sexta-feira, 20 de maio de 2016

Armadilhas da vida!

Antonio Nunes de Souza*

Devemos estar sempre preparados para os acidentes de percursos que acontecem em nossa vidas. Se são acidentes, logicamente, nos pegam de surpresas e, materialmente ou sentimentalmente, ou as duas coisas em conjunto, aparecem em nossos caminhos, com os mais belos e agradáveis deslumbres!
E foi exatamente um desses fatos que, rapidamente, mudou a vida de Getúlio, homem de boa estirpe, estudioso, trabalhador, comportado, educado e, para completar, gerente financeiro de uma multinacional importante, operando dentro da sua formação de economista. Nota-se, claramente, que estamos falando de alguém raro de se encontrar nas nossas andanças do cotidiano. Solteiro, tinha umas namoradas eventuais, porém, nunca nenhuma que lhe tentou para pensar em casamento!
Morando sozinho em seu próprio apartamento bem decorado, já que seus pais viviam em outro estado e no interior, fazia de sua morada um ambiente propício para se reunir eventualmente com seus poucos e seletos amigos, para uma noitada sadia de queijos e vinhos e ouvir vendo no telão boas músicas nacionais e internacionais. Uma vida de meter inveja a qualquer vivente terráqueo!
Um dia, daqueles que o diabo está solto e louco para fazer uma “sacanagem”, Getúlio vai ao supermercado fazer as suas compras básicas e, ao se aproximar da prateleira das frutas, esbarrou com uma moça belíssima, trajando uma bermuda sumária, uma blusa decotada e amarrada na cintura, cabelos muito bem desarrumados dentro da moda que, mais parecia um manequim, que um ser vivo. E o gozado é que ela era as duas coisas: manequim e vivíssima! Pediu desculpas, ajudou a apanhar as frutas que caíram e, durante esse mágico minuto, trocaram olhares, sorrisos e se apresentaram. Tudo indicando que estava havendo uma simpatia mútua, que, fatalmente, daria em alguma coisa mais promissora. Curiosamente ele não tinha lista do que desejava, nem tão pouco ela. Gostavam de ir vagando olhando as prateleiras e separando o que desse vontade. Riram até dessa similaridade e viram que tinham algo em comum. Assim, seguiram juntos, caminhando e conversando, fizeram as compras, trocaram telefone e, como era de se esperar, combinaram se ligarem para se encontrarem!
Getúlio saiu sorridente, deu uma carona para Rebeca (esse era o seu nome), que morava na sua região, despedindo-se com o tradicional beijinho na face, como fazem os jovens e pessoas educadas nos dias atuais.
Passados três dias, Rodrigo cheio de tesão e simpatia por Rebeca, não se conteve e terminou ligando convidando-a para jantar e bater um papo agradável, assim poderiam se conhecer melhor, além de matar a saudade! Ela riu quando ele falou que já sentia saudade, mas, era uma realidade. Uma mulher daquela não se encontra em supermercado, estaria muito mais apropriado ela estar numa casa de joias!
Ela aceitou o convite, saíram jantaram num restaurante da moda, tomaram vinho de boa safra, conversaram sobre detalhes de suas vidas. Ele sobre seu trabalho e empresa, ela sobre as viagens que tinha feito durante seus desfiles no Brasil e no exterior. Mas, por alguns problemas, havia parado temporariamente, ou talvez, completamente, para cuidar da sua formação em enfermagem!
O fato é que esse encontro casual se transformou num namoro e, com um mês, já estavam morando juntos, logicamente, uma decisão bem maior da parte de Getúlio, bastante envolvido no tal amor e paixão! Ela, mulher jovem, mas, muito experiente em função do seu trabalho na moda e suas viagens internacionais, acatou sem cerimônia, pois, ao que parece, também estava envolvida sentimentalmente com seu querido e novo par. Ela tinha um defeito ou, quem sabe, uma virtude de ser super “dondoca”, vestir-se muito bem, perfumes caros, jantares especiais, bebidas finas, viagens nos fins de semana para locais paradisíacos, salão de beleza, academia, enfim, tudo que nós todos desejamos e os nossos bolsos pouco permitem! Mas, para ela esse era um problema do seu parceiro e não dela!
Rodrigo já, literalmente apaixonado, Gastava os olhos da cara para ver sua amada sorrindo e feliz. E assim fazendo, era gratificado com beijos e abraços nas iniciações das sessões de sexo sem limites. Com esses prazeres da luxúria, esquecia completamente que estava se endividando completamente fora da sua realidade financeira. Mas, para satisfazer e não perder a sua amada, nem pedia parcimônia e nem deixava de atendê-la. Já com um ano nessa vida nababesca e lua de mel constante, viu Getúlio que suas contas de cheques especiais, cartões, etc., estavam todos no vermelho. E ele ficou branco de desespero e agonia, vindo a mente o plano A, que era se desfazer da sua querida, coisa impossível pelo envolvimento e, o plano B que era fazer umas retiradas, ou pedaladas, termo usado atualmente, no caixa da empresa, que depois iria cobrindo, sagazmente, aos poucos! Sua tesão pecaminosa e sem freios, optou pelo plano B, já que era responsável pelas finanças, seria fácil disfarçar as furtivas retiradas.
Então, já com sua determinação oficializada, sem querer mostrar fraqueza a sua amada, continuou por mais seis meses nessa vida agitada e gostosa, ao lado de sua gostosíssima Rebeca, que não queria nem saber de onde vinha a grana, apenas desfrutar seus momentos e desejos.
Até que um dia, inesperadamente, veio uma equipe de auditores da matriz e, pegou Getúlio com a boca na botija, com um rombo no caixa bastante elevado, afastando-o da função e, automaticamente, fazendo uma queixa na polícia, que o prendeu imediatamente, sem nem direito a fiança. Rebeca foi notificada, foi a delegacia, prestou seu depoimento alegando nada saber e, estranhamente, depois de liberada, pediu para falar com Getúlio alguns minutos e foi atendida pelo delegado de plantão. Falou do seu sentimento, disse que achou que ele tinha condições, já que nunca reclamou nada, completando disse que estava indo para S. Paulo para casa de uns parentes e que voltaria breve! Ele, completamente chocado e envergonhado, apenas assentiu e nada falou sobre a continuidade do romance, já que as possibilidades eram, completamente, remotas!
Para encurtar, Rebeca nunca mais deu notícias, Getúlio teve que vender o apartamento e o carro para cobrir parte do desfalque, foi cadastrado no SPC e Serasa pelos credores, perdeu as. contas bancárias, o emprego e os amigos de festejos que nessas horas tiram o corpo de banda.
Deprimido e frustrado pela idiotice que havia cometido, novamente fez outra pior: Cometeu o suicídio, jogando-se na frente de um caminhão que, sem poder evitar, lhe esmagou a cabeça. Deixou uma carta para o jornal principal da cidade contando a sua triste história!
Esse foi seu último vacilo e pecado, pois, no outro dia na página policial estava estampada em letras garrafais a seguinte manchete: “Estelionatário por causa de um bom rabo, perde a cabeça”!

*Escritor – Membro da academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com

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