Antonio Nunes de Souza*
Menino traquino, produto do nordeste, paraibano da gema, dançarino de baião e xote, além de ser o rei do xaxado, dança famosa como a espanhola “flamenca”, dessa região do nosso versátil Brasil!
Esse é o retrato perfeito do menino Mendonça, sempre tratado pelo sobrenome, já que seu pai, o velho Mendonça era conhecido como “enceradeira”, já que dançando fazia brilhar os salões e terreiros das festas sazonais! Obviamente, seu filho teve a quem sair, sendo a nova carrapeta festiva!
Como uma coisa normal e comum, Mendonça, sabendo que Itabuna era uma nova cidade e era o El Dourado do sul da Bahia, dinheiro aqui era tão abundante quanto a seca em sua terra, resolveu pegar sua malinha amarela de couro, amarrada com um velho cinto e, juntando seus panos de bunda, partiu em busca do futuro nas plagas grapiúna!
Meio desconfiado, coisa normal nos matutos, procurou uma pensão barata nas cercanias, se acomodou, descansou da viagem de quase 24 horas num velho ônibus e, dia seguinte, esperto como era, saiu a luta para arranjar um trampo que desse para as despesas, já que tinha trazido apenas uma merreca dada pelo pai e uma velha tia, que também era sua madrinha!
Por sorte, logo conseguiu um gancho numa oficina de computação, como uma espécie de faz tudo, mas, como era sagaz, em pouco tempo já estava fazendo alguns consertos, nos intervalos das entregas, que era mais a sua função. Inteligente, com um ano conseguiu dominar a profissão e, corajosamente, resolveu abrir sua própria oficina, arranjou um ajudante baixinho, porém, eficiente, começando assim a sua nova função de empreendedor, quase com a cara e a coragem!
O fato é que Mendonça, batalhando muito e demonstrando ser qualitativo em seus serviços, foi crescendo, desenvolvendo, tornando-se um técnico de ponta, respeitado na cidade e, como consequência, a grana ia entrando e ele logo comprou um carrinho e passou a frequentar os bailes, onde ele se exibia miraculosamente, dando seus frenéticos passos e rebolados nos ritmos nordestinos, deixando as mulheres se babando pelo maravilhoso Fred Astaire paraibano!
Com essas suas habilidades, um carrinho, boa pinta e alguma grana, não tardou comer uma fatia grande mulheres, sendo até disputado nas festas, quem dançaria mais com ele durante a noite. E foi aí que aconteceu o pior, pois, a filha do prefeito, (homem brabo, prepotente, ignorante e rico cheio de poderes), se apaixonou por Mendonça, já apelidado de “Nureyev” em alusão ao famoso bailarino russo!
Começaram a namorar escondido e, como a moça que se chamava Lila, ficou com os quatro pneus arriados, logo deu mole e Mendonça não deixou para amanhã, passando a rola na donzela sem dó nem piedade, transformando a menina de 16 anos em mulher!
Bancando o “come quieto” transando sempre tranquilamente, até que um dia, estavam os dois dentro do carro na Beira Rio, no maior fodistério, e o pai de Lila passou e de longe, vislumbrou o rosto da filha e uma bunda de homem subindo e descendo. Mandou seu motorista dublê de jagunço fazer a volta, encostando ao lado, e a cena que viu lhe deixou alucinado. Saltou, bateu no teto do carro, fazendo Mendonça dar o maior pulo para o lado, eles completamente nus. O prefeito pegou seu revólver e apontando para Mendonça falou: Você sua vagabunda, vista a roupa, entre no meu carro que em casa vamos conversar. E você seu filho da puta aproveitador de uma menina menor de idade, vai dançar xaxado nu pela rua. E, ao mesmo tempo, começou a dar tiros nos pés de Mendonça que, se cagando de medo, dizia: Não atire não doutor, eu peço perdão, eu caso com ela!
Resultado é que o prefeito tomou a chave do carro, entrou, mandou o jagunço seguir para sua casa levando a filha toda chorosa e, com as roupas de Mendonça dentro, seguiu para casa deixando ele nu, isso as 20 horas!
Ele coitado saiu correndo para a Praça Adami, pegou um táxi, alegando que foi assaltado para justificar estar nu, e foi direto para casa, atordoado pela merda que tinha acontecido, exatamente na hora que ia gozar!
Dia seguinte, o prefeito mais calmo, ouviu os conselhos da mulher e resolveram fazer o casamento dos dois. Foi uma maior festança, mataram dois bois, um porco, perus e o prefeito mandou buscar o Trio Nordestino e a Banda Avião do Forró para o baile e, magistralmente, Mendonça e Lila deram o maior show de dança para os convidados!
Hoje o menino Mendonça fez curso universitário é um empresário bem sucedido, e tem quatro filhos com sua querida Lila. Mas, escapou por pouco, pois, seu sogro por um triz não lhe matou!
*Escritor –Historiador- Membro da Academia Grapiúna de Letras-Agral-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogsport.com
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