segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A BALADA DE REGININHA!


                                                                                   Antonio Nunes de Souza*


-Você vai ao baile funk hoje Luiza?
-Com certeza, mana! Você acha que vou ficar de fora nessa balada muito “loka”, com Quebra Barraco bombando no pedaço?
-Pô, vai ser a maior zueira e a galera vai ficar muito doida! Preciso arranjar uma desculpa muito firme com os coroas, pois saí a semana toda e a patrulha tá tudo de cara amarrada pegando no meu pé.
-Qualé otária! Diz que vai dormir lá em casa porque vamos fazer uma prova fera amanhã e vamos estudar até tarde. Quando se fala que é para estudar eles abrem a guarda.
-Caracas! Você, além de ter a sorte de morar sozinha com seu pai que é super liberal, ainda é espertíssima para arquitetar as maiores tramas pela liberdade.
Armado o esquema, mesmo com a desconfiança de sempre, os pais de Regininha permitiram que ela fosse dormir na casa de Luiza, embora essa desculpa já tivesse sido usada em outras ocasiões sendo mentira e, algumas poucas vezes, como verdade.
Regininha saiu para sua escola, que era noturna, levando nas costas a sacola recheada com roupas apropriadas para não fazer feio quando chegasse no “Tigrão das Cachorras”, clube onde se apresentaria além de Quebra barraco, mais uma meia dúzia MCs, DJs e as porras mais. Tudo indicava que seria mais uma longa noite de loucura, apelidada pela muito doida juventude, simplesmente de balada muito irada.
Lá se encontrou com Luiza e não ficaram nem para as duas últimas aulas, pois estavam tão frenéticas e excitadas, que queriam logo colocar suas minúsculas indumentárias, babilaques, pinturas, dar um trato nos cabelos e seja lá o que Deus quiser.
E assim foi feito. Regininha colocou uma micro saia que, mesmo bem abaixo da virilha, aparecendo àquela penugem que dá uma tesão terrível nos homens, distanciava dos joelhos mais de um palmo, deixando que fosse vista sua calcinha preta tamanho molecular, com o mínimo movimento que ela fizesse. Seu corpete cobria apenas um terço dos seus peitinhos lindos e empinados, deixando a barriguinha de fora com aquele umbiguinho profundo e sedutor como se fosse um olho piscando quando ela se movimentava, convidando os gatos para agarra-la pela cintura. Além de tudo isso, colocou três piecings em cada orelha e um no nariz, se olhou no espelho achando-se linda, borrifou perfume nas axilas e no corpo, pegou Luiza pela mão e seguiram as duas para enfrentar uma noite de curtição.
Ambas eram bonitas e Luiza não deixou por menos no seu visual. Mandou ver como manda o figurino, ficando uma perfeita “cachorrona” pra dominar o pedaço e ficar numa boa.
Quando entraram no salão, a zorra estava lotada e todos, freneticamente, dançavam e cantavam o hit do momento: Se ela dança eu danço, se ela dança eu danço...
Aí, elas não perderam tempo, entraram na primeira fila que passou, exatamente aquela que tudo mundo vai se esfregando mais do sabão na mão de lavadeira em beira de rio. O trenzinho era gigantesco e ia cortando o salão entre apertos e empurrões, deixando todos alegres e excitados pelos contatos e agarrações.
Não sei de onde, surgiram dois caras sarados e vestidos também a caráter para o ambiente, ofereceram uma bebida para elas, que não se fizeram de rogadas e tomaram de uma talagada só. Então, quando o DJ soltou lá de cima a música “Poderoooosa”, não deu outra. Começou a beijação, mão naquilo, aquilo na mão, esfregação de bundinha e o diabo começou a tomar conta da galera e ninguém era mais de ninguém. O cheiro azedo de suor misturado com os perfumes de terceira, aliados ao jogo de luzes apagando e acendendo e o aroma de mato queimado, davam a impressão que o cavernoso ambiente, fosse aquilo que imaginamos ser o inferno comemorando carnaval ou aniversário de Lúcifer. Quem estava menos doido se desse três passos, tropeçava quatro.
E a balada não parava não! Todos gritando, cantando e gemendo, mesmo já estando pra lá de Bagdá, ainda contavam com a presença de Quebra Barraco, (a Madona do morro), que fecharia a noite com chave de ouro.
Nesse momento, uma briga daquelas que começa com dois e vai envolvendo todos, começou a deslanchar pelo grande salão, voando copos, cadeiras, garrafas, tênis e o que tivessem pela frente e, de repente, ouviu-se dois estampidos característicos de arma de fogo, vindos não sei de onde, indo um deles alojar-se bem na testa de Regininha, que caiu imediatamente sem ter tempo nem de fechar os olhos.
Todo mundo saiu em disparada, deixando o salão vazio em menos de dois minutos, ficando apenas Luiza que, sentada no chão ao lado do corpo da amiga, chorava copiosamente pela desgraça ocorrida.
Pobre Regininha. Foi para a balada e morreu baleada!

*Escritor-Membro de academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com

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