Antonio
Nunes de Souza*
Existe
milhares de provas em diversas vertentes, mas, infelizmente, estamos tão
habituados com as hábitos, costumes, modismos e crenças que veem nos impingindo
ao longo de nossas vidas, que nem temos tempo de fazer umas análises
necessárias, para perceber, que em muitíssimas circunstâncias, estamos sendo
idiotizados e vivemos como verdadeiras marionetes, manipulados por mãos sujas
de canalhas aproveitadores, e ainda ficamos agradecidos a eles e, milhões,
tornam-se subservientes!
Numa
cidade do estado do Espírito Santo, no início dos anos oitenta, chegou um
espanhol vindo de Sevilha, para morar no Brasil. E como sua primeira parada foi
nesse estado, ele escolheu uma pequena cidade para morar, que com seu modesto
trabalho de agricultor, pudesse sobreviver em paz. E assim, com suas pequenas
economias, alugou uma casinha, instalou-se e, com uma semana, já estava
trabalhando como colhedor de café!
E
bafejado pela sorte, como gostava de futebol, fez um único jogo na loteria
esportiva, que estava surgindo como uma das maravilhas em termos de jogos e
esportes ao mesmo tempo. E, absurdamente, ele, mesmo sem conhecer bem os times,
cravou os escores, exatamente iguais aos que ocorreram, sendo ganhador único de
uma bolada de grana, pois, o prêmio estava acumulado há várias semanas. Em
princípio ele não entendeu a grande importância que receberia, até que o
gerente do banco local, usando de um “portonhol” explicou que ele agora era um
homem bastante rico!
Ele
surpreendeu-se bastante, ficou super feliz pela sorte, pois, com apenas pouco
tempo num novo país, lhe acontece semelhante coisa. E como era de uma família
pobre, porém bem religiosa, resolveu construir na cidade uma igreja como em
agradecimento a acolhida, como também fazer uma homenagem a sua querida mãe,
que, infelizmente, faleceu durante o seu nascimento, numa gestação e parte
cheios de problemas. E, na sua mente, sentia-se um pouco culpado dessa
tragédia. A partir de agora, passarei a usar nomes fictícios, para que a cidade
não seja identificada, como também prometi que não passaria a história com
detalhes que fossem identificadores:
Manolo
fez uma consulta ao Vaticano se havia uma Santa com o nome da sua mãe, que
colocarei como Clotildes, e como resposta recebeu que não, em todos fichários
santificados. Porém, pelo seu grande amor filial, resolveu em silêncio, dizer
que na sua cidade e país tinha uma Santa muito importante, porém, pouco
conhecida, que ele como bom devoto, iria fazer a igreja na cidade em homenagem
a ela: Santa Clotildes de Sevilha!
Já
acompanhado de um Advogado local, entrou em contato com o prefeito, que
prontamente deu uma área bem central, no meio da maior praça da cidade e, sem
delongas, Manolo que não era analfabeto, tinha estudado por alguns anos, já
tinha montado um escritório, onde convidou uma empresa de engenharia, para que
o projeto fosse elaborado o mais rápido possível!
O
fato é que, com cinco meses a igreja já estava pronta, Manolo tinha ido a
capital e mandou um escultor fazer uma linda imagem da Santa, baseando-se numa
foto antiga da sua mãe, porém, seu segredo, nunca comentou com ninguém. Pronta
a escultura da Santa com duas ovelhinhas dos lados, mantos brilhantes, toda em
cobre, faltando apenas as roupas de sua vestimenta, que seriam feitas pelas
beatas da cidade, que estavam eufóricas com mais essa divindade na comunidade.
O prefeito ficou encarregado de providenciar junto ao Bispo da capital, o
deslocamento de um padre para ser o pároco da nova e bela igreja, todos os
paramentos foram comprados, até que chegou o dia da inauguração!
A
praça cheia de bandeirolas, preparado um grande foguetório, Manolo numa
felicidade incrível, a cidade n maior euforia, visitantes em ônibus vindo para
os festejos na praça, que cheia de barracas enfeitavam uma noite inesquecível. A
banda de música local, toda orgulhosa tocando dobrados e músicas populares num
coreto, crianças corriam e brincavam comendo suas pipocas e algodão doces,
estando num palanque improvisado o Prefeito, o Padre, Delegado, Juiz, uns
vereadores e o médico chefe do Posto de saúde e Santa Casa!
Os
discursos rolaram, Manolo falou com a voz embargada, chorando em alguns
momentos, sendo muitíssimo aplaudido. Sendo o último a falar, pois, nesse momento
final, o padre Mendonça pegou o microfone e gritou com todos pulmões: Viva
Santa Clotildes de Sevilha, ouvindo-se palmas, vivas, aleluias, gritos, além
das beatas chamadas de “baratas de sacristia”, com seus terços nas mãos, se
benziam todas felizes e sorridentes!
Foi
rezada uma longa missa festiva, Manolo calado e super feliz, lembrava-se a todo
momento dos seus familiares em sua terra, que não mandou buscar alguns, em
função da sua invenção sobre a santa, pois, se descoberta a farsa, ele estaria
desmoralizado, e toda homenagem a sua saudosa mãe iria por água a baixo!
Agora
atentem e observem o desenrolar nesses quarenta e três anos que se passaram:
Manolo montou um grande super mercado, casou-se
na igreja de Santa Clotildes de Sevilha, tem dois filhos e uma filha que
ajudam na administração da empresa e estudam, o prefeito seguinte, instituiu na
cidade como “dia Santo” o dia da inauguração da igreja, já foram atribuídos
dezenas de milagres e curas fantásticas a Santa Clotildes, são feitas
procissões periódicas em agradecimentos, eventualmente caravanas de cidades
vizinhas, para pedir milagres e agradecer os feitos à distância, já se criou
uma história que ela por ter feito alguns milagres na Espanha, foi condenada a
morte numa fogueira. Enfim, Santa Clotildes de Sevilha tornou-se um ser que
existiu e existirá, continuando fazendo milagres e protegendo todos aqueles que
tomam conhecimento da sua existência na cidade, que me reservo a não dizer o
nome, como prometi a Manolo, que só faria depois da sua morte!
Agora,
imagine vocês, isso hoje, século XXI, onde as tecnologias estão explodindo
diariamente, inteligência artificial, conhecimentos profundos, milhares de
escolas, colégios, faculdades e universidades, e o povo, idiotamente, acredita
em qualquer imbecilidade que querem que eles acreditem, precedam idiotizados
como robôs e paus mandados, paguem dízimos para poder ter direito a entrar no
céu, além de outras exigências, principalmente de votar nos seus canalhas
indicados por eles. Agora pare, pense e
reflita sobre as coisas que disseram e escreveram há quase dois mil anos, para
um povo analfabeto e totalmente subserviente? Claro que tudo era recebido como
pura verdade, sem direito a contestação. O Imperador falou e decretou: Está
falado e não se discute!
Fiquei
estarrecido ao ouvir essa “história” vergonhosa, que Manolo, também muito sentido,
pois, não imaginava até que ponto chegaria a imbecilidade dos tolos fiéis, e,
infelizmente, nada poderia dizer, pois, com certeza, o estrago seria bem pior,
pois, pelas reações dos adoradores, ele seria excomungado como um filho herege,
que não respeitou a “santidade” de sua adorada mãe!
Isso
tudo pode parecer absurdo, mas, com certeza aconteceu, está acontecendo e
acontecerá sempre no mundo. Pois, o povo vive ávido de socorros e apoios, já
que não aprendeu a andar sozinho, sem uma bengala, ou algo que não existe, mas,
está ao seu lado sempre para lhe socorrer nas horas precisas.
Eu,
simplesmente, lamento tudo isso. E só posso dizer o que digo sempre: Pobre
Brasil e pobre mundo!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!