Antonio Nunes de Souza*
Depois de
muitos anos, seguindo o popular adágio que diz que “até as pedras se
encontram”, me deparei com uma antiga colega do tempo estudantil, quando
olhávamos uma vitrine no shopping. Sinceramente eu não a reconheci, e seria
impossível que isso acontecesse, pois ela nada tinha que lembrasse a mulher que
conheci no passado.
Depois
de olhar-me insistentemente, ela perguntou: Você é Antonio Nunes?
-Sim.
Sou eu mesmo! Exclamei com uma dose de curiosidade e estranheza, já que
desconhecia completamente minha interlocutora. Mas, como escrevo em alguns
jornais e minha foto é publicada, imaginei que era alguma leitora.
-Que
conhecidência incrível esse encontro! Fomos colegas de colégio na juventude e
tem muitos anos que perdemos o contato em função dos caminhos diferentes que
seguimos. Eu sou Marly a filha do pastor Raimundo, que todos me tratavam como
“Marly crente”.
Olhei
demoradamente para o seu rosto e, completamente estarrecido, consegui lembrar-me
dela, apenas por seu sorriso e voz conservados, que eram inconfundíveis,
bonitos e sedutores que, aliados ao seu antigo corpo, milimetricamente, bem
esculpido, fazia com que fosse a mulher mais desejada do colégio.
Abraçamo-nos,
trocamos beijinhos na face e, lógico que foi uma alegria esse casual
reencontro, sendo uma pena que além do sorriso e da voz, no resto ela estava
mais derrubada que o antigo e tombado colégio da Divina Providência. Seu corpo
não lembrava em nada aquela tesão de mulher, que me fez praticar manipulações
pecaminosas por dezenas de vezes no silêncio da noite e nos banhos.
Infelizmente, eu não fui um dos agraciados de ter Marly em meus braços, pois,
como éramos da mesma idade, as mulheres sempre preferiram se relacionar com homens
mais velhos e experientes (até os dias de hoje esse costume ainda é comum).
Sofri bastante com esse preconceito, principalmente quando ouvia comentários
que elas não eram “leite Ninho” para desmamar crianças! Mas, creio que todos os
jovens já passaram por isso na vida!
Enquanto
ela falava sem parar contando a trajetória da sua vida, eu rememorava aquele
maravilhosos passado e via Marly sapeca e sagaz, namorando com quase todos os
alunos mais velhos e adiantados, praticando as maiores sacanagens da época,
pois, as garotas que se comportavam assim eram chamadas de “putanheiras”. Podia
fazer tudo, mas, conservando a virgindade que era um idiota tabu. E ela abusou
o mais que pode. Enquanto seu pai apascentava as ovelhas nos cultos
evangélicos, ela apascentava os lobos as escondidas sem nenhuma cerimônia e
pudor, Uma vanguardista na arte de “ficar”!
Depois
de um bom papo sobre o que fizemos esse longo tempo que passamos sem nos ver,
nos despedimos e ela saiu caminhando com seu corpo pesado e claudicante pelas agruras
do tempo, e eu pensei meio preocupado:
-“Será
que ela também achou que eu estou uma merda?”
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL–antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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