Antonio Nunes de Souza*
No
meado dos anos noventa, eu com dezenove anos, trabalhava numa loja de ferragens
como balconista, e morava em uma pensão de quinta categoria, já que a grana era
curta. Uma vida mais que modesta, porém, sentia-me um vencedor, já que tinha
vindo para Salvador com quinze anos, encima de um pau de arara, como um esfomeado
cearense, que fugia das terríveis e constantes secas!
Sempre
esforçado, querendo melhorar de vida, com todos os sacrifícios, estudei a noite
e, orgulhosamente, consegui terminar o segundo grau completo, que é um dos
maiores orgulhos que um pobre tem ao conseguir chegar a essa condição, que
quando perguntam se ele estuda, ele bate no peito e diz: Já completei! Isso
como se para ele fosse, uma graduação de doutorado!
Pois,
foi fazendo meu pobre “doutorado” que conheci Selma, uma jovem de dezessete
anos, filha de uma baiana de acarajé, situada no Porto da Barra. Selma ajudava
a mãe durante o dia, e a noite estudava nesse colégio público, onde éramos
colegas de sala. Nos olhávamos e conversávamos as vezes, até que começamos um
namoro simples, porém, cheio de afetividades, carinhos e atenções. Ela era de
uma meiguice incrível, sabendo dos meus apertos, sempre trazia para mim abarás
e acarajés saborosos que sua mãe fazia, para me alimentar como um ótimo jantar.
Éramos ambos bem bonitos, sendo ela uma morena bem clara, mais para branca que
negra em suas características, além de um corpo bem delineado. Eu, um sertanejo
robusto, altura mediana e cabelos lisos. Formávamos um casal encantador e cheio
de sonhos, que geralmente temos nessa idade, praticamente o início da fase
adulta!
Como
sempre foi normal (antigamente às escondidas e hoje em qualquer lugar),
começamos a transar numa boa e, inesperadamente, pelas nossas facilidades,
Selma engravidou, fato que nós jovens ficamos na maior felicidade, porém, os
familiares ficam surpresos e putos, pois, sabem eles que essa atitude dos
jovens, sempre termina em merda para os velhos. Dona Maria das Dores e o
aposentado seu Joaquim, como nada mais poderia ser feito, consentiu que fôssemos
morar juntos e, depois da maternidade, nos casaríamos, para selar uma união que
tinha tudo para ser feliz, pois, com a conclusão do curso e ela completar em
seguida seus dezoito anos, poderia também arranjar um emprego e, juntando
nossas merrecas, daria para termos uma vida decente em uma modesta moradia.
Mas, por enquanto, levei Selma para meu quarto na pensão, apenas comprando uma
cama de casal, para melhor nos acomodar. Porém, ficou combinado que ela
continuaria trabalhando com a mãe, até ter a criança, já que ninguém quer mais
empregar mulheres grávidas. Com toda essa vida bastante cheia de “nadas”,
éramos felizes, alegres e muitas expectativas para o nascimento do nosso
querido filho, já com seu nome escolhido de Fernando, em homenagem ao meu pai,
que nunca mais tive notícias, desde minha vinda para a Bahia. Considerava-me um
solitário no mundo, já que meus parentes todos evaporaram com a dolorosa seca,
inimiga íntima do norte/nordeste!
Passaram-se
os meses de gestação, tudo as maravilhas, até que chegou o dia do parto, fiquei
nervoso com a nova experiência. Seguimos para a maternidade, ficando eu e dona
Maria das Dores na sala de espera. Uma hora depois, veio a enfermeira nos dizer
qie tudo correu bem, Fernando era um garoto sadio e que estava no colo da mãe.
Ficamos felizes e fomos, através do vidro do quarto, ver minha grande obra,
fruto de um amor quase juvenil!
Aí
foi que aqs coisas começaram a apertar, já que com acriança as despesas
aumentaram, e por azar, a loja que eu trabalhava fechou e eu fiquei
desempregado, ficando eui e Selma, juntamente com a criança, indo trabalhar
ajudando sua mãe nas vendas das iguarias no Porto da Barra. E como essa praia é
muito bem frequentada, dei a ideia de colocar mesas e cadeiras no fim da tarde,
para que o pessoal venha ver o por do sol, fato que normalmente acontece, com
centenas de admiradores boêmios, que adoram uma cervejinha gelada, que passei a
levar num grande isopor. No início o movimento era fraco e tomamos alguns
prejuízos, mas, com o decorrer do tempo fomos conseguindo uma boa freguesia,
chegando ao ponto de já termos vinte mesas, que eu armava e desarmava depois do
movimento.Com isso as coisas foram melhorando, compramos um carrinho velho para
transportar diariamente as mercadorias de casa para o ponto, lutei com a ajuda
de um frequentador que trabalhava na prefeitura, conseguindo uma licença para
usar o espaço num lugar privilegiado, exatamente onde se reuniam todos, por ser
o melhor para admirar o poente!
Foi
depois disso que as coisas tomaram outros rumos, Selma já uma baiana de
primeira, Fernandinho na escola Seu Joaquim no caixa e eu e mais dois garçons
atendendo. A essa altura Dona Das Dores, já ficava em casa, preparando as
massas do dia seguinte. O fato é que, com esse desenvolvimento nosso, hoje,
vinte cinco anos depois, Temos nosso lindo apartamento na Barra, bem próximo ao
nosso ponto do porto, quatro filiais em praias diferentes, Carros para entregas
e compras, atendimentos por delivery, e um renda invejável. Fernando está nesse
momento fazendo um curso em Lisboa, temos mais dois filhos, que são Juliana que
é enfermeira e Adriana que é assistente social, ambas bem empregadas e felizes!
O
que é importante eu salientar, é que, graças im começo difícil, que fui
perceber que ser empreendedor faz com que vençamos muitos obstáculos. Eu jamais
na minha vida imaginei progredir tanto, constituir uma família, formar meus
filhos vendendo acarajés e abarás. Por pouco eu não continuei sendo empregado
comercial, que apenas me dava um modesto pão de cada dia. Aprendi que jamais
devemos deixar de aproveitar. qualquer oportunidade que chega em nossa frente.
Nada custa tentar, pois, somente tentando é que sabemos se nos adaptamos, se é
rendosa ou se vale a pena. Se não for nenhuma dessas coisas, serviu de
ensinamento, experiência, e aí partimos para outra, que apareça, pois, muitas
vezes uma dessas que lhe parece absurda, é a que lhe dará um bom futuro!
Procure
ser uma pessoa empreendedora, lute pelos seus objetivos, não se acomode com
empregos, a não ser os concursados, mesmo assim os federais que lhe
proporcionam salários mais dignos e segurança. Procure com um empreendimento
qualquer, ser no futuro um comerciante ou um industrial. Se você olhar em sua
volta, todos aqueles que são considerados vencedores, foram porque tiveram
coragem de lutar sem medo e conseguir realizar seus planos, projetos e sonhos!
“Nunca
tenha medo do futuro, pois, você é que o construirá, e se souber ele será
maravilhoso!”
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos fundadores da Academia Grapiúna de
Letras!
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