Antonio Nunes de Souza*
Segundo as diversidades das diretrizes religiosas,
nossos destinos são determinados pelos nossos comportamentos, fé e as regras de
cada instituição divina. Mas, no caso de Joãozinho Santana, a coisa foi
diferente e, mesmo sem a alma ter tido tempo de chegar a se arrumar para a
viagem eterna, a confusão começou a rolar de tal maneira, que pelo visto, mesmo
morto e no caixão, ele deve ter se cagado todo com esse desfecho de um segredo,
que ele imaginava estar levando para o túmulo. Algumas correntes dizem, que
mesmo depois de morto, o indivíduo continua ouvindo as conversas, apenas não
podendo se mexer e nem falar nada. Acho isso uma sacanagem fúnebre das piores!
Ao lado do seu bonito caixão de madeira de lei,
visor panorâmico de vidro na parte do rosto, castiçais de prata, flores em
profusão e dezenas de coroas enviadas por amigos e empresas que o admirava,
estava lá sua esposa toda se esvaindo em lágrimas e soluços, sofrendo amargamente
por aquele homem maravilhoso, pai de família exemplar, marido fiel até a alma,
como também um filho dedicado aos seus velhos pais. Todas as amigas em volta da
triste e debilitada, consolando-a carinhosamente, sempre usando os clichês
habituais: É isso mesmo minha filha. Deus só leva os bons! – Estamos todos ao
seu lado para ajudar você dar a volta por cima, e compreender melhor às
vontades divinas. Além de mais outras frases de bolso usadas nessas ocasiões!
Então, mais que inesperadamente, surge na entrada
da capela onde estava acontecendo o velório, uma bonita mulher com uma criança
no colo e segurando outra com aproximadamente uns oito anos. E, sem nem pedir
licença, foi-se aconchegando do caixão aos berros e choros, gritando
fortemente; Meu Deus, por que não me levou no lugar dele? Meu amor não merecia
isso, morrer tão jovem vítima de acidente!
Pelo escândalo, percebia-se claramente tratar-se de
uma suburbana sem classe, daquelas que desmaiam, saem carregadas, tem que
cheirar água de colônia, álcool, etc. A viúva chocada com a cena, falou para
ela que ela devia ter se atrapalhado com a sentinela, uma vez que são muitas as
divisões da capela para essas finalidades.
-Nada disso minha filha! Meu marido João Santana,
pai de minhas duas filhinhas, morreu num acidente e eu soube apenas há algumas
horas e, mais que depressa, vim ver e resolver seu funeral. Mas, pelo visto,
seus amigos já providenciaram tudo.
-Não pode ser a mesma pessoa, pois, somos casados
há dez anos, temos três filhos e somos muito felizes!
-Eu sou casada com ele há oito anos, moro em
Itapetinga e ele como é viajante vendedor, passa a semana comigo, e nos fins de
semana, volta para Itabuna para apresentar os resultados das suas vendas e
recebimentos, além dos novos pedidos. Essa era a maneira que ele traçou para
atender as duas famílias!
Aí, com esse encontro inesperado e a notícia que
João era um descarado bígamo, a viúva desmaiou, a confusão tomou conta do
ambiente, uns sorriam e outros choravam, enquanto o mulheril solidário com
situação, já que ambas as mulheres foram enganadas, dava o maior apoio as duas
famílias, procurando conciliar uma situação inusitada para uma cidade do
interior.
Chegada a hora do enterro, todos perplexos com o
ocorrido, já que Joãozinho era considerado um exemplo de marido, resolveram
silenciar naquele momento e discutir o assunto posteriormente. Os pesamos foram
divididos e todos que olhavam para seu caixão na hora que descia para a
sepultura, podia-se ler em seus rostos o pensamentos a seguinte expressão:
Joãozinho foi um cara filho da puta!
Até hoje as duas brigam pela divisão dos seguros,
previdências e alguns bens pertencentes ao marido enganador!
*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos
Membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!
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