Antonio Nunes de Souza*
-E agora, em primeiríssimo lugar, a vencedora do concurso para Rainha da Bateria da Estação Primeira de Realengo é... Maria Cleópatra do Espírito Santo! Palmas para ela!
Depois desse anúncio do apresentador, gritos, palmas e rufar de tambores faziam uma zoada ensurdecedora nos ouvidos de todos, enquanto no palco, ladeando a rainha que entrava triunfante, dezenas de moças choravam de tristeza amargando a derrota!
Mas, ninguém tinha o mínimo direito de reclamar ou por em dúvida à escolha. A mulher era uma gata pra nem Michelangelo, que era perfeccionista ao extremo, botar algum defeito escultural. Ela tinha um corpo divino e seu rosto era um conjunto de olhos, boca, nariz, dentes e bochechas que formavam uma máscara de beleza de uma sensualidade maliciosa e angelical que, só em encará-la a excitação fluía. Suas pernas, a começar pelos delicados pés sobre o altar de saltos bem altos, seguindo até a virilha como se tivessem sido torneadas mecanicamente por um exímio escultor, nem se conseguia ver se existiam joelhos de tão perfeitas que eram. Aquela penugem dourada quase invisível, você sabe, aquela que quando você basta olhar de perto para fazer o dito cujo latejar de desejo!
Sua bunda, ah meu Deus! Não sei se posso chamar aquela formosura simplesmente de bunda. Pode parecer até um xingamento! Era tão redondinha empinada para cima, fazendo um perfil perfeito de casa de pobre: Não é grande, mas bastante acolhedora. Recebe uma visita com carinho que ela não se queixará jamais. Seus seios viam-se logo que não existia silicone, pois eram de tamanhos medianos e pontudos como se estivessem apontando para os nossos olhos gulosos, querendo furá-los pelas focalizações maliciosas difíceis de disfarçar.
Eu era o presidente de honra do júri e, na minha cabeça só veio uma expressão; Tenho que comer essa mulher! Usei a expressão chula de “comer”, pois, ela era um prato cheio. Aliás, prato cheio uma ova! Ela era um verdadeiro banquete.
A bateria começou a tocar o samba da escola, e ela, como uma carrapeta que mais parecia o capeta, deslizava sambando pelo palco e pela passarela com uma graça e sensualidade que me deixou tremendamente excitado, fazendo com que meus propósitos aumentassem cada vez mais!
Terminada a cerimônia, colocação de faixa, premiação, etc., a festa continuou na quadra e eu fui ao camarim para cumprimentá-la e. logicamente, convida-la para jantar e comemorar sua vitória.
-Meus parabéns Cleópatra, você esteve maravilhosa! (Eu já me sentia Marco Antonio e com a cobra pronta para dar uma picada).
-Muito obrigada! Hoje é o dia mais feliz da minha vida!
-Eu logo pensei: Tomara que seja o meu também!
-Como presidente de honra da comissão julgadora, quero presentear-lhe com um jantar para que marque com chave de ouro essa sua felicidade.
-Oh! Não tenho como lhe agradecer, pois meus tios viriam me buscar e aconteceu um imprevisto e acabaram de ligar dizendo que eu tomasse um táxi na hora de retornar para casa.
Só pode ter sido o Espírito Santo que arranjou esse imprevisto para me favorecer. Eu também sou filho de Deus! Pensei com um sorriso nos lábios e as esperanças cresceram, acompanhando uma parte especial do meu corpo!
Aguardei alguns minutos enquanto ela se arrumava trocando de roupa, se despediu da diretoria da escola, marcaram o primeiro ensaio e saímos em direção ao carro. Juro por todos os santos, que a mulher era mais linda ainda metida em uma calça e uma mini blusa que deixam o umbigo e uma parte do púbis encarando a gente.
Um casal ainda se acercou de nós e perguntou: Pra que lado vocês vão?
-Vocês vão pra zona norte ou zona sul? Falei logo antes que ela dissesse alguma coisa.
-Vamos para o norte.
Oh! Que pena, vamos para a zona sul. (cortei logo o barato, pois isso é hora de dar carona a ninguém?).
Seguimos no carro conversando abobrinhas sobre o concurso e dirigi-me a um restaurante na Lagoa Rodrigues de Freitas, já que um bom visual ajuda para que as coisas se desenrolem a contento.
Fiz a minha média deixando transparecer nas entrelinhas que tinha influenciado os jurados para que ela fosse escolhida, mas, sempre salientando que ela é que realmente merecia, procurando encher ao máximo a sua bola e fosse estourar mais tarde em meus braços. Nessas horas, infelizmente, temos que ser um pouco cafajeste.
Ela pegou em minha mão e disse meigamente: Estou lhe devendo essa gentileza que me fez muito feliz. Assim sendo, coloco-me a sua disposição para retribuir suas atenções!
Ouvir isso foi como se fosse: Pode pedir que eu dou! Cheguei a tremer de emoção e, cinicamente, disse: De modo algum, o que fiz foi porque realmente você tem todos os méritos (como somos canalhas nas horas das conquistas).
Tomamos vinho, jantamos e continuamos trocando idéias por um longo tempo, pois eu estava preocupado em fazer a digestão para não ter uma indisposição caso acontecesse o “vamos ver”.
Passado algum tempo, depois de termos tomado a terceira garrafa de vinho, ela olhou para o relógio e disse: Poxa! Já são três e meia da manhã, vamos embora?
-Vamos, mas tem uma condição, para que a noite seja também inesquecível para mim, vamos terminá-la juntos. Combinado?
Ela olhou pra mim com um olhar matreiro e bem safadinho e disse: Eu estou hoje em suas mãos e sei que você só me fará o bem.
Paguei a conta, saímos já de mãos dadas e entramos no carro. E ela, meio sonolenta, colocou a cabeça em meu ombro enquanto dirigia para o motel mais próximo, pois já não agUentava mais de tanta ansiedade. Fomos para a suíte presidencial e, lá chegando, pedi uma garrafa de Champagne safra e marca especial, e ela virou-se pra mim e disse com o semblante sério: Tenho algo para lhe contar e é melhor que seja agora.
-Fale meu bem, respondi dando-lhe um gostoso beijo na boca e tirando a camisa jogando-a para o lado.
-Não fique chocado, mas, eu não sou mulher. Sou travesti e entrei nesse concurso porque minhas amigas disseram que eu tinha chance de ganhar e foi o que aconteceu. Quero desfilar no carnaval e não desejo que ninguém saiba antes ou até depois da apresentação da escola.
Pensam que tomei algum susto e a tesão caiu? Nada meus amigos, aquela altura da noite e da vida e do jeito que eu estava, ela podia dizer que era até o corcunda de Notredame que eu ia transar de qualquer maneira. Botei a mão em sua boca e disse: Não fale mais nada meu bem, venha logo deitar que não temos tempo a perder.
Não precisa tecer detalhes de todas as misérias que fizemos, o importante é que cumpri a minha promessa de transar com a maravilhosa Rainha da Bateria. Naquele momento o que estava valendo era o título e isso ela (ou ele) tinha com honras e méritos.
Levei-a para casa, nos despedimos e fui pensando e me perguntando: Será que fiz a coisa certa? Será que deveria ter pulado fora?
Aí, meu subconsciente falou firme: Deixa de bobagem cara! Quem come carne de vaca, também come carne de boi. O importante é se alimentar!
Dei uma gargalhada por essa minha primeira experiência bovina, botei o carro na garagem, caí na cama e dormi com um sorriso vitorioso nos lábios!
*Escritor–Historiador- Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniomanteiga.blogspot.comantoniodaagral26@hotmail.com
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