Antonio Nunes de Souza*
A festa estava animadíssima, não faltando os ingredientes necessários e essenciais para tal fim: mulheres, bebidas e muitas músicas dançantes e rebolativas. E era exatamente o que eu estava desejando naquela noite, já que tinha passado no vestibular e queria uma comemoração cheia de emoções para ficar marcada em minha vida.
Cheguei animado e fui logo para a pista dando uns corrupios e requebrados, me aconchegando nas gatas que, com aqueles lascivos passes de funk, colocavam as bundinhas pra cima e, com suas micro-saias, as calcinhas apareciam dando tesão e desejos libidinosos. A esfregação e o rala/rala era normalíssimo e, pelo visto, ninguém era de ninguém, assim como, todos eram de todos, obedecendo o comportamento habitual da juventude atual. A preocupação da galera é com o prazer momentâneo, deixando para se preocupar depois que as merdas acontecem, que eles nunca acham que acontecerão. A faixa etária dos freqüentadores era de 17 a 25 anos e, muitas das minhas conhecidas já eram possuidoras de “produções independentes”, certamente adquiridas em outras festas similares ou aventuras eventuais.
Dei uma parada depois de alguns minutos e fui ao bar para tomar mais um drink, preparando-me para escolher e atacar uma “cachorrona” bem preparada para dançar muito e terminar a noite numa boa, cheia de prazeres inesquecíveis. Cumprimentei alguns amigos, pouco papo porque a música alta não permitia, peguei meu copo descartável e fui para a beira da pista para degustar a bebida e escolher a vítima com cuidado e sem erros, pois queria uma noite especial.
Entrei novamente na pista e comecei a azarar uma gata gostozíssima, morena clara, olhos esverdeados, lábios grossos, boca larga e gulosa, rosto bonito emoldurado por cabelos sedosos e cacheados estilo anjo, peitinhos lindos e empinados, barriga? nem existia! Sua bunda era uma escultura equilibrada em duas coxas e pernas, deliciosamente, bem torneadas.
Cara! Pensei que já estivesse bêbado e vendo miragens. Mas, me aproximei dançando com a camisa meio aberta para mostrar meu peitoral (que é o meu forte) e, cheio de sorrisos, falei:
-Sabe que você pode ser presa?
Ela fez uma cara de espanto e disse: Por que?
-Porque vai terminar me matando de paixão! (Que abordagem ridícula filho da puta, mas, foi a única coisa que veio a minha cabeça)
Mesmo assim ela deu uma grande risada e aí foi que deu umas dez reboladas girando em torno do corpo que, sem mentira nenhuma, fiquei armado até os dentes, parecendo que era membro da tropa de elite. Tentei acompanhar os seus passos sem a mesma competência, mas, com alguma desenvoltura, já que eu também era da putaria franciscana da noite carioca.
-Meu nome é Carlos, mas pode me chamar de Caleu que é como meus amigos me tratam! Falei quase gritando, pois a zuada na pista estava demais, tocando uma zorra de uma tal cantora chamada Quebra Barraco.
-E o meu é Margarida e me chamam de Margô!
Cheio de maldade na mente, imaginei logo mais tarde fazendo “bem me quer – mal me quer” tirando as pecinhas das suas micros roupas de uma a uma, para me deliciar até o dia raiar!
Continuamos dançando, já com algumas intimidades e beijinhos no decorrer da noite, nos identificamos mais, ela já me conhecia de vista e tinha algumas referencias confiáveis. Isso ajudou bastante para que se desvencilha-se das primas e dissesse que iria sair comigo e quando chegasse em meu ap telefonaria. Meu pai era diretor de uma empresa de comunicação e me proporcionava o privilégio de ter um carrinho e morar em uma kitinete.
Peguei meu Fiat preto rebaixado e saí cantando os pneus para me exibir para Margô, já que dirigia muito bem, graças um curso de piloto que fiz no exterior. Ela se agarrou a mim e disse: Vá devagar amor, temos todo tempo do mundo! Aí foi que deu vontade de correr mais, pois, com a voz sedutora, aquele corpo escultural, eu tinha mais era que já estar em casa!
Eu ia dirigindo com um sorriso que vinha de uma orelha a outra, que nem o meu bigodão tinha condição de esconder. Então, ao parar num semáforo vermelho, aconteceu o inesperado. Apareceu ao meu lado uma moto com dois caras, um deles com uma arma na mão e ordenou que eu saltasse imediatamente senão atiraria. Margô começou a chorar e eu, para evitar uma tragédia, saltei e o cara disse para ela ficar, pegou o volante e se picou levando minha flor totalmente assustada.
Quando o carro arrastou o da moto mandou que eu ficasse quieto, pegou minha carteira e celular, dizendo que se eu avisasse a policia a mulher ia pagar caro. Fiquei sem saber o que fazer e, depois de alguns minutos fui a um orelhão e liguei para um amigo para me socorrer. Quando meu amigo chegou, contei a história e ele me levou para casa para estudarmos o que poderíamos fazer sem constituir perigo para Margô. Então resolvi ligar para o celular dela (que havia anotado e estava em meu bolso) e, para minha surpresa, ela atendeu e me disse que eles tinham deixado ela perto de sua casa e foram fazer assaltos com o carro. Mas, nada fizeram com ela.
Fiquei mais aliviado e era um problema a menos. Agora era avisar a polícia para recuperar o carro.
Fomos ao distrito, foi feito o BO (boletim de ocorrência), comuniquei ao seguro e, logicamente, a minha família que morava na Pituba em Salvador. Isso já era 06:40 da manhã, dia claro, não comi ninguém e ainda perdi a carteira, documentos, celular e o carro!
Nunca mais Margarida quis nada comigo e, na realidade, não foi como eu queria, mas, a merda da minha comemoração do vestibular, foi inesquecível!
*Escritor–Historiador-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL- antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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