quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A VINGANÇA!

                                  Antonio Nunes de Souza*

Muito acima do peso, dentes proeminentes e usando óculos fundo de garrafa, ou seja, gorda, dentuça e quatro olhos, sinceramente, torna-se um prato cheio no colégio para seus colegas gozarem a vontade, colocarem apelidos maldosos e tratarem a pessoa com desprezo constante. E, naquele tempo, não existia esse nome americano bonito (bullying) para caracterizar o comportamento. Era uma montanha de apelidos sacanas e depreciativos, sem o mínimo respeito humano pela aquela menina de dezesseis anos apenas, e outros independentes das suas idades.
Na verdade não existiam combates punitivos com relação a esse comportamento, já que qualquer um que tivesse um diferencial qualquer (físico ou gestual) era logo apelidado de alguma forma. Era uma característica dessa cidade do interior, que é muito peculiar no norte/nordeste, onde esse comportamento faz parte dos seus folclores!

Depois de sofrer anos seguidos nas garras dos colegas sacanas e debochados, um dia, o pai de Maria Rosa (esse era o seu nome), por ser funcionário público federal, foi transferido através de uma boa promoção para trabalhar em S. Paulo. Foi um grande furor dentro da família, pois, com esse deslocamento inesperado, seus vencimentos seriam quadruplicados e, pela sua capacidade técnica, ainda teria uma série de benefícios complementares (casa, carro, plano de saúde especial, além de outras coisas mais que são destinadas aos funcionários graduados dessa bendita nação.
Como teria o prazo de quinze dias para se apresentar, trataram todos de preparar seus paninhos de bunda e, sem despedidas maiores, seguiram todos num vôo da TAM e os apetrechos num caminhão da King Transportadora. Chegaram e se aconchegaram numa bonita e confortável casa num condomínio fechado e de alto gabarito, deixando todos (os pais, Maria Rosa, o irmão Luiz e a empregada que eles levaram por ser alguém que já estava com a família há mais de dez anos) deslumbrados com a mudança radical de status.

Todos se posicionaram em suas atividades e, Maria Rosa que era uma aluna exemplar, matriculou-se em uma maravilhosa escola, começou a malhar diariamente, colocou um aparelho ortodôntico para corrigir as arcadas dentárias e, para completar, fez uma cirurgia oftalmológica, eliminando, categoricamente, a necessidade de usar óculos. Abreviando, o fato é que depois de cinco anos ano, Rosinha (como era chamada em casa), tornou-se uma mulher linda, charmosa, sensual e com o semblante feliz que nunca foi visto durante a sua vida de discriminação na sua cidade natal. Formou-se em jornalismo, fez um teste na Globo e logo foi escalada para apresentar um dos jornais, já com o pseudônimo sofisticado de Rosana Rosenberg!

Com um ano na Plim-Plim, namorou vários galãs, viajou por meio mundo e casou-se com Marcelo Anthony, complementando a sua realização de ter vencido uma série de adversidades que jamais imaginou que pudesse acontecer!
Então, nada disso adiantaria se não fosse à oportunidade de voltar a sua cidade natal como uma mulher consagrada, vencedora e, acima de tudo, linda e desejada. Preparou um projeto sobre o modismo atual do combate ao “bullying” e seguiu no jatinho particular global, chegando à cidade recebida com as maiores honras. Fez seu trabalho, viu uma porção que, no passado, lhe criticavam, gordos, barrigudos, feios, idiotizados e com seus trejeitos interioranos, aparecerem em sua frente, ainda com as manias de apelidos idiotas e depreciativos. Sentiu pena de ver os olhares de inveja!

O fato é que riu muito intimamente, sentiu-se vingada e, no fim do dia, voltou para sua maravilhosa vida em Sampa, não deixando de, no íntimo, agradecer aquele povo que, com seus comportamentos, lhe deram forças e coragem para dar uma volta por cima e transformar-se em outra pessoa.
Esse fictício exemplo mostra que, quando queremos...também podemos! Jamais nos acomodar e achar que não temos capacidade para realizar nossos sonhos. Lógico que temos que enfrentar uma grande luta, porém seja sempre guerreiro meu amigo ou amiga! Se outros podem, vocês também podem, pois, não existem pessoas mais especiais que vocês!

*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniomanteiga.blogspot.com – antoniodaagral26@hotmail.com

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