Antonio Nunes de Souza*
Todos
os anos é a mesma coisa. Fico excitadíssima com a aproximação do carnaval,
festa que jamais dispenso e brinco desde meus dez anos de idade. Agora, com
trinta e quatro anos, continuo curtindo de todas as formas possíveis as
loucuras momescas, que atualmente, inevitavelmente, começamos com um beijo na
boca e terminamos na cama fazendo as maiores proezas libidinosas e deliciosas.
As letras das músicas são de uma pobreza que ninguém nem presta atenção, pois,
o que vale são os ritmos dançantes, os requebrados das bundas, as caras e bocas
e, logicamente, as esfregações no meio da multidão, principalmente nos blocos, onde
qualquer lado que você vai encontra sempre algo duro ralando em suas nádegas ou
nas coxas. Não posso dizer que não gosto de jeito nenhum, pois, é uma revoada
de rolas a nossa disposição, sendo uma condição tão normal, que deveria ocorrer
até nas filas dos bancos, SUS, ônibus e metrôs, para que se tornassem mais
interessantes e mais prazerosas. Sinceramente, seria uma maneira mais agradável
de esperar os atendimentos. Até nas procissões (que Deus me perdoe a blasfêmia),
mas, nada mais milagroso, que receber uma “vela” roçando em você, enquanto reza
uma Ave Maria. Seria uma prova que Deus existe!
O
fato é que já comprei o meu Abadá do Chiclete, pois, jamais deixaria de sair no
bloco, mesmo sem a presença de Bell. Quando me lembro, que até já transei
diversas vezes no meio do bloco, sem nem mesmo saber o nome do cara, chego a
sorrir da loucura, mas, me deixava feliz e realizada, aproveitando todas
oportunidades que a vida me deu e continua me dando. Graças a Deus, nunca tive
DSTs (doenças sexuais transmissíveis) e nem produção independente. Apenas uma
vez levei um baianinho no útero para Sampa, filho de um negão lindo do Olodum,
mas, chegando lá, procurei abortar esse problema, que me causaria
arrependimentos no futuro. Nesse particular sempre fui espertíssima!
Depois
de ralar muito na vida, consegui ser uma advogada com certo prestígio e independência
em Ilhéus, podendo contratar um bom hotel bem localizado, um lugar num camarote
na Barra ou em Ondina e, contando com alguns amigos de Salvador, encontro-me totalmente
pronta para a folia!
Com
o tempo passei a ver com mais clareza, que todas as pessoas adorariam fazer
isso que faço, mas, numa atitude idiota e uma submissão a essa hipócrita
sociedade, se reprimem e depois, quando chegar o arrependimento, já é tarde
demais para recuperar o tempo perdido!
O
que digo sempre é que você seja independente, lute bastante para isso
acontecer, e depois faça o que desejar, não se retraia para agradar a
terceiros, passando a ser a primeira e única dona de sua vida!
Esse
é o maravilhoso carnaval anual de minha querida amiga Jacira, que tem como filosofia
de vida a belíssima música: “É preciso saber viver!”
Obviamente
vocês estão vendo que Jacira, depois dos esforços e sacrifícios, conseguiu
realizar seu sonhos de independência, que está lhe dando muitos e muitos anos
de satisfações e prazeres, que pagam, tranquilamente, os oitos duros e cruéis,
que passou alisando como uma guerreira, os bancos da ciência!
“O
estudo é a chave que abre todas as portas!”
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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