quarta-feira, 27 de julho de 2011

A que devemos isso?

                                                                        Antonio Nunes de Souza*

Estamos convivendo como se fossemos animais irracionais, assustados e com medo uns dos outros, desconfiando até das nossas sombras. Antes nos sentíamos seguros quando estávamos nas ruas, pois, devido o movimento das pessoas, dificilmente algum ladrão ousava nos roubar ou assaltar com medo de ser preso ou linchado pela população. Uma dupla policial apelidada de “Cosme Damião” rondando a cidade, eventualmente, era suficiente para nos dar guarida e tranqüilidade em nossos passeios matutinos, vespertinos e noturnos.
Podemos dizer que eram anos dourados, tranqüilos e serenos. Até a movimentação de veículos era mais suave, uma vez que automóvel somente os privilegiados podiam comprar. Atropelamento era algo raro e, mesmo assim, quando ocorria era devido uma criança que corria atrás de uma bola ou algum idoso que atravessava a rua distraidamente. Semáforos e câmeras nós nem imaginávamos que um dia pudesse existir, já que a necessidade era inexistente.
No entanto, hoje com o tal progresso e a tecnologia, as coisas mudaram de tal forma, que se tornou um verdadeiro tormento, simplesmente, viver em todas as circunstâncias possíveis.
Pode você achar que sou um exagerado, mas, vou citar alguns poucos exemplos que, com certeza, você concordará comigo:
Você acorda quase que na madrugada, toma café as pressas e sai para trabalhar ou estudar. Se for de carro vai enfrentar um trânsito miserável cheio de engarrafamentos, ruas esburacadas mal sinalizadas e motoristas impacientes cheios de mau humor matinal.  Se for de moto-táxi torna-se uma aventura super radical, a certeza de chegar vivo é remota, fica tenso e o furico travado que não entra nem sai pensamento. E, se tiver a desdita de ir de ônibus ou metrô, primeiro tem que dar sorte de conseguir entrar, depois ser uma “cagada” de sorte de encontrar um lugar para sentar, senão, vai em pé no bolo e sempre aparece um cara horroroso para ir fazendo “terra” em sua bunda (você não tem como escapar dessa) e, se pegar esse transporte para ir e voltar, quando chegar em casa pode olhar no espelho que tem uma mancha roxa na bunda pelas pressões recebidas.
Ao chegar ao trabalho, depois de uma aventura digna de Indiana Jones, se arruma novamente no banheiro, conversa com os colegas fazendo e ouvindo queixas, preparando-se para enfrentar um patrão cheio de problemas, estressado e impaciente em função dos pepinos da empresa. Se você for bonita e gostosa e já deu para ele, ele lhe alivia um pouco, mas, se for feia e segura, prepare-se que tudo de errado que acontece é sempre você que vacilou. Esse comportamento é uma regra que já faz parte da cultura brasileira!
Depois de uma manhã de expediente, você vai a um fast food próximo, geralmente a kilo, pega uma fila e vai se servir de alimentos que você desconhece a procedência, validade e a higiene utilizada na sua confecção. Sempre estará passiva de uma disenteria no dia seguinte.
Durante a tarde, se teve a felicidade de não ter tido um arrastão ou seqüestro relâmpago na sua empresa, prepara-se para retornar para casa a noite sofrendo as mesmas conseqüências da manhã, com os agravantes da possibilidade de ser vítima de assalto, ser estuprada, ganhar de brinde uma bala perdida, ou ser atropelada atravessando a faixa com o sinal aberto para você. Ainda tem um pequeno detalhe que me esqueci de citar, que ocorre no ônibus e metrô: muitas vezes soltam uns puns daqueles apelidados de “ninja”, pois chegam silenciosos e matam todo mundo. E você coitada, não tem como escapar dessa tragédia odorífera.
Você chega em casa mais morta que viva, toma um banho revitalizador, come algo e depois senta na sala para ver televisão e, as notícias que são transmitidas são tão cruéis e absurdas, que   por pouco não escorre sangue no seu tapete jorrado pelo aparelho de TV. Logo o sono chega, você fecha as portas e janelas com trancas e cadeados, faz uma oração agradecendo a Deus por estar viva e vai dormir para enfrentar tudo novamente na manhã seguinte!
Como podemos dizer que isso é vida? Queiramos ou não, temos que ser nostálgicos!
*Escritor (Blog Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com)

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