Antonio Nunes de Souza*
Evidentemente,
não trata-se de minha ressurreição, pois, tem mais ou menos dois mil anos e,
infelizmente, somente Jesus Cristo teve esse privilégio, sendo que tem esse
mesmo tempo de anos, cheios de dúvidas e controvérsias, com relação a realização
desse ato surreal e único na história do mundo, já que durante esse longo
período, tem nascido e morrido tantas pessoas maravilhosas, boas, solidárias,
que viveram e morreram servindo a humanidade, milhares foram denominados de “santos”
e, nenhum deles, teve esse especial direito de retornar, para nos contar o que realmente
acontece depois da morte. Temos que nos conformar com as bem manipuladas
palavras dos autos credenciados “Ministros de Deus”!
Meu
caso foi bem diferente, regado a sacanagem, nada tendo de religiosidade e,
principalmente, por essa não tão nobre razão, fui agraciado a condição de nascer
novamente, e como aconteceu tal desesperador fato!
Sou
jovem, apenas vinte seis anos, nada tenho de especial, apenas um “rapaz latino
americano” como diz a canção do saudoso Belquior. Formado em filosofia e vivo
minha vida lecionando em alguns colégios e a única universidade existente em
minha cidade do interior, tendo um rendimento mensal legal, que dá para manter
meu carrinho, apartamento, com uma vida sadia e tranquila dentro dos moldes de
classe média baixa, como é a vida de todos os professores no Brasil.
Aconteceu
que uma moça, aluna da universidade, começou a me “azarar” constantemente não
só nas minhas aulas, como também, durante as vezes que nos encontrávamos no
parque do estacionamento, sempre que eu chegava, seu carro estava estacionado
perto do meu, ela vinha sempre me cumprimentar e, sem o menor pudor ou
vergonha, se insinuava terrivelmente, demonstrando que estava a fim de ter algo
comigo. Porém, como primo respeitar muito meu ambiente de trabalho, nunca
misturando as coisas, fazia-me de inocente, como se não estivesse percebendo.
Porém,
ela insistia tanto, que um dia resolvi aceitar um convite dela para tomar um chope,
Ficamos de nos encontrar num barzinho discreto, nos sentamos, conversamos,
bastante, tomamos nosso chope e já nos levantamos para ir para nossas casa,
como bons amigos, além da relação aluna/professor. Mas, na volta em meu carro,
fiquei rememorando toda história, que terminou nesse furtivo encontro, que
tratava-se de uma moça legal, bonita e filha do delegado de polícia local, que
era considerado um homem violento e temperamental.
Embora
com suas raízes familiares brabas, e minha condição de ser seu professor,
voltei a aceitar outros seus convites para as saídas escondidas, que eram agradáveis
e gostosas em função dos perigos, segredos e mistérios. Como não poderia deixar
de acontecer, começamos a frequentar um motel, nos relacionando sexualmente,
duas ou três vezes na semana. Porém, com o passar de uns três meses nessa
aventura louca, começamos a relaxar um pouco, deixando algumas pessoas, inevitavelmente
nos ver juntos. E esse foi o nosso grande erro.
Alguém
contou para o delegado Valdir, sobre nosso romance, o delegado colocou um
policial para me seguir, e num sábado que combinamos uma noitada deliciosa, já
que era dia do meu aniversário. Reservei o melhor apartamento, mandei colocar
flores, um balde com champanhe francesa e um jantar especial, que seria a nossa
primeira festa comemorativa, desse louco amor fora dos contextos sociais. E
quando estávamos no maior romance das gostosas preliminares, só ouvimos a porta
sendo arrombada e entra o delegado Valdir, já com a arma na mão, encostou em
minha cabeça e, perversamente, puxou o gatilho por duas vezes, que assombrado,
apenas ouvi o ruído de track, track, sinalizando que o revólver tinha falhado.
Mesmo nu e apavorado, peguei rapidamente minha roupa que estava encima da
cadeira, e saí correndo para o box do carro, entrei e saí em disparada, batendo
na corrente da saída, que quebrou-se. E fugi daquela situação mais que constrangedora.
E antes que o escândalo fosse a tona, fiz uma carta de demissão, enviei para a faculdade,
fiz o mesmo com os dois colégios e, arrumei uma mala, seguindo para uma cidade
vizinha, para recomeçar minha nova vida, já que tinha acabado de sofrer uma
tentativa de homicídio, exatamente na data em que nasci e, graças a minha sorte
as balas estarem gastas e validades vencidas, posso dizer que, literalmente,
nasci outra vez!
Passados
uns meses, eu louco de saudades de minha querida Stela, porém, com muito medo
do seu valente pai, não tive coragem de procura-la. Mas, inesperadamente, um
dia ela apareceu me surpreendendo, porém, tinha ocorrido a morte do seu pai,
então ela resolveu me procurar, já que sua mãe acatava completamente nossa
provável união. Fiquei bastante alegre em revê-la, e mais ainda quando ela
contou-me que seu pai, no leito da morte, contou-lhe que seu revólver estava
sem balas de propósito, pois, sua intensão era realmente me assustar, mas, que me
denunciaria na faculdade. Porém, como eu saí da cidade, ele resolveu ficar
calado para evitar um escândalo envolvendo sua única filha!
Dei
boas gargalhadas. Falei que quase me mijava todo e, mais uma vez, vi que
ninguém consegue morrer e voltar a ter outra vida, nem por sacanagem, como foi
o meu caso, quanto mais que se vai para um paraíso!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros criadores da Academia Grapiúna de
Letras!
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