quarta-feira, 5 de junho de 2024

OS CHULOS QUE SE TRANSFORMARAM EM CLÁSSICOS!

Antonio Nunes de Souza*        

Desde minha infância, que vejo e ouço os mais velhos se manifestarem com rigorosidades, quando alguém empregava um nome considerado “feio”. Lembro-me, muito puto da vida, que com sete anos, estava na mesa almoçando, e ouvimos uma gritalhada na rua. Eu curioso, levantei e fui na janela ver o que era, aí um homem falou para outro, que estava tendo “porrada” no bar. Eu voltei, aí me perguntaram: O que é que está havendo?

E eu, inocentemente, disse: É porrada!

Aí, mais que depressa, meu avô me tacou a mão na boca, dizendo: Seu moleque, se respeite!

E eu, sem saber nem o que significava, tornei a repetir: É verdade, sim, o homem falou alto que é porrada. Aí, injustamente, tomei outro tapa na cabeça, mandado sair da mesa, e meu avô dizendo: Não sei onde esse menino aprendeu a xingar tantos nomes feios. Depois de anos é que cheguei a saber, porque tinha apanhado. Apenas por uma palavra derivada de “porra”, que significa pancada, que era dada por uma antiga arma de ferro, usada nas guerras, com esse curioso e estranho nome. Atualmente essa palavra é ridícula, usada até nas salas de aula pelas professoras!

O fato real é que, com a liberdade de expressão, que até “fake News” tem um enorme espaço nas redes, muitos desses nomes, passaram a ser considerados, advérbios quantitativos e qualitativos, no sentido de dar maiores ênfases nas colocações verbais, quando nos referimos a intensidade de um fato que estamos narrando!

Para não me alongar muito, pois, esse assunto é de uma vastidão imensa, vou me ater apenas, as referências ao ato desagradável cruel, denominado de azar!

Quando o indivíduo dá um simples azar, é uma besteirinha qualquer que ocorreu, porém, se acorreu algum problema, passa a ser um azar retado, aí, se houve prejuízos e ferimentos, claro que passou a ser um azar da porra, no entanto, por ironia do destino, aconteça óbito de algum dos participantes, torna-se, imediatamente, em um azar do caralho. E quando o azar é enquadrado em todas essas partes, lógico que passa a ser denominado de um azar filho da puta, que fodeu com meio mundo, mandando todos para a casa do caralho. Vejam vocês, que apenas estamos querendo, minuciosamente e com detalhes, dizer e informar a gravidade do fato!

Porém, curiosamente, e para provar que essas adjetivações transformadas em advérbios, são quantitativos e qualitativos, que, com relação a sorte, você, literalmente, para ser também detalhista, usará, exatamente, os mesmos: Sorte, sorte retada, sorte da porra, etc., etc, etc., sendo que essas colocações atualmente, são mais aceitas, sem aquelas entortadas de nariz do passado, nem as idiotas e tolas condenações do presente!

Uma palavra que no meu tempo significava “putaria”, hoje, “sacanagem”, passou a ser, simplesmente, brincadeira, gozação, etc., usada até pelas freiras, padres e pastores nas suas liturgias!

Tudo isso me deixa feliz, pois, assim sendo, as máscaras de hipocrisias sociais vão caindo progressivamente, tendo que encarar uma realidade claríssima no mundo atual, e que não existem palavras feias, feias são as faltas de solidariedades humanas e os brutais preconceitos étnicos e sociais!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!    


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