Antonio
Nunes de Souza*
Essa célebre frase que foi
bastante usada no passado, mesmo com o decorrer do tempo, ainda é ouvida em
muitas ocasiões. Entretanto, não com tanto poderio de amedrontamento como se
ouvia nos velhos tempos, já que as autoridades federais, civis e militares já
estão mais libertadas de tais afrontas, licenças para que atuem de conformidade
com as leis, reprimindo e advertindo todos aqueles que, de uma maneira
qualquer, estão negligenciando com as normas estabelecidas no país. Mas, mesmo
assim, ainda temos os prepotentes e arrogantes que ocupam altos cargos públicos
(até baixo às vezes), patentes militares, políticos (esses, principalmente,
inclusive seus familiares) que, aproveitando-se das suas posições, afrontam as
autoridades que estão desempenhando suas dignas funções, nas ocasiões em que
cometem erros e, logicamente, são chamados a atenção para que se identifiquem e
justifique o ato cometido. Não vou nem me ater às ocasiões quando vão a um
órgão público e querem ser atendidos imediatamente, não considerando as ordens
de chegada ou as marcações de horários. Esse comportamento insólito passou a
ser denominado de ”carteirada”!
E Adilson, capitão do
exército já reformado, conhecido no quartel quando estava na ativa pela alcunha
de Tenente Boquinha, sempre que tomava suas caninhas habituais, cometia alguma
atitude fora das normas e padrões que ampliavam cada vez mais as pontuações
negativas em sua carteira de habilitação. E, mesmo sabendo que pouco funcionava
atualmente, sempre usava desse expediente que algumas vezes colava com bons
resultados.
Certo dia no fim da tarde,
vindo do seu barzinho favorito onde tomava seus drinques e cerveja, invadiu o
semáforo e atropelou uma senhora, felizmente causando leves arranhões. Aí, o
guarda de trânsito Nigro que estava retado da vida, pois sua ex-mulher tinha
pedido aumento de pensão alimentícia para os filhos, sua casa tinha sido
invadida pelas chuvas destruindo os móveis e utensílios, seu velho carro tinha
estourado o motor, seus cartões estavam atrasados e, para completar, sua mãe
com 80 anos estava doente precisando de cuidados especiais que, somente com
dinheiro se consegue. Literalmente, assuntos bastantes para deixar uma pessoa
puta da vida e louca para descarregar seus azares.
-Favor senhor, desça do
veículo e apresente os documentos!
Foi quando Capitão Boquinha
na maior galhardia disse: Você sabe com quem está falando?
Soldado Nigro, retado da
vida, nem titubeou: Sei sim. Com um filho da puta que atropelou uma senhora,
com cara de tomador da cana e metido a porreta querendo tirar onda com minha
cara. Passe-me logo essa porra desses documentos antes que lhe leve preso por
desrespeito a autoridade e ameaça de amedrontamento!
Nesse momento, Capitão
Adilson meio assustado com a reação do soldado, meteu rapidamente a mão no
bolso de trás da calça e, Nigro pensando que era uma arma que ele ia puxar,
sacou seu trinta e oito e mandou ver bem na testa do militar que, imediatamente,
caiu duro para o lado do carona. O soldado se picou, fugiu e até hoje ninguém
sabe onde foi parar e se esconder. A mulher atropelada testemunhou a favor do
soldado dizendo que o capitão tinha desacatado e agredido o guarda, logicamente,
para livrar a cara dele e condenar o sacana que havia lhe atropelado dentro da
faixa de segurança.
Como é habitual, o capitão
for enterrado com honras militares e, seus amigos de bar, mandaram fazer uma
placa e colocaram em sua lápide com os seguintes dizeres: “Você sabe por quem
está rezando?”
*Escritor – Membro da
Academia Grapiúna de Letras de Itabuna- antoniodaagral26@hotmail.com
– Blog Vida Louca – antoniomanteiga.blogspot.com
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