terça-feira, 6 de agosto de 2019

VIDA DE INTERNATO!

Antonio Nunes de Souza*

Sendo hoje uma adulta e mãe de duas filhas, mesmo morando em uma minúscula cidadezinha do interior, onde os estudos são frágeis e poucos, não, de forma nenhuma, enviarei minhas filhas para uma cidade maior, ou para a capital, tendo que deixa-las, em função das idades, morando em internato. Refiro-me a esses colégios ainda comuns, para atender aos alunos que não tem parentes no local!
Esse meu posicionamento prende-se as minhas desagradáveis experiências que, na época, eu até adora e acha tudo uma maravilha e novidade para mim. Vou ser bastante sincera, para deixe registrado para outras pessoas o que acontece, normalmente, nos bastidores de um internato:
Fui para Salvador com quinze anos e fiquei no Internato Nossa Senhora da Paz. Tudo muito bonito, as Freiras bem educadas e bondosas, uma edificação enorme, que, segundo a Madre Superiora, podia acomodar trezentos alunos, de ambos os sexos. Eram dois pavilhões, sendo um para meninas e o outro para meninos.
Meus pais acertaram tudo, pagaram o enxoval que era fornecido pelo colégio, se despediram de mim com lágrimas nos olhos e eu, toda assanhada, estava adorando essa vinda para uma capital.
Começaram as aulas, tudo muito bem, estudos, bancas, missas, brincadeiras, esportes, alimentação nas horas certas, merendas, etc., nos quartos ficávamos duas em cada cômodo, numa fileira enorme de pequenos quartos bem limpos e arrumados, todos com móveis iguais e pintados de rosa claro. Nos aposentos dos meninos, assim como tudo, era igual, porém as cores eram azuis.
Com o passar dos dias fui descobrindo aos poucos, que haviam freiras lésbicas que, nas caladas das noites, levavam uma das meninas para os seus quartos e, tranquilamente transavam sexualmente, entre beijos e abraços. Em princípio fiquei sobressaltada, pois, para mim, essa experiência era novíssima. Juro que torci para que uma delas me pegasse um dia. E não foi que, uma noite Irma Margarida veio me buscar enquanto minha colega dormia, alegando que estaria me levando para uma oratória noturna. Eu, já esperta e sabendo da coisa, fui toda assanhada e alegre para saber como era a tal reza!
Chegando no quarto dela, luz apagada, somente entrava a claridade do luar pela janela e, na penumbra, ela sem pestanejar, me abraçou e deu uma grande beijo na minha boca.
Eu, tranquilamente, correspondi, ao tempo de ela tirava as nossa roupas e, carinhosamente, montou seu corpo sobre o meu, esfregando nossos sexos numa massagem gostosa que, em alguns minutos, estávamos as duas gosando deliciosamente.
Depois dessa “oratória sexual”, voltei para meu quarto, me lavei e deitei para dormir, porém, bastante tensa e eufórica pela aventura ocorrida, quem disse que consegui dormir?
Fiquei acordada até de manhã, ainda sentindo o ótimo orgasmo da noite e, por incrível que pareça, já estava doida que Irmã Margarida voltasse na noite seguinte. Entretanto, infelizmente não aconteceu, e me deixou frustrada.
Como eu achei a experiência maravilhosa, passei a tentar seduzir minha companheira de quarto que chamava-se Celina. Aí quando eu comecei a lhe fazer algumas carícias disfarçadamente, ela, sem nenhuma vergonha me disse: Eu já fui ao quarto de Irmã Margarida, e você foi?
Eu caí na gargalhada, que era o sinal de “sim”. Então... sem nenhuma vergonha me disse: vamos nos duas nos amar? Com essa proposta eu, rapidamente, pelo meu desejo refreado, beijei a sua boca com sofreguidão, já debruçando-me sobre ela mesmo estando as duas vestidas com pijamas. Mas, ficarmos nuas foi num instante. Porta trancada, desejos aflorados, nós duas bastante jovens, botamos as aranhas para brigar, até sentir as vibrações dos corpos indicando o gozo.
Daí pra frente, passamos a dispensar a Irmã Margarida, sempre dando desculpas, até que ela parou de aparecer. Aí foi a sopa no mel! Todas as noites eu e Celina tranzavámos tranquilamente, chegando a dormir, muitas vezes, na mesma cama, agarradas uma na outra. Estávamos completamente viciadas!
Terminado o ano, voltei para as férias na minha cidade, morrendo de saudades de Celina, pois ela morava em Itabuna e eu em Gandú. Porém, como sempre a gente se comunicava por telefone, ela me convidou para passar uns dias em sua casa. Meus pais deixaram prontamente, me colocam no ónibus e eu segui.
Lá chegando foi uma festa, fui abençoadamente colocada no quarto de Celina e, não deu outra: Foi a maior apegação, principalmente pela nossa secura e saudades. Foram quinze dias de amor que, no dia da volta, saímos as duas chorando, e seus pais elogiando a grande amizade, inocentes de que nós éramos amantes. Ficamos de nos encontrar no colégio no mês seguinte!

Infelizmente, quando cheguei em casa, encontrei meus pais bastantes tristes, pois, mediante a situação do cacau com a praga da “vassoura de bruxa”, doença terrível, ele não poderia mais me manter no internato, e que eu teria que ficar em Gandú, até que a situação melhorasse. Aquilo me deixou super debilitada, pois, não concebia a ideia de não mais estar com meu amor, que era Celina!
Com o tempo, fui esquecendo do meu vício lesbiano, até que arranjei um namorado interessante que, literalmente, me levou para a normalidade sexual. Com algumas poucos ligações telefônicas com Celina a coisa foi esfriando, terminando por acabar e nunca mais soube notícias dela.
Resolvi contar essa odisseia que aconteceu comigo, para que sirva de informação para os pais, pois, lamentavelmente essas coisas acontecem normalmente em internatos, inclusive, na ala dos alunos, falava-se que os padres faziam as mesmas coisas com os meninos, muitos saindo de lá como verdadeiros passivos e ativos homossexuais!

*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com


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