Antonio Nunes de Souza*
Como
prometi e nunca deixo de cumprir, estou dando sequência a religiosa e sagrada
missão do grande e venerado S. Benedito!
Aportou
em Salvador através de uma ação milagrosa do Senhor, sendo esta a última que
receberia, até o dia de seu retorno, ou seja, seis meses depois, tempo
suficiente para ele questionar, estudar, analisar, conviver e, certamente,
tirar suas conclusões e levar seu relatório!
Para
ficar no centro da cidade e no pedestal da negritude, escolheu um hotel de
classe regular no Pelourinho, foi para seu apartamento, onde, por sorte, da
janela descortinava uma linda vista para a casa Jorge Amado e as sedes dos
famosos blocos Olodum e Filhos de Gandhi. Podia-se dizer que estava no centro
das atenções de Salvador e dos turistas do mundo inteiro!
Comprou
logo nas lojinhas instaladas na rua, camisas estampadas, bermudas, sandálias,
uma bandana e, num piscar de olhos, estava um autêntico baiano, até com o charme
do sorriso e andar que, santificadamente, já tinha se preparado para enfrentar
os bate papos e as conversações com os nativos!
Tomou
um taxi, foi para o Shopping Barra e lá comprou umas calças Jeans, camisas,
camisetas regatas, cuecas, bermudas discretas e coloridas também, sandálias
abertas e fechadas, dois tênis e outras coisas básicas que todos nós sabemos
quais, principalmente um celular que é a maior arma de comunicação do momento!
Gastou
uma puta nota, mas, como a verba de representação era liberada, nem se
incomodou com esse detalhe. Mandou bala!
Voltou
das compras ao anoitecer, tomou um bom banho numa enorme Hidro massagem, que
lhe deixou fascinado e pensou: “no céu não tem nada disso, o pessoal lá tá por
fora!”
Vestiu
uma das roupas que havia comprado e, olhando-se no espelho, logo disse: ESTOU
BONITO PRA CARALHO! (Vale dizer que tinha permissão para usar o linguajar dos
terráqueos, mesmo os feios e chulos, para que não despertasse desconfiança). E
Benedito, já sentindo-se um “afrodescendente baiano”, não economizou as
expressões locais, aprendidas telepaticamente, pela sua condição de santo,
antes de sair do céu. Era sexta-feira, fim de semana, dia que a vasta boemia
fervilha no Pelô com os ensaios das bandas, euforia dos turistas vermelhões das
praias e seus requebrados fora dos compassos, mas, nas cadências dos tambores.
Benedito acercou-se de um bar movimentado, encostou no balcão e o barmen
perguntou logo: Diga aí Bahia, o que é que manda? Ele respondeu: Quero uma
xícara de chá de erva cidreira!
-Qualé
negão, quer zombar da minha cara? Essa porra aqui é um bar e não farmácia de
produtos naturais. Deixe de sacanagem e diga logo o que deseja e, enquanto
pensa, vou trazer uma dose de cana da boa para você experimentar!
O
garçom trouxe um copinho de Pitú, cachaça pernambucana da boa, e ele numa
talagada só, bebeu a zorra. Depois de dar umas duas torcidas e cuspir, falou:
Porra cara, a merda saiu queimando meu estômago e foi até o olho do cu. Que
bebida forte é essa?
-Cachaça
mermão! E essa é a que dizem que matou o guarda! rs rs rs
–Como
sabia que fazer mistura de bebidas não era legal, continuou tomando suas doses
de pinga, e o garçom perguntou o seu nome, ele disse que era Benedito e logo
foi tratado pelo garçom como Bené.
-Lá
para as 23 horas começou a ouvir os tambores cheios de encantos, e foi
informado que era o começo do ensaio do Olodum. Pagou a conta, deu uma gorjeta
ao já seu amigo Vavá, e colocou a cara na rua!
Vale
dizer que tomou o maior susto de ver aquele avalanche de gente, mulheres
batendo na canela e, para alegrar mais, se requebrando de tal forma e numa
esfregação tão grande, que se ele não fosse Santo se excitaria na hora!
Mas,
mesmo com a sua santidade, porém com o juízo cheio de cana, terminou entrando
no meio, aproveitando todas as sacanagens, aprendeu logo os passos fundamentais
e, sem nem lembrar da sua missão, pegou uma negra gostosa e fogosa e se atracou
até o amanhecer!
Ela
foi para casa, trocaram telefones e ficaram de se falar no dia seguinte. O fato
é que na ladeira do Pelô, só deu Bené e Diva (esse era o nome dela)!
Chegou
cansado pra cacete, tomou um banho, e pediu no hotel uma pizza para se
alimentar para enfrentar o dia seguinte. Comeu legal, olhou-se no espelho, deu
uma risadinha, deitou e se apagou, sem nem escrever uma linha sobre a primeira
experiência!
Como
suas experiências daqui para frente, serão mais apimentadas que os acarajés,
vou deixar para a número três, que logo estarei escrevendo com detalhes!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!!
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