Antonio
Nunes de Souza*
Devemos estar sempre preparados para os
acidentes de percursos que acontecem em nossa vidas. Se são acidentes,
logicamente, nos pegam de surpresas e, materialmente ou sentimentalmente, ou as
duas coisas em conjunto, aparecem em nossos caminhos, com os mais belos e
agradáveis deslumbres!
E foi exatamente um desses fatos que,
rapidamente, mudou a vida de Getúlio, homem de boa estirpe, estudioso,
trabalhador, comportado, educado e, para completar, gerente financeiro de uma
multinacional importante, operando dentro da sua formação de economista.
Nota-se, claramente, que estamos falando de alguém raro de se encontrar nas
nossas andanças do cotidiano. Solteiro, tinha umas namoradas eventuais, porém,
nunca nenhuma que lhe tentou para pensar em casamento!
Morando sozinho em seu próprio apartamento
bem decorado, já que seus pais viviam em outro estado e no interior, fazia de
sua morada um ambiente propício para se reunir eventualmente com seus poucos e
seletos amigos, para uma noitada sadia de queijos e vinhos e ouvir vendo no
telão boas músicas nacionais e internacionais. Uma vida de meter inveja a
qualquer vivente terráqueo!
Um dia, daqueles que o diabo está solto e
louco para fazer uma “sacanagem”, Getúlio vai ao supermercado fazer as suas
compras básicas e, ao se aproximar da prateleira das frutas, esbarrou com uma
moça belíssima, trajando uma bermuda sumária, uma blusa decotada e amarrada na
cintura, cabelos muito bem desarrumados dentro da moda que, mais parecia um
manequim, que um ser vivo. E o gozado é que ela era as duas coisas: manequim e
vivíssima! Pediu desculpas, ajudou a apanhar as frutas que caíram e, durante
esse mágico minuto, trocaram olhares, sorrisos e se apresentaram. Tudo
indicando que estava havendo uma simpatia mútua, que, fatalmente, daria em
alguma coisa mais promissora. Curiosamente ele não tinha lista do que desejava,
nem tão pouco ela. Gostavam de ir vagando olhando as prateleiras e separando o
que desse vontade. Riram até dessa similaridade e viram que tinham algo em
comum. Assim, seguiram juntos, caminhando e conversando, fizeram as compras,
trocaram telefone e, como era de se esperar, combinaram se ligarem para se
encontrarem!
Getúlio saiu sorridente, deu uma carona para
Rebeca (esse era o seu nome), que morava na sua região, despedindo-se com o
tradicional beijinho na face, como fazem os jovens e pessoas educadas nos dias
atuais.
Passados três dias, Rodrigo cheio de tesão e
simpatia por Rebeca, não se conteve e terminou ligando convidando-a para jantar
e bater um papo agradável, assim poderiam se conhecer melhor, além de matar a
saudade! Ela riu quando ele falou que já sentia saudade, mas, era uma
realidade. Uma mulher daquela não se encontra em supermercado, estaria muito
mais apropriado ela estar numa casa de joias!
Ela aceitou o convite, saíram jantaram num
restaurante da moda, tomaram vinho de boa safra, conversaram sobre detalhes de
suas vidas. Ele sobre seu trabalho e empresa, ela sobre as viagens que tinha
feito durante seus desfiles no Brasil e no exterior. Mas, por alguns problemas,
havia parado temporariamente, ou talvez, completamente, para cuidar da sua
formação em enfermagem!
O fato é que esse encontro casual se
transformou num namoro e, com um mês, já estavam morando juntos, logicamente,
uma decisão bem maior da parte de Getúlio, bastante envolvido no tal amor e
paixão! Ela, mulher jovem, mas, muito experiente em função do seu trabalho na
moda e suas viagens internacionais, acatou sem cerimônia, pois, ao que parece,
também estava envolvida sentimentalmente com seu querido e novo par. Ela tinha
um defeito ou, quem sabe, uma virtude de ser super “dondoca”, vestir-se muito
bem, perfumes caros, jantares especiais, bebidas finas, viagens nos fins de
semana para locais paradisíacos, salão de beleza, academia, enfim, tudo que nós
todos desejamos e os nossos bolsos pouco permitem! Mas, para ela esse era um
problema do seu parceiro e não dela!
Rodrigo já, literalmente apaixonado, Gastava
os olhos da cara para ver sua amada sorrindo e feliz. E assim fazendo, era
gratificado com beijos e abraços nas iniciações das sessões de sexo sem
limites. Com esses prazeres da luxúria, esquecia completamente que estava se
endividando completamente fora da sua realidade financeira. Mas, para
satisfazer e não perder a sua amada, nem pedia parcimônia e nem deixava de
atendê-la. Já com um ano nessa vida nababesca e lua de mel constante, viu
Getúlio que suas contas de cheques especiais, cartões, etc., estavam todos no vermelho.
E ele ficou branco de desespero e agonia, vindo a mente o plano A, que era se
desfazer da sua querida, coisa impossível pelo envolvimento e, o plano B que
era fazer umas retiradas, ou pedaladas, termo usado atualmente, no caixa da
empresa, que depois iria cobrindo, sagazmente, aos poucos! Sua tesão pecaminosa
e sem freios, optou pelo plano B, já que era responsável pelas finanças, seria
fácil disfarçar as furtivas retiradas.
Então, já com sua determinação oficializada,
sem querer mostrar fraqueza a sua amada, continuou por mais seis meses nessa
vida agitada e gostosa, ao lado de sua gostosíssima Rebeca, que não queria nem
saber de onde vinha a grana, apenas desfrutar seus momentos e desejos.
Até que um dia, inesperadamente, veio uma
equipe de auditores da matriz e, pegou Getúlio com a boca na botija, com um
rombo no caixa bastante elevado, afastando-o da função e, automaticamente,
fazendo uma queixa na polícia, que o prendeu imediatamente, sem nem direito a
fiança. Rebeca foi notificada, foi a delegacia, prestou seu depoimento alegando
nada saber e, estranhamente, depois de liberada, pediu para falar com Getúlio
alguns minutos e foi atendida pelo delegado de plantão. Falou do seu
sentimento, disse que achou que ele tinha condições, já que nunca reclamou
nada, completando disse que estava indo para S. Paulo para casa de uns parentes
e que voltaria breve! Ele, completamente chocado e envergonhado, apenas
assentiu e nada falou sobre a continuidade do romance, já que as possibilidades
eram, completamente, remotas!
Para encurtar, Rebeca nunca mais deu
notícias, Getúlio teve que vender o apartamento e o carro para cobrir parte do
desfalque, foi cadastrado no SPC e Serasa pelos credores, perdeu as. contas
bancárias, o emprego e os amigos de festejos que nessas horas tiram o corpo de
banda.
Deprimido e frustrado pela idiotice que havia
cometido, novamente fez outra pior: Cometeu o suicídio, jogando-se na frente de
um caminhão que, sem poder evitar, lhe esmagou a cabeça. Deixou uma carta para
o jornal principal da cidade contando a sua triste história!
Esse foi seu último vacilo e pecado, pois, no
outro dia na página policial estava estampada em letras garrafais a seguinte
manchete: “Estelionatário por causa de um bom rabo, perde a cabeça”!
*Escritor – Membro da academia Grapiúna de
Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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