Antonio
Nunes de Souza*
Sintetizarei
a minha chegada a S. Amaro, que foi em função da separação dos meus pais e, com
5 anos e meu irmão com 7, ficamos sobre a guarda do meu pai que, por sua
família ser toda do recôncavo, nos mandou para sermos criados por tios, avós,
etc., assim, partimos de Itabuna!
Morei
lá por 18 anos onde estudei, fiz meu primário, ginásio alguns anos no Theodoro
Sampaio e, entre meus 15 a 17 anos, como acontece com a maioria dos jovens
adolescentes, apaixonei-me pela primeira vez. O interessante é que,
curiosamente, não era uma coisa recíproca, apenas do meu lado existia essa
simpatia e afetividade, pois, sendo ela uma florzinha da mais alta sociedade,
filha de doutor (na época, doutor e filhos de doutores eram pessoas especiais).
E eu, mesmo meu pai sendo um homem de posses em Itabuna, além dele não ter
certificados, eu morava, modestamente, com meus parentes de classe média baixa,
que todos se aceitavam na cidade, porém, os preconceitos velados eram percebidos
pelos até, menos inteligentes. E eu sentia isso na pele, porém sorrindo e
encarando com naturalidade esses e outros detalhes, levava minha vidinha,
sentindo na carne essa tolice (ainda existente no mundo), que faz parte da
hipocrisia social!
A
minha curiosa e surda paixão chamava-se Dora, com sobre nome Pedreira, que era
exatamente essa pedreira em nosso caminho, além de grande, forte, pesada,
deixava indícios de: intransponível! Lembro-me ainda de momentos que me faziam
morrer de dores e inveja, quando a via passeando ou sentada na praça na porta
de doutor Paiva, namorando com um preto cheio de bossa, estilo indiano com
cabelos lisos. Um tipo nada tão bonito, mas, um tanto exótico e com boa cotação
feminina, inclusive um pouco mais velho que nós. Chamava-se Sérgio, com seu
cabelo vaselinado, lógico que ele me enchia de inveja, ampliando o meu desejo
secreto, na esperança de um dia tê-la em meus braços também. Passado algum
tempo, esse namoro acabou e ela foi estudar nas Irmãs Sacramentinas em Salvador,
vindo a S. Amaro nas folgas maiores e nas férias.
Nessa
ocasião minha querida e inesquecível amiga Dulce, moradora do Largo da Cruz,
ficava sentada, diariamente, num banco do jardim da sua casa e, minha paixão
desenfreada, como amiga, sempre ia para lá no fim da tarde, onde sentadas
ficavam observando o movimento e conversando as novidades de Salvador e de S.
Amaro. Eu, sabendo dessa oportunidade, procurei passar por lá já no horário
conhecido, as vezes parava para ouvir Alfredo Dias tocar piano e cantar músicas
italianas. Mas, na verdade, meu pretexto maior era estar vendo Dora de perto,
admirando sua beleza que, mesmo sem ter nada de especial, me deixava
completamente louco e realizado, por tão pouco aproveitamento.
Não
sei como, não consigo recordar, talvez com a organização e estímulo de Dulce,
começamos um namorico, completamente ridículo, mesmo para a época, pois era
reduzido a troca de olhares, cumprimentos e nem me lembro se chegamos a nos
abraçar alguma vez. Nunca esqueci que o único beijo que demos foi uma bicota na
porta de Padre Fenelon que, inclusive, batemos os dentes meus e dela. Isso me
deixou numa alegria imensa e uma aventura que jamais esperava acontecer!
Algumas
pouca vezes fui a Salvador e ia encontrar-me na saída do colégio, ia em pé ao
seu lado no onibus, pequenos toques nas mãos, sem nada falarmos, somente quando
ela saltava, dava um sorriso de despedida. Mas, para mim, na minha juventude,
aquilo representava uma conquista que, algum tempo, parecia inalcançável.
Então,
como era de se esperar a coisa foi esfriando de tal forma, que terminou
completamente, ficando apenas essa série de lembranças, das muitas vezes que eu
tomava meu banho, vestia minhas roupinhas mais bonitinhas e, com Chico Motta ou
Zidálio (Cegonha), íamos pela beira do rio, dobrávamos o sobrado de Squetinne e
voltávamos pela rua do Imperador para que pudesse vê-la sentada na porta de
Grimbaldo. Esse boa tarde era para mim um bálsamo de amor e carinho que essa
mulher enfeitou, não minha vida, mas, meus pensamentos e minha mente
fantasiosa!
Com
o passar do tempo, apareceu um italiano chamado Gino que a conquistou com a
aprovação da sua família e eu, já sem esperanças, ainda sentia calafrios ao
vê-la montada na lambreta (veículo da moda) segurando na cintura do italiano privilegiado.
Fui
para Salvador, nos perdemos de visita e, posteriormente, vim morar em Itabuna,
estando aqui há 50 anos, Onde casei-me, tenho dois lindos filhos, divorciei-me
na maior amizade, sem brigas ou transtornos, moro sozinho e, repentinamente,
olhe quem reaparece em minha frente: Dora Pedreira!
Juro
que adorei reencontrá-la, mesmo virtualmente, pois, como podem ver acima, essa
mulher teve grandes significações em minha vida!
Creio
que ela jamais imaginou e ficará surpresa, que foi tão amada e admirada e por
tanto tempo! Suponho, ou tenho quase certeza, que tudo isso foi unilateral!
Mas, uma boa lembrança!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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