Antonio Nunes de
Souza*
Gosto de seguir as tradições antigas, mesmo sendo adulto, pois, assim
fazendo, continuo vivenciando minha vida de criança cheia de ilusões e
esperanças. Não consigo envelhecer nunca! Somente os tolos se deixam vencer
pelo tempo, contando ele, anualmente, como se fosse fazer uma coleção e
dando-lhe uma importância que ele não é merecedor, já que o seu trabalho
principal é ir passando, sorrateiramente, na expectativa de nos debilitar a
cada dia.
Aprendi a contar “momentos agradáveis” da minha vida e, se foram
agradáveis, a duração não tem nenhuma significação: Foi bom e pronto! E, dessa
forma, tenho sempre em mente catalogada uma coletânea de alegrias
inesquecíveis. Os “momentos desagradáveis”, que todos nós também passamos, são
esquecidos, automaticamente, pois os transformo em meras lições de aprendizado
de vida.
Voltando a “minha infância querida que os anos não trazem mais”, porque
também não deixei que fosse levada, tenho que confessar, sem medo de ser
considerado utópico ou tolo, que ontem a noite coloquei o meu sapatinho na
janela (já que moro em uma casa de dois pavimentos e não tem perigo do ladrão
levar), na doce esperança do bom velhinho resolver aparecer e colocar algum
presente para mim. Nada é tão gostoso e aprazível que alimentarmos certas
ilusões em nossas mentes, vivendo expectativas de coisas surrealistas e
inacreditáveis. Aprendi isso lendo o Pequeno Príncipe, e jamais esqueci!
Ao acordar, mais que depressa, fui à janela olhar o que tinha
acontecido, pois, mesmo um pouco descrente, nunca se sabe o que essa vida louca
pode fazer acontecer.
Sabe o que encontrei?
Meu lindo par de sapatos totalmente ensopado!
Aí fiquei imaginando: Não choveu durante a noite e o sereno que poderia
ter caído na madrugada não seria suficiente para tal molhação. Então, olhando
pensativamente para o meu querido calçado, logo me veio à mente, que Papai Noel
não tendo condições de me presentear com o que mais eu gostaria de receber,
chorou de tristeza e, com suas lágrimas, apresentou suas desculpas,
desejando-me paciência para aguardar o decorrer do ano que começa.
Achei ótima essa analogia simplista, porém, somente em parte
convencedora. E, como não coloquei uma cartinha dizendo o que realmente
desejava ganhar, matutei o que será que ele imaginou que fosse meu desejo para
levá-lo aos prantos. Sinceramente, tive pena d’ele ter chorado por se achar impotente
para me atender, mas, teria preferido e ficado mais alegre e feliz, se em vez
de lágrimas, tivesse deixado meus sapatinhos cheios de sorrisos!
Mas, quem sabe se um dia isso não acontecerá?
*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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