelidos. Sobre o comportamento meio masculino ou
feminino, não determina em nenhuma hipótese se esses jovens se tornarão
lésbicas ou gays no futuro. O importante é não escandalizar, criar problemas
que, fatalmente, traumatizam as crianças!
Curiosamente,
meu pai, desde criança, por ser muito chorão, foi apelidado de “manteiga
derretida”. Com o passar do tempo foi simplificado para apenas manteiga, que
permaneceu durante toda sua vida. E eu quando nasci, fui logo apelidado de
“manteiguinha”, posteriormente para Antonio manteiga, nome que carrego há 81
anos com o maior orgulho. Já meus filhos, uma pena, não foram abençoados com
nosso bendito apelido familiar!
Não
queiram que sejam apelidadas de “MÃES CORUJAS OU NEURÓTICAS”!
*Escritor-
Historiador, poeta!
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