Antonio Nunes de Souza*
E esse ano
foi um feriadão retado e dos bons, dois de julho pra ninguém botar defeito,
porque na verdade não tem e nem teve. O couro comeu desde cedo, distribuindo
prazeres, que haja resistência física para aguentar!
Todo ano é
parecido, mas, o bom é que as semelhanças são sempre prazerosas e cheias de
alegrias e encantos, pois, nunca falta uma mulheraça para nos animar a voltar
todos os anos. Como sempre, coloco uma “beca” bem transada, camiseta regata da
moda, tênis Adidas, óculos Ray-Ban, pego o carro e, todo barbeado e perfumado
com Kouros, e sigo meu destino na esperança de me dar bem, como todo baiano que
se preza, e adora uma sacanagem em qualquer festa cívica, religiosa, profana ou
até evento fúnebre!
Fui pelo
Barbalho imaginando encontrar caminhos mais livres, já que havia ouvido e visto
na TV que algumas ruas seriam interditadas. Mas, mesmo por essa trajetória, o
trânsito estava como sempre uma merda total. Parece que todos pensaram o mesmo
que eu, e as ruas estavam congestionadas, tendo que parar bem distante do largo,
e fazer o percurso a pé. Porém, isso não me deixou chateado, pois, andando,
daria oportunidade de admirar melhor as pessoas que passavam, principalmente
aquelas que na minha maliciosa mente eu desejava ver, ou seja, a gandaia de
porraloucas, que vão com as mesmas intenções que eu: “dançar, sambar, beber, comer,
fumar e foder”. Isso mermão, com certeza não tem no paraíso nem para a turma do
comando!
Na proporção
que ia me aproximando a aglomeração aumentava o número de pessoas, já todos se
acotovelando procurando lugares privilegiados. Crianças, velhos, adultos,
estudantes, funcionários públicos, além de grupos de professores grevistas,
aproveitando a festividade para fazer protesto contra os políticos ausentes e
presentes, mostrando seus descontentamentos pelas não aceitações de suas
reivindicações, algumas pertinentes e outras nem tanto. Mas, tudo isso faz
parte da democracia e da badernagem, que é peculiar nesses eventos públicos, no
mundo que não tem ditaduras nem de direita nem de esquerda (duas merdas, que
idiotas apoiam)!
Notei de
longe que o cortejo estava começando, então parei em um ponto estratégico e
fiquei na espera da sua passagem, pensando em acompanhá-lo até o Campo Grande,
onde, certamente, haveria vendedores de cerveja, churrasquinhos e outras
iguarias, logicamente acompanhados de música e, com certeza absoluta, seria o
momento que eu suavemente encostaria em algumas gatinhas, no intuito de
encontrar uma ao meu gosto, para “ficar” numa boa, como faço anualmente. Nesse
particular, sou patriota pra caralho, pois, todo ano “mando ver” comemorando o
início da nossa honrada e sangrenta independência de Portugal. Um ano desse
qualquer, ainda vou pegar uma mulher que esteja menstruada, para que na cama,
possamos fazer um “vale a pena ver de novo”, com uma guerra respingando sangue
pra todo lado, retratando nossa antiga batalha, colocarei até o meu trompete na
boca da parceira para ela, como o corneteiro Lopes, dê o toque de avançar!
E não deu
outra! Assim que acabaram os discursos e todos começaram a se dispersar, havia
uma barraca que o samba de roda estava correndo solto e, no seu interior,
estava reunida a fina flor do mulherio que, como eu, estava ali com as mesmas
intenções minhas!
Comprei uma
cerveja geladinha e, ainda meio tímido, comecei a sacudir o corpo no ritmo bem
cautelosamente, mas, entrando na roda como quem não quer nada e querendo tudo
que tenho direito!
Mas, com dez
minutos, já estava sambando que nem uma carrapeta, mexia tanto a bunda,
acompanhando a moda, que fiquei até com medo de “desparafusar o cu” e ele voar
longe. Fui pegando as meninas pelas cinturas, procurando escolher quem seria
minha encantadora “Maria Quitéria”, que eu iria enfiar a espada!
“Quem samba
fica, quem não samba vai embora. Se é homem é meu senhor, Se é mulher minha
senhora”. Esse refrão do mais famoso samba de roda de Santo Amaro da
Purificação, ecoava ao som dos tambores, cavacos e pandeiros, provocando um
remelexo sensual e lascivo nas negras, mulatas e morenas que compunham a roda, além
de uns turistas desengonçados, estimulando desejos impiedosos nos mais pudicos
cristãos. Eu, por minha vez, sentia-me excitado não só de olhar, como também
com as “roçagens” eventuais que o apertado ambiente proporcionava. Regada de
bunda estava chovendo mais do que no Rio Grande do Sul, era só ir encaixando, a
gata mexendo safadamente e o couro comendo!
Colei numa morena
tesuda e deliciosa chamada Tabira, e passamos a dançar bem agarradinhos, sem nem
reparar que estávamos no meio de uma festa de largo. Aliás, como todos os
baianos, ninguém está mais ligando porra nenhuma, e nem quem está em sua volta.
O importante é quem está ao seu lado,
sua frente ou em seus braços. Assim sendo, segui essa regra benevolente e
continuei minha esfregação, sempre tomando mais uma cerveja para dar mais
animação, diminuir a inibição e, consequentemente, aumentar o tesão!
No anoitecer,
já era dezenove horas, bastante cansado e cheio de expectativas, convidei Tabira
(nome esquisito da porra, mas, gotosíssima) para irmos embora buscar o carro
que deixei pelas bandas do ICEIA, e de lá seguiríamos para meu apartamento
selar com chave de ouro nossa louvação aos Caboclos, expulsão dos “portugas”, e
ao nosso digníssimo dois de julho. Ela, sem pestanejar, avisou as amigas que
estávamos indo, trocamos beijinhos de despedidas, pois já estávamos todos muito
íntimos. Pegamos um táxi e seguimos nosso destino, sorrindo, nos alisando,
ambos pensando na boa foda, que seria em homenagem ao corneteiro Lopes, que em
vez de tocar para nossa tropa recolher´, por erro ou sacanagem, tocou o toque
de avançar, aí a putada foi em frente se fodendo de qualquer jeito, e botou a
raça pra correr. Essa é a parte cômica da história, que pouca gente sabe, Temos
até uma rua em Salvador com o nome dele!
O restante sempre
é uma reprise com algumas nuances novas, pois foi uma noite maravilhosa cheia de
transas pecaminosas em diversas posições caboclas, cívicas e patrióticas, eu
sempre hasteando Tabira no meu mastro, ela tremendo como se fosse uma bandeira
ao vento, homenageando a nossa data magna baiana com suspiros e gemidos de
prazer!
Tabira deu
uma lição de cidadania, como uma heroína pegava minha espada e, com prazer e
classe, enfiava em todos buracos do corpo, deixando-me como se fosse um grande
guerreiro voltando feliz de uma enorme batalha!
Fui mais uma
emoção cívica que, orgulhosamente, participei e acho que essa festa deliciosa
deveria ser comemorada todo dia dois do ano, menos o de novembro, que é dos
finados, e a sacanagem é um pouco mais discreta!
Acho que vou
ter um “cacho” temporário com Tabira, pois, a mulher é uma tesão, e até sua
xoxota tem um gostinho de acarajé!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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