Antonio Nunes de Souza*
Tenho percebido que, semanalmente, são abertos novos bares em nossa cidade e podemos dizer que em cada rua existe pelo menos um para atender as diversas clientelas. Conversando em casa com meu experiente e conselheiro avô, falei da minha surpresa com relação a esse tipo de comércio estar ampliando numa proporção exagerada. Aí ele logo retrucou: Meu netinho a invasão de bares em uma cidade que não é pólo turístico representa decadência, falta de formações profissionais, falta de empregos, cultura e educação!
Ele falou com tanta segurança que, em vez de pedir explicações, preferi matutar um pouco, raciocinar encima de sua afirmativa, para depois dar meu parecer. Logo comecei a analisar, seguindo a ordem das razões apresentadas pelo meu guru, para ver se realmente mais uma vez esse homem estava com razão. A decadência foi no cacau, não somos pólo turístico e, dificilmente seremos, pois, todo acervo histórico que representa nosso passado já foi ou está em vias de serem derrubados. Aqui a palavra ”tombar” é traduzida como dar um tombo e jogar no chão.
Seguindo minha linha de raciocínio, vi claramente, que por falta de capacitação profissional para enfrentar as vagas de empregos cada dia mais exigentes com relação às qualificações, descobrem que é bem mais fácil enveredar por esse comércio informal, uma vez que basta apenas alugar uma garagem, que os fabricantes de bebidas fornecem as mesas, cadeira, geladeiras, freezer, além das bebidas em consignação e um letreiro luminoso com suas marcas. O dono da nova casa comercial entra com os garçons (geralmente são os familiares) e os croquetes e salgadinhos terceirizados ou feitos pelas suas madames. Até os copos plásticos e os sombreiros vêm no pacote do contrato com a marca de bebida. E a música é claro, fica a cargo do modesto equipamento doméstico, que atende no dia-a-dia os filhos adolescentes ou com a colaboração de um amigo cantante e seu violão solitário.
Pronto! Está montado um novo bar e o “empreendedor”, que não tem capacitação para ser absorvido pelo mercado, começa mais uma aventura na sua vida, sem saber se realmente está fazendo um bom negócio, pois, também, se der errado, basta devolver os equipamentos, mandar segurar alguns cheques sem fundos e arranjar uma desculpa para justificar o fracasso!
Restou analisar a observação sobre cultura e educação, mas, rapidamente, captei o que influencia demonstrando a falta de cultura e educação: o serviço de péssima qualidade, músicas de gostos que não são duvidosos (são péssimos mesmo, além de ensurdecedores) e, assim sendo, a educação dos freqüentadores desses tipos de bares que proliferam, não são dignos de deixar que alguém normal, se sinta confortável e com prazer de um momento agradável. Sendo o mais absurdo a ocupação das áreas públicas com mesas, limitando as calçadas e perturbando toda vizinhança.
Mais uma vez comprovei que meu avô, do alto dos seus 90 e tantos anos, continua sabendo das coisas.
Aproveito para sugerir aos novos “empreendedores” que façam uma tentativa inovadora abrindo uma casa para que possamos tomar um chocolate (quente ou frio) tipo cafezinho, e venda também uma geléia de cacau, pois isso pode ser preparado pela própria família e será aconchegante já que a cidade não tem. Pelo menos eu desconheço e outro dia quis levar um visitante para mostrar e nos deliciarmos e, lamentavelmente, não encontrei.
Presumo que, por estarmos na região do cacau, um cantinho assim para um bom papo, ler um livro ou jornal, chocolatinho quente com beijus e torradas, ainda com umas cocadinhas de cacau para levar para as crianças, teria uma aceitação grande e supriria essa lacuna que, misteriosamente, até hoje não existe. Creio que é um assunto para se analisar com carinho. Seria, verdadeiramente, um “bar doce bar!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário