Antonio Nunes de Souza*
Dia
de finados, mesmo para os mais duros de coração, bate uma lembrança geral
daqueles que tivemos oportunidade de conviver e o tempo achou por bem
recolhe-los, em alguns casos, até bem antes das horas previstas!
Dei
um mergulho nos anos cinqüenta (Pô! Tô velho pra cacete!) e comecei a rememorar
aquele tempo que todas as emissoras de rádios saiam do ar, falava-se baixo em
casa, havia horários para orações, missas e as sagradas visitas ao cemitério
para levar umas flores e velas, para enfeitar os túmulos dos nossos entes
queridos!
O
tempo foi decorrendo, as emissoras passaram a transmitir apenas músicas
clássicas, inclusive a própria televisão que estava chegando ao Brasil e,
respeitosamente, colocava uma imagem padrão fixa e um rosário de orquestrações
lentas e saudosistas no decorrer do dia. Sinceramente, era um comportamento,
além de religioso, uma demonstração de afeto e sentimento pelas faltas
corporais em nossos convívios!
Rapaz,
sem querer relatar todas as mudanças decorridas nesses anos subsequentes, pois
daria um romance, vou partir para a atualidade, onde não estão mais respeitando
os vivos, quanto mais os mortos. Além de dizerem que: quem morreu foi quem se
Fo...!, Ainda ficam P da vida quando o defunto só fez dar trabalho, e não
deixou herança nenhuma. E, para justificar seu próprio alívio, diz para os
outros: Foi bom ele ter ido, pois estava sofrendo muito, foi um descanso! Mas,
no seu íntimo esta pensando: Que alívio retado!
Por
mais que pareça que estou sendo cético, atroz e exagerado, tirando as
raríssimas e honrosas exceções, essa é uma realidade vista nesse mundo moderno
e cheio de praticidades, onde ouvimos, constantemente, quando damos os pêsames:
“ é isso mesmo, a vida continua”. No passado as viúvas se vestiam de preto por
um ano, e os viúvos usavam uma tarja preta na manga da camisa simbolizando a
perda! Ao depararmos com alguém conhecido nessas condições, não era nem preciso
perguntar pela saudade, pois as vestes já deixavam transparecer tais
sentimentos. Hoje, os jovens cônjuges já
estão flertando em pleno velório e, se for bom partido, a disputa é grande,
começando pelos advogados se candidatando aos inventários e, consequentemente,
aos encantos das viúvas!
Essa
transformação radical na comemoração no dia de finados, oficializado como feriado
nacional, não mais é justificado, uma vez que a maioria das pessoas aproveita
para fazer festas e bebedeiras, deixando os pobres mortos horrorizados em suas
sepulturas. De roupa preta a única peça que eles adoram é a “calcinha preta” da
banda, para se deleitarem até o raiar do dia, ainda dizendo sorridentes que
compraram pacotes de velas, mas, os defuntos interessados que apareçam lá em
casa para buscar!
Para
finalizar o meu estarrecimento por essa radical mudança, fiquei sabendo ontem
que o m2 no cemitério paulista está custando mais caro que no luxuoso bairro
Morumbi, dificultando o pobre até morrer em paz, pois, além de nunca ter tido
onde ficar em pé vivo, não tem como cair morto. Minha esperança é que o novo governo,
que o já é solidário em muitos casos, crie agora mais um programa popular: “Minha
cova, Minha morte!”
*Escritor,
Historiador, Cronista e Poeta!
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