Antonio Nunes de Souza*
Acontecem
coisas em nossas vidas que parecem novelas, principalmente as mexicanas, que
são mais dramáticas. E, por uma puta ironia do destino, aconteceu comigo uma
tremendamente inacreditável!
Em
2005, tinha acabado de me casar, sendo formado em odontologia, fui fazer um
seminário da área em Belo Horizonte, e passaria uma semana. E em função do seu
trabalho de professora de línguas, minha mulher Maria das Graças, não foi
comigo. Cheguei, me instalei no hotel previstoo, fiz minha inscrição e, as
20:00 horas desci para o salão de reunião, para participar da abertura do
evento!
Apresentações,
bate papos, dentistas de vários estados e alguns de países da América Latina!
Tudo transcorrendo às mil maravilhas, apresentações de novas técnicas,
palestras, discussões, perguntas, dúvidas, etc., tudo isso no decorrer dos
dias. E, nesse período, conheci uma dentista do Rio Grande do Sul, conversamos
muito, fizemos amizade, e como sempre acontece nessas viagens solitárias, tanto
o homem como a mulher, se tiver chance, nunca deixa a peteca cair. E comigo e
Maria da Graça não foi diferente. Ela noiva e eu casado, mas, naquele momento e
naquele lugar, éramos apenas duas pessoas que adorariam ter uma sensação nova,
para ver se todos são iguais, ou se existe alguma diferença. Sentávamos sempre
juntos, almoçávamos e jantávamos e, por que não, dormirmos também?
Tudo
rolando conforme esperava-se: Muitos aprendizados, temperados com uma sacanagem
noturna, que completava o seminário de uma forma deliciosa!
Diana
era órfã, não tinha irmãos, morava sozinha e estava noiva, prestes a casar.
Nossa aventura não existia nada de amores ou paixões relâmpago, apenas tesão e
oportunidade de variar o cardápio. E isso é bom porque, cada um parte para seu
lado, ficando tudo como uma lembrança de uma viagem. Isso acontece pra caralho,
e nem o homem fica sabendo, nem a mulher também, pois, esse comportamento faz
parte integrante do caráter sexual humano!
Encerrado
o evento, nos despedimos, fomos para o aeroporto, ela indo para Porto Alegre e
eu para Bahia. Cheguei, Maria das Graças feliz com meu retorno, trouxe de
presente uns pães de queijo especiais que comprei no aeroporto, tudo em paz e
tranquilo meu esperado retorno, falei do bom que foi em termos profissionais,
pois, vinha trazendo um certificado de um evento internacional para meu
currículo!
Agora,
estamos em 2022, sábado as 16:00 horas, estou sozinho, pois Graça e nossos dois
filhos foram ao cinema ver um filme que eu já havia assistido, quando,
repentinamente, toca a campainha. Levantei-me, fui atender e era um rapaz com
uma grande mala e uma carta na mão! Curioso perguntei o que ele desejava. Aí,
olhando bem nos meus olhos, com cara de espanto e um tanto nervoso, entregou-me
a carta. Como ele não falou nada, olhei o envelope e vi que estava subscrito com
meu nome Antonio Thadeu Bonatto! Mandei que ele entrasse, sentasse e,
curiosamente, abri a carta e comecei a ler mentalmente:
Prezado
Thadeu,
Pelo
tempo, imagino que tenha se esquecido de mim, mas, em função do que ocorreu
posteriormente, sua rápida passagem em minha vida, causou-me uma complicação
terrível. Por um desentendimento terminei o meu noivado, e logo em seguida,
notei que estava grávida. Não pude dizer que foi o meu ex noivo, pois, ele é
completamente estéril e já tínhamos combinados em adotar uma ou duas crianças.
Então, nada falei com ele que mora no interior, e vi que infelizmente, naquelas
nossas noites, terminei, tolamente me engravidando. Nunca lhe falei, nas duas
vezes que nos telefonamos muitos anos atrás, resolvendo criar o nosso filho
sozinha, como fiz até essa data. Porém, infelizmente, apareceu-me um câncer no
fígado e, nesse momento que lhe escrevo, estou num estado terminal, já
desenganada pelos médicos, e acredito que não amanhecerei viva. Peço-lhe
encarecidamente que cuide de Adalmir que é um menino ótimo, estudioso, educado
e inteligente. E somente ontem eu disse a ele quem era seu pai, entreguei a
carta e dei algum dinheiro para ele ir ao seu encontro, pois ele tinha loucura
de conhecer o pai!
Tenho
certeza que você fará tudo por seu inesperado filho. Me perdoe se lhe causar
algum transtorno familiar, mas, não tenho alternativa!
Um
abraço de agradecimento,
Diana
Tremendo
e super nervoso, levantei a cabeça e vi que o rapaz era a minha cara, que eu
nem poderia ter a menor desconfiança. Mas, que fazer numa situação filho da
puta dessa? Olhei para Adalmir e ele estava assustado, sem saber se me
abraçava, ou falava alguma coisa. Estava apenas esperando minha reação. Mas,
literalmente, eu estava petrificado, imaginando a merda que seria quando Graça
chegasse com os meninos, como eu iria explicar. Ele me disse que a mãe tinha
falecido há uma semana, e ela pediu que assim que ela morresse, eu pegasse a
carta e viesse ao seu encontro!
Falei
com ele que quando conheci Diana já estava casado, foi um encontro casual,
tenho uma família, com dois filhos, ele como um rapaz de dezessete anos deve
compreender que é uma situação complicada eu falar assim de supetão, e
apresentar um filho que tive durante o casamento. Ele compreendeu, então sugeri
que ficasse num hotel, para que eu resolvesse a situação com calma, sem ferir
ninguém. Peguei o carro, levei-o para um hotel e disse que ele ficasse e
aguardasse que nos comunicaríamos! Para isso, dei o número do meu celular e
anotei o dele, voltando rapidamente para casa, para estar lá quando o pessoal
voltasse do cinema!
Não
nego que estou super tenso, coloquei uma dose de conhaque e tomei de uma
talagada, sem ter a menor ideia do que faria para sair dessa situação de foder,
por causa de uma foda. Uma hora depois, chegaram alegres, felizes e sugeriram
pedir uma comida japonesa por delivery para o jantar, e assim fizemos. Nervoso
demais, Graça me achando estranho, mas, eu disse que não era nada, apenas
impressão dela. Porém, no meu cu não passava nem pensamento, pois, na minha
cabeça só estava a concentração de criar uma solução para o terrível problema!
Chegou
a comida, jantamos, vimos um pouco de televisão, meus filhos (Rommel de 15 e Luiz
com 16 anos) foram a casa vizinha de um amigo, ver o ensaio na garagem de uma
bando de pagode!
Deitamos,
antes tomei um bom banho quente para refazer os ânimos, e veio uma
possibilidade de testar a situação. Achei na hora que seria boa e me deixaria
mais calmo, pois, estava sentindo que minha pressão estava lá nas cabeceiras e
com grande taquicardia. Aí, abraçadinho com minha querida Maria das Graças, disse:
Meu amor, vocês saíram hoje e eu fiquei sozinho, e veio em minha cabeça, uma
coisa louca!
-Como
assim, me diga o que foi que você pensou Thadeu?
Eu
imaginei, nas viagem que faço, se eu tivesse uma aventura e nascesse um filho, o
que é que você faria?
Ela
virou-se bruscamente e disse: Simplesmente, lhe botaria de porta fora, pediria
o divórcio, e nunca mais você pisaria em minha casa, nem para ver meus filhos?
Quando
ela disse isso com certa veemência olhando nos meus olhos, comecei a tremer,
faltar ar, paralisar um lado do corpo, e fui cometido de um enfarto brutal!
Graça
levantou-se, ligou para o SAMU, começou a dar massagem, fazer respiração boca-boca,
ligou para os meninos, e dentro de minutos chegou a ambulância, o médico
complementou o socorro emergencial, deu-me um choque com o desfibrilador,
colocou-me na maca, dentro do carro, e seguindo para o hospital. A essa altura
os meninos chegaram, ela pegou o carro e foram todos para o Hospital Aliança,
onde ela recomendou que me levassem!
O
fato é que passei uma semana na UTI, Maria e os filhos super preocupados, porém,
ela não tinha atinado que tinha sido em função da conversa, apenas achando que
eu me senti mal inesperadamente!
Com
a demora do contato, Adalmir ficou nervoso e preocupado, resolveu telefonar
para o pai, para saber o que estava se passando. E quem atendeu foi Maria das
Graças!
-Alo!
Quem fala?
-É
Adalmir. Eu queria falar com o senhor Antonio Thadeu!
-Ele
está hospitalizado há uma semana, pois teve um enfarto do miocárdio!
-Posso
saber qual hospital ele está internado?
-Hospital
Aliança, se o senhor é amigo dele, pode vir aqui que lhe daremos maiores
detalhes!
-Obrigado
senhora. Eu irei aí fazer uma visita!
Passados
uns quarenta minutos, estando na sala de espera Graças e os dois filhos, entra
Adalmir, fazendo ela tomar o maior susto, pois, o rapaz era a cara de Thadeu,
impressionantemente igual ao seu marido quando jovem, pois eles se conheciam
desde menino, por terem morado na mesma rua. Aí veio a sua mente, a conversa na
cama que causou o ataque coronário. E logo imaginou que a conjectura dele tinha
um fundamento real e, com certeza, Adalmir devia ser o filho que ele falou,
como se fosse uma suposição!
Adalmir
super nervoso, falou que ele tinha vindo do sul e que era filho de Thadeu,
contou a história que sua mãe havia relatado, sua morte e, por essa razão tinha
vindo ao encontro do pai! Tanto ela como os filhos ficaram pasmos com a
surpresa. Ela começou a chorar, porém, abraçou Adalmir e disse: Sente-se que
depois veremos isso. Não se preocupe, pois, o importante no momento é o
restabelecimento dele!
Maria
das Graças saiu sozinha, foi até o jardim do hospital, parou em um alpendre, e
começou a rememorar um fato: Quando eu fui para Pernambuco para um seminário de
língua inglesa, conheci um professor que veio de Washington para fazer uma
palestra e, sem me controlar pela sua beleza, terminei tendo uma relação única
com ele, que me provocou uma gravidez. Eu fiquei calada na dúvida sem saber se
era de Thadeu ou de Franklin, até que Rommel nasceu e vi que tinha muitas
características do professor, embora parecendo comigo, não dando margem a
desconfianças. Então... por que não perdoar meu querido marido? Por que não
acatar Adalmir que nenhuma culpa tem no caso?
Voltou
para a sala, olhou para Adalmir e disse: -Vamos ao seu hotel, vou acertar as
contas e você vai lá para casa de seu pai e, a partir de agora, você será mais
um membro da família!
Foram
todos para casa, acomodaram Adalmir em um quarto de hóspede, ele embora meio
tímido, sentia-se feliz pela receptividade. Dois dias depois, foram comunicados
da alta de Thadeu, se arrumaram, e foram todos para o hospital para trazê-lo
para casa eterminar terminar seu tratamento junto aos familiares. Mas, ao
entrarem no quarto, Thadeu estava sorridente sentado na cama e, quando viu
Adalmir atrás do grupo, tomou um bruto susto, caiu pra trás e deu um outro
enfarto, sendo que desta feita, infelizmente, fulminante!
Muitos
choros, lamentações, Adalmir na maior tristeza por ter perdido a mãe e em
seguida ser motivo da morte do pai, Maria das Graças arrependida de sua reação
na cama com ele, os filhos totalmente debilitados!
Imaginem
vocês como uma foda fora da rota normal, pode foder com uma porção de gente.
Esse é um ato delicioso, mas, passivo de trazer estragos irreparáveis, não só
para os participantes, como também os viventes em volta!
*Escritor
– Historiador, cronista e poeta!
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