Antonio Nunes de Souza*
Seu
nome na verdade era Cristina, mas, se perguntassem no bairro quem era Cristina,
ninguém saberia responder, pois, desde criança era chamada de Tininha. Ela era
filha de seu Manoel, dono de uma oficina de veículo de porte médio, viviam no
bairro de Amaralina, apartamento legal e uma vidinha de classe média,
juntamente com um irmão e sua querida mãe dona Rosário!
Seria
ou era tudo normalíssimo, uma família desse estilo de vida em qualquer
comunidade, não fosse, sem a mínima necessidade, Tininha e seu irmão Fernando
se envolverem com drogas, inicialmente leves e, com o passar do tempo foram
entrando pela cocaína, haxixe, craque, além do álcool e fumo. E como sempre
acontece, começaram a se endividar com seus fornecedores, sendo obrigados a
fazer favores sexuais (Tininha) e Fernando servindo de entregador de pedidos
pelos telefones, coisa que ele fazia, montado em sua moto Honda 600 cilindradas.
Como
sabemos todos, esses problemas vão se aprofundando cada vez mãos, até que um
dia, houve uma batida da polícia, no edifício que eles moravam, deixando seu
Manoel e dona Rosário enlouquecidos, e decepcionados com os comportamentos dos
filhos, que eles desconheciam completamente. As ordens de prisão alegavam
condição de traficante e vendedor de drogas para Fernando, e quanto a Tininha,
por ser a amante de um dos chefes de um dos pontos privilegiados do bairro.
Ele, conhecido pela alcunha de “Mendonça Paraíba do forró”, conseguiu fugir
para uma cidadezinha do interior da Bahia, e a federal já está em sua pista!
Foi
um escândalo terrível, toda rua em volta do edifício, centenas de curiosos e
conhecidos, os pais chorando, vendo seus filhos partirem algemados num furgão
policial!
Seu
Manoel fechou a oficina imediatamente e foi à procura de um amigo advogado, no
sentido de dar assistência total aos seus filhos que erraram (só Deus é que vê
seus filhos errarem e nada faz, alegando o “livre arbítrio”), seguindo para a delegacia
de drogas e entorpecentes. Lá chegando, não conseguiu libertar seus queridos filhos,
porém, a depender da justiça, no dia seguinte, seria arbitrada uma fiança e
eles poderiam responder em liberdade. Para Manoel o advogado da família Rommel
Vasconcelos, pela sua competência, garantiu que os soltaria no dia seguinte, já
que não houve flagrante e tinham a ficha limpa por serem primários.
Manoel,
bastante arrasado por ser um homem de bem e com ótimo conceito no bairro, ficou
confortando Rosário, dizendo-lhe que no dia seguinte resolveria em parte a situação.
Vale a pena e é importante dizer, que a “Bíblia Sagrada” é o único livro do
mundo, que prega o abandono do pai perante os filhos, alegando que os fez e criou,
mas, o que acontece é problema de cada um, e todos seus fiéis dizem e repetem
que Ele está no comando. É impossível entender tal coisa!
Logicamente, nenhum dos dois conseguiu dormir,
devido ao tamanho do problema e, principalmente, a surpresa da notícia, que
jamais esperavam dos seus queridos filhos.
Dia
seguinte, cedo estava lá na porta o advogado Rommel, pegou Manoel, que não quis
que Rosário fosse naquele ambiente deprimente, seguindo para o distrito. Lá
chegando, ficaram aguardando os posicionamentos da justiça, e as 10:30 horas,
foram chamados a sala do delegado, que disse que fora arbitrado uma fiança de
setenta mil para Fernando e trinta mil para Tininha, por ser apenas amante e
não se ter provas dos seus envolvimentos com vendas ou tráfico. Manoel, mesmo
sendo um homem de poucas posses, ficou alegre e feliz, falando com seu advogado
que venderia seu carro e pagaria a fiança ainda no mesmo dia, pois, faria tudo
para defender suas crias que tanto amava.
Saíram
sem ver os filhos, porém teve notícias que estavam bem, foi cuidar da venda do
veículo, que fez por preço abaixo da tabela, para atender as necessidades
prementes de salvar seus queridos filhos, mesmo vendo que foram errados (só
Deus é que não vende nada por filho nenhum, cada um que se vire – Bem estranho
isso). No fim da tarde, estavam eles (Manoel e Rommel) no distrito, já com o
dinheiro em mãos, e como Doutor Rommel prometeu, já estava toda documentação
pronta para ser assinada, assim foi feito e, em alguns minutos surgiu um
policial com Tininha e Fernando, ambos sem algemas, porém, usando tornozeleiras
eletrônicas, e mortos de vergonha perante todos, principalmente do seu bondoso
pai. O pai os abraçou e beijou, levando-os com um carinho paterno (que todo pai
deveria ter, principalmente os celestiais – não consigo entender!). Seguindo
todos para casa. Durante o caminho, Fernando com dezenove anos e Tininha com
18, choravam copiosamente, sendo consolados pelo seu compreensivo pai!
Foram
chegando, recebidos com amor e carinho pela sua sofrida mãe, ambos pediram
perdão, prometendo que jamais voltariam a fazer tais coisas pelo resto da vida!
E,
por incrível que pareça, ambos cumpriram suas promessas, voltaram a estudar,
Tininha formou-se em biologia e Fernando em filosofia, estando ele hoje em
Portugal, fazendo doutorado numa grande Universidade da Europa. E por
habilidade de seu advogado Rommel Vasconcelos, seus processos foram arquivados,
posteriormente anulados por bons comportamentos, hoje estão todos na maior
felicidade, depois de passarem momentos cruéis em suas vidas, graças ao seu
pai, senhor Manoel, que realmente estava no “comando” de seus queridos filhos,
e com muito amor e atenção colocou ambos nos trilhos, como todos os pais,
principalmente os celestiais, deveriam fazer!
Nesse
raro caso, podemos dizer que “Há males que vem pra bens!”. Como também que,
“nenhum pai que se prese, abandona seus filhos, mesmo nos erros mais cruéis e
condenáveis!”
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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