segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O menino aventureiro!

O menino aventureiro!


Antonio Nunes de Souza*

Todos nós, talvez sem nenhuma exceção, alguma vez na vida tivemos vontade de sair pelo mundo afora, com todas as liberdades, sem controles familiares e podendo fazer o que desejar e vier em nossa cabeça!

Sendo que, com todos esses libertos e maravilhosos desejos, não percebíamos que, para tanta liberdade, se fazia necessário que alguém bancasse as despesas básicas, diárias normais para a sobrevivência. Talvez, quando pensávamos nessa parte, nossos ímpetos cessavam um pouco e preferíamos ter que obedecer as regras familiares! Isso também, já na fase dos dezesseis aos vinte e um anos, quando conseguíamos uma namorada, nosso afobado pensamento era de casar, ter filhos, provar nossa hombridade e masculinidade, etc., pela mesma forma, pensando em quem bancaria essa beleza de vida, segurávamos nossas tesões de adultos e preferíamos viver como todos viviam, sendo dependentes das famílias e fazendo o que exigiam: estudar!

Porém, mesmo com essas situações onde com cautela se mudava de opinião e desejo, sempre ocorrem casos que, seus desfechos foram diversos, sendo alguns maravilhosos e outros, lamentavelmente, trágicos. Nesse caso vou me ater a história de Waldemar, garoto esperto da nossa cidade, bem falante, tocador modesto de violão, cantor com suas desafinações, mas, por essas proezas, mesmo não sendo nada de especial, para nossa cidadezinha, era considerado alguém interessante!

Entretanto, isso era pouco para ele, uma vez que, já com seus 15 anos, achava que não poderia ficar mais naquela cidade cheia de limitações. Pegou um dia uma quantia de dinheiro na gaveta da loja do seu pai e, no dia seguinte, seguindo um camelô que apareceu vendendo remédios para “tudo”, fazendo demonstrações na praça com uma jiboia como chamariz, combinou que seria seu auxiliar, cantaria e tocaria para reunir compradores e ainda cuidaria da alimentação da jiboia que se chamava Sabrina! Tudo certo, pegaram o ônibus na madrugada e foram para o alto sertão, levando Waldemar como novo integrante da companhia do camelô!

Esperto como era, tratou de continuar estudando, mesmo sozinho ou em escolas quando demoravam na cidade, melhorou o dedilhar do violão, aprimorou sua voz com o tempo e, com 18 anos, já fazia sucesso quando abria a roda para as vendas, recebendo aplausos e compras dos seus CDs, que ele mesmo gravava nas pensões!

Foi aí que um dia, um produtor musical, passando pela rua ouviu a voz de Waldemar e os gritos e animação da roda. Aproximou-se e falou no pé de ouvido do nosso cantante que, assim que parasse queria conversar com ele. Mesmo sem saber do que se tratava, por ser um homem bem apessoado, deu logo uma parada estratégica e colocou-se as ordens. O homem se identificou, falou que gostou do seu desempenho e estava disposto a investir em sua carreira, pois via a possibilidade de grande futuro. Wavá como era chamado normalmente, ficou branco e sem acreditar no que estava acontecendo. Olhou para Durval (o camelô) e falou do convite. E, como já havia um amizade quase paternal, Durval o incentivou e foi marcada uma entrevista no dia seguinte no escritório do homem!

Para encurtar a conversa, depois de três meses de aulas de danças, performances, rebolados, músicas bem escolhidas para o atual gosto, jeito de cantar com a voz vinda do intestino, explicitando letras cheias coniformes fecais, Wavá foi dado como pronto para enfrentar o exigente (?) público atual!

Com muita mídia, palco imenso das maiores estrelas, luzes das mais modernos, banda escolhida a dedo, etc. assim foi lançado o novo cantor: WAVÁ S’ANTANGELO, o rei dos reis! E o sucesso foi absoluto, pois, no dia seguinte já estava convidado pra se apresentar no Programa do Jô!

Esse foi um caso que deu certo, mas, se você procurar, vai encontrar um bocado de Wavás que se deram mal e voltaram para casa cheios de vergonhas e nas maiores merdas! Portanto, vale a pena ter cautelas, pois, “cautela e calda de galinha não faz mal a ninguém”! Não fiquem esperando as coisas caírem do céu e nem tão pouco deixe de fazer com que as coisas aconteçam!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodagral26@hotmail.com



Nenhum comentário: