segunda-feira, 7 de junho de 2021

FATOS DESSA VIDA LOUCA!

 

Antonio Nunes de Souza*

Não é novidade para ninguém que essa pandemia, sem livrar ninguém, está, literalmente, fodendo com meu mundo, aliás, com o mundo todo, para ser mais correto!

Claro que eu, ainda posso dizer que estou com sorte, pois, pela graça de Deus, não me contaminei com esse vírus traiçoeiro, mas, em compensação, estou passando um perrengue fdp, por ter perdido meu emprego que, mesmo ganhando pouco, dava para me manter de uma forma modesta!

Agora, com as maleáveis aberturas de funcionamentos do comércio, indústrias e serviços, comecei minha ladainha cruel de visitar e distribuir currículos, tentando voltar ao mercado de trabalho. E, sinceramente, parece que estamos numa fase assustadora de tarados, pois, sem exceção, em todas as empresas que visitei, nos departamentos de RH (recursos humanos) os chefes eram homens, todos, literalmente, insinuam de uma forma quase direta que se eu for para cama, as possibilidades serão grandes para ocupar a vaga. Não sei se é por eu ser muito bonita e com corpo bem feito, ou se no sexo não é considerado mais a beleza, apenas a satisfação animalesca!

Eu, depois de três meses batendo pernas, ouvindo propostas cretinas e com as economias, praticamente, zero, resolvi engolir cobras, sapos e lagartos e ir a luta ditada pelo mercado, pois, que estava adiantando eu ser uma moça decente e, dentro em breve, passar fome e ser despejada da quitinete?

Fui a luta e, no segundo contato que tive em uma empresa, me deparei com um homem que, só em olha-lo via-se que era competente. Pegou meu currículo, olhou, balançou a cabeça e, sem nenhuma cerimônia, disse: Como eu estou muito atarefado hoje durante o dia, e acho que você é uma candidata ideal, vamos marcar a noite para um cafezinho ou um chope, e conversaremos detalhes, vendo que dia você poderá começar!

Pensei: que canalha sacana. Se aproveitando da minha necessidade! Mas, como tinha decidido ir a luta com as imposições mercadológicas em vigor, assenti perguntando como nos encontraríamos. Ele então, tranquilamente, disse que as 18 horas eu estivesse na portaria do edifício, que desceria e me encontrava. Veja o tipo canalha que nem se prontificou para me apanhar em casa. Mas, puta da vida, concordei, me despedi e saí indo para a rua olhar vitrines, fazendo hora, pois era ainda 16:30!

Cheguei no horário previsto e, em instantes, ele apareceu e fomos para o seu carro, seguindo sem que eu soubesse o destino. Imagine vocês o absurdo que ele foi direto para um motel, sem ao menos me perguntar se eu toparia, ou não. Aí, quando chegou na porta eu mandei ele parar e comecei a xingá-lo de tudo quanto era nome, saltei, ele ficou sem ação, me pediu milhões de desculpas, porém, nervosa como estava, fui embora, tomei um ónibus para casa com os olhos lacrimejando de tanto ódio!

Fui dormir sem comer nada, triste e desesperada, sentindo que não conseguiria abrir mão dos meus princípios morais, por nada nesse mundo!

Depois de uma noite mal dormida, quando saí do banho matinal para revigorar as forças e voltar a triste sina, meu celular tocou e, incrivelmente, era da Martins Vasconcelos S/A (empresa do dito cujo) comunicando que deveria me apresentar no Departamento RH as 14 horas, para preencher minha ficha cadastral e já começar trabalhar no dia seguinte!

Não sabia se dava uma banana, ou se sorria de alegria! Meditei e resolvi: Como não tenho outra alternativa, vou enfrentar esse cara novamente e ver qual é a intenção, ou pretensão dele!

Ao chegar, sua secretária me levou a sua sala e entrei tremendo e pálida, mas, com o olhar firme e cheia de personalidade. Ele levantou-se normalmente, como se nada tivesse acontecido, me cumprimentou e mandou que eu sentasse. E aí, para minha surpresa, ele se identificou como o filho mais velho do Dr. Martins Vasconcelos, chamava-se Rommel e que sua família primava em ter em seus quadros funcionais pessoas corretas, decentes e competentes e, por essa razão ele sempre fazia algum teste com a pessoa que demonstrava ser ideal como funcionário, quer seja homem ou mulher, sendo cada maneira diferenciada. Que eu não me melindra-se, ou ficasse com raiva dele. Respirei aliviada e quase dava um beijo nele de alegria, por ele não ter ido devagar, senão eu não passaria no teste e perderia meu emprego. Imaginei logo que, se tivesse transado, teria, literalmente, me fodido!

Isso aconteceu há dez anos e, nesse período, fiz faculdade de Recursos humanos, sou Diretoras do Departamento, casei-me com Rommel que hoje é o presidente da Empresa Advocatícia, já que seu pai aposentou-se!

Nem sempre é bom seguir a oração de S. Francisco, que diz: “É dando que se recebe!”

*Escritor-historiador-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com.antoniomanteiga.blogspot.com

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