Antonio Nunes de Souza*
Para
que possa começar a contar a história de Neilton, tenho que falar sobre seu
carrasco e machista pai Seu Mendonça, que, radicalmente, modificou o
comportamento, desejos e destino desse maravilhoso rapaz.
Neiltinho,
assim era chamado carinhosamente por todos, pois, tinha o mesmo nome do seu pai,
sendo ele Júnior. Era o quarto filho de uma família de três irmãs, sendo ele o
caçulinha da casa, cheio de dengos, chamegos e vontades nas alimentações pela
mãe, e sempre nos colos femininos das irmãs. Mas, nas decisões sobre seus
desejos futuros, infelizmente, foram sempre todas controladas rigidamente pelo
seu pai, Seu Mendonça, homem paraibano de quatro costados, e comportamentos e
hábitos a moda antiga.
Aos
dez anos o menino Neiltinho, resolveu que queria, porque queria aprender balet.
Aí seu pai, irritado e puto da vida, bateu na mesa e disse: Isso é coisa de
viado! Você não vai de jeito nenhum e não toque mais nesse assunto, para eu não
lhe dar uns tabefes pela cara!
Lógico
que foi uma tristeza para ele, e uma frustração para as irmãs ao vê-lo desiludido,
e o consolaram com carinhos, beijos e abraços.
Aos
dezoito anos, ele descobriu que tinha um jeito especial para culinária, e quis
entrar em uma escola para aprender as magias dos temperos. Porém, seu pai, novamente
puto da vida, disse grosseiramente: De hipótese nenhuma quero ver meu único
filho homem, com o umbigo no fogão uma panela na mão. Isso é coisa de viadíssimo!
E enfatizou: Comigo a palavra é viado mesmo. Nada de homossexual, que eu acho
um termo bem afrescalhado!
Já
adulto, com vinte e cinco anos, influenciado por ver sua tia costureira fazendo
vestidos, Neiltinho ficou tão fascinado e deslumbrado, que decidiu que ia tomar
um curso de corte e costura, e iria realizar desfiles maravilhosos com os
modelos que criaria. Foi aí que seu grosso, machista e revoltante pai, berrou
firme: Prefiro a morte que ver meu filho que tanto amo, numa passarela como uma
boneca! Isso é coisa de bicha louca desvairada. Lhe boto pra fora de casa e lhe
deserdo!
O
resultado é que com o passar dos anos, seu pai foi ficando velhinho, sem mais forças
para comandá-lo, resultando que Neiltinho não aprendeu a fazer porra nenhuma, e
transformou-se num grandessíssimo viado!
Porém,
anos depois, com o passar do tempo, ele resolveu que poderia aprender algo
interessante, dentro da atualidade e do mercado consumidor, e passou a se
dedicar a vertente dinâmica da computação e informática. Leu, estudou bastante,
fez cursos na área e, por ser inteligente e bem falante, conseguiu conquistar
uma clientela ótima, já que todos gostam de receber muitas explicações. E ele
não fazia por menos, explicando até o que o cliente nem queria saber e nem sabia
da existência. Virou uma celebridade virtual na região, que hoje, seu apelido
as escondidas, entre seus funcionários e clientes é: “Placa Mãedoncinha!”
Com
essa crônica, quis mostrar que não devemos interferir em nenhuma hipótese, nos
desejos dos filhos, pois, eles podem e tem o direito de escolher, e desempenhar
qualquer função que desejar, sem que suas tendências sexuais sejam impecílio, abalos
ou problemas. Trata-se apenas ser uma opção, que devemos, literalmente,
respeitar. O importante é que todos possam seguir os seus caminhos, vivendo e fazendo
o que mais se sente bem, que, com certeza, se tornarão bons profissionais nas
suas escolhidas áreas! Já temos provas disso!
Neiltinho
é um exemplo de luta pelos seus direitos e hoje, além de ser um gênio nas
vendas e implantações de redes no mercado da informática, ainda, para relembrar
os desejos reprimidos no passado, às vezes costura uma blusa, dá uns passinhos
de balet nas pontas dos pés, e faz uma moqueca de peixe com camarão divina pra
ninguém botar defeito!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
Nenhum comentário:
Postar um comentário