Antonio Nunes de Souza*
Nada tendo a
fazer, aproveitei para ir a uma academia de danças para ver se me entusiasmaria
em recordar o passado, voltando a dar os meus passinhos de bolero “dois pra
cá/dois pra lá”, que era a base fundamental da dança da minha época.
Lá chegando
fui logo bem recebido por uma moça bonita, que era a recepcionista, me deixando
a vontade em uma poltrona em frente a sala, dizendo que, enquanto não começava
a aula de dança de salão, poderia ficar apreciando aquela turma dedicada a
dança do ventre. Postei-me confortavelmente e, embora não fosse aquilo que
queria, nada mal apreciar um grupo de mulheres rebolando dos pés a cabeças,
exibindo sensualidades e caras e bocas cheias de lascividades.
Rapaz, não
nego não! Fiquei assanhadíssimo com o que estava vendo e a cabeça parecia uma
maçaneta rodando de um lado para o outro, procurando ver quem melhor
apresentava os tremeliques da barriga, tremores cadenciados dos quadris e os
umbiguinhos fundos e sedutores parecendo olhos curiosos piscando para mim. E
pior ainda, aliás, melhor ainda é que, para acentuar os ventres nas
desenvolturas da coreografia, todas usavam saias e calças beirando as virilhas,
deixando que fossem vistas algumas penugens que, por mais que não queiramos,
nos dá uma excitação desgraçada imaginando o que tem logo abaixo.
Pensei logo:
Que dançar bolero zorra nenhuma! Vou ver se me matriculo somente para apreciar
essas aulas e, se alguma aluna precisar de um partner após as aulas, colocarei
meu velho ventre a disposição para funcionar, mesmo que seja apenas para frente
e para traz no básico movimento que sempre foi prazeroso e, se facilitar, ainda
enche qualquer ventre por nove meses. Claro que somente farei apresentações sem
platéia, pois, para essa função, sou muito tímido e discreto.
Quando eu
estava me deliciando nos meus devaneios, a moça da recepção bateu em meu ombro
e disse: Vai começar a aula de dança de salão na sala ao lado. O senhor que ir
até lá?
- Olhe moça, enquanto estive aqui, matutei um
pouco e achei que a dança do ventre é bastante interessante e, se não for
incômodo, gostaria de me matricular apenas como assistente, no sentido de
melhor conhecer essa arte milenar muito cultuada na Índia e nas Arábias,
aumentando meus conhecimentos sobre esse patrimônio cultural, uma vez que estou
terminando um curso de licenciatura de história.
-Infelizmente,
não matriculamos alunos que não participam, efetivamente, das aulas. Se o senhor
desejar se integrar a uma turma, começaremos uma na próxima semana e aí servirá
não só de estudo, como também aprender essa dança misteriosa e bonita.
Nem
titubeei! Pedi a ficha, fui preenchendo, paguei a matrícula, me despedi com as
recomendações de horários, trajes, etc., saindo sorridente de volta para casa.
Para
encurtar a conversa, vou logo contar o final dessa minha louca aventura, depois
de seis meses de aulas:
Comecei com
as rebolações iniciais, fazendo as gesticulações com as mãos e os ombros, dando
passinhos cadenciados, jogando a cabeça de um lado para o outro, muitos
trejeitos nos olhares e na boca, meu umbigo entrava e saía na barriga que
chegava a encostar na coluna e, sem sentir, eu já estava, tremendamente,
aviadado e as meninas me apelidaram de “Lacraia”.
Pois é meus
amigos! Não comi ninguém, fiquei afrescalhado demais e, depois de fazer dezenas
de sessões de análises, meu psicanalista recomendou que me matriculasse em um
curso de karatê ou capoeira para tentar voltar as minhas origens.
Saí dali
correndo, fui a uma academia e tomei logo as providências. Mas, meu Deus,
tomara que eu não saia de lá brigando pelas ruas e me transforme em um Pitbull!
Escritor-Membro da Academia Grapiúna
de Letras-AGRAL-antoniomanteiga.blogspot.com - antoniodaagral26@hotmail.com
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