segunda-feira, 2 de maio de 2016

Uma cena Felliniana!

Antonio Nunes de Souza*

Devido comentários descabidos que, lamentavelmente, ouvimos e vemos no nosso dia-a-dia, como observador e imaginação fértil para dar toques e nuances hilárias, resolvi escrever esse texto onde retrato uma situação que está ocorrendo de uns anos para cá, com tendências a continuar e, certamente, será ampliada cada vez mais!
Estava em um supermercado dos mais chiques da cidade e ouvi, com alto e bom tom: - Stefanny Greicy pegue na mão de seu irmão Uoston Bruce que já vamos para a escola de ballet pegar sua irmã Pavillowa!
Olhei para a figura, uma afro descendente com roupas e trejeitos suburbanos que, empurrando um carro cheio de compras, em uma das mãos levava um celular dos mais modernos, juntamente com uma penca de chaves brilhantes que podia-se ver que era de um carro novo. Lógico que me deu vontade de rir por duas razões. Primeiro pela pompa e orgulho que ela falava com o ar de felicidade e outra por estar presenciando um fato completamente inusitado e jamais visto anteriormente, com as administrações públicas passadas, deixando-me cheio de alegrias por ver de perto como o povo está sendo prestigiado e tratado como gente. E, mesmo sendo uma cena rápida, quando olhei para o outro lado, pude ver dois casais de “riquinhos sociais”, que cochichavam meio alto: Você vê que neguinha pernóstica, tudo por culpa da Princesa Isabel! Caíram todos numa gargalhada deixando nos seus rostos o ódio e despeito por estarem no mesmo mercado misturados com os massacrados pobres do passado que, ainda por cima, usando os sofisticados nomes da moda, inclusive iguais aos dos seus intocáveis filhos!
Continuei a minha peregrinação pelas prateleiras selecionando minhas compras, matutando e rindo internamente com o ocorrido mas, por ironia do destino, quando me dirigi ao caixa, lá estava a suburbana emergente com sua sofisticada prole e, por uma casualidade divina, os casais de riquinhos estavam logo atrás na fila, com seus carros mais modestos que ao da criatura e, esbugalharam os olhos quando viram Carne Friboi, queijo, presunto e outras iguarias que eles tem pena de consumir, pois preferem juntar dinheiro para adquirir mais propriedades. E quase desmaiaram quando o mulher gritou para Uoston: Largue esse Ipode menino, quando chegar em casa você pega seu “notebook” e conversa com seus amiguinhos Ted e Frank!
Nesse momento, não pude conter uma forte gargalhada (olhando para o outro lado), quando vi a expressão de ódio e inveja que estampava nos rostos dois casais que, em represália, foram para outro caixa, deixando o rastro da sua condenação e revolta! Ainda tive tempo de ouvir o comentário mortal entre eles: Tudo isso é culpa do Lula e da Dilma. Esse povo era para estar em nossa cozinha! Ouvi com desdenho tal absurdo e o mais que pude fazer foi, mentalmente, chamá-los de “filhos da puta”!
Achei genial testemunhar essa melhoria de classe social do povo, tendo acesso as tecnologias, alimentos, escolas, etc., ainda sofrendo com a saúde, segurança e outras coisas básicas, porém não se pode resolver tudo magicamente. Somente Deus conseguiu fazer um mundo maravilhoso em sete dias, mas, se tivesse Ele uma série de políticos lhe cercando, certamente, até hoje estaria se batendo para acertar as coisas!
Terminando minha crônica, não posso deixar de imaginar como são tratados e chamados os filhos dessa senhora no condomínio popular e na escola:
Uoston= Ostinho – Stefanny = Faninha – Pavillowa = Pavinha.                                                   Genial tudo isso, que representa uma mudança radical no comportamento humano em termos de equilíbrio social!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras de Itabuna – antoniodaagral26@hotmail.com


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