domingo, 28 de julho de 2019

AFLIÇÕES DE UMA GORDA!

Antonio Nunes de Souza*

Como que eu não posso ter complexo?
É, dramaticamente, uma vida filha da puta, sempre olhada com desdém, risos escondidos quando passamos e, na praia então, somos sempre chamadas de baleias, as mães chamam as crianças em tom de deboche dizendo: cuidado meninos que a maré vai encher com a entrada de Orca na água!
Claro que sinto uma raiva mortal com essas observações repugnantes. Basta no tempo de escola, que sofri pra caralho com os apelidos que me botavam, a maneira que se dirigiam a mim, sempre com risadas e gozações, e eu segurava a barra, estudava muito, mas, nunca ensinava a sacana nenhum nas ocasiões das provas. Deixava todos se foderem, principalmente aqueles que mais me sacaneavam.
Porém, no fundo tinha uma inveja retada das minhas colegas magrinhas e charmosas, sempre estavam com namorados, dançando nas festas, se apresentando nos desfiles dos eventos escolares. E eu, até nas apresentações teatrais, somente uma vez fui requisitada para fazer o papel de um elefante, numa peça sobre os animais da África. Fiquei puta da vida, mas, tive que fazer a representação por que valia nota.
Realmente eu sou muito gorda, porque a minha mãe sempre me forçava comer, inclusive dizia que só me daria as coisas se eu comesse tudo do prato. Então...para ganhar as coisas, inclusive minha semanada, comia as vezes, até mais do que ela exigia. Resultado: Tenho 1,55 e peso 80 quilos. Uma desproporção da porra!
Estou com 19 anos, já na faculdade e, a única vez que quase consegui transar com alguém, foi um cara feio pra caralho, que provavelmente não arranjava porra nenhuma e, me convidou para sair. Porém, nem me levou para algum lugar agradável, seguiu com o carro direto para um motel. Eu estava super tensa, porém, como seria a minha experiência sexual, segurei a barra, suando bastante nas mãos.
Entramos, fomos para o quarto, trocamos uns beijinhos, ele me jogou na cama, começou a tirar sua roupa e eu também fui fazendo a mesma coisa. Estava com uma vergonha filha da puta. Porém, era a minha primeira sensação de um possível orgasmo, tão comentado pelas meninas.
Aí foi que aconteceu a merda!
Ele quando me olhou nua, com a cara mais cínica do mundo, disse para mim: Você pode dar uma mijadinha para eu seguir o rastro e achar sua xoxota?
Com o maior ódio, me levantei, dei-lhe um tapa na cara, vesti minha roupa e saí porta a fora morrendo de raiva.
Tomei um taxi, voltei para casa, entrei ainda chorando muito, fui para o quarto sem ninguém perceber, e pensei comigo mesmo: “Minha mãe, querendo ser boazinha, somente fez me foder!”
Ajoelhei jurando que iria para uma academia na segunda feira, e faria um puto regime para modificar minha vida!

*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com

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