Antonio Nunes de Souza*
Hoje passados vinte anos do ocorrido, resolvi externar uma verdade que ocorreu comigo que, por segurança, guardei em minha mente durante esse tempo todo, mas, mesmo sem comentar a verdade propriamente do ato, venho saboreando, mentalmente, a raiva e vingança que provoquei naqueles que me discriminavam, repudiavam e denegriam a minha imagem e pessoa, mesmo eu sendo muito admirado e respeitado por uma fatia, dado ao meu qualificado profissionalismo!
Meu nome é Raimundo, mas, no futebol, fiquei conhecido como Mundinho Sarará, comecei jogando na várzea, depois no Vasco e, em seguida, como provei ser bom no esporte bretão, fui vendido para um time italiano por uma boa grana, oportunidade que recebi 20% do valor do passe, deixando-me, pela minha condição de pobre, um rapaz de 21 anos, praticamente rico, mesmo não sendo as fortunas pagas no futebol atual.
Mas, por ironia do destino, a cidade e a torcida, em grande maioria era preconceituosa e, sem esconder, faziam grandes faixas e abriam nas arquibancadas com inscrições: Fora seu negro! – Nosso time é de brancos! – Está manchando nossa camisa, etc., essas ofensas, mesmo eu sendo um dos goleadores da equipe, eram constantes e desagradáveis. Chorei algumas vezes e fui consolado pelos colegas que, curiosamente, todos eram brancos!
Como a repetição dessas atitudes eram acintosas e constantes, certo dia o time precisava de ganhar por um gol, pois, o empate lhe desclassificaria e perderia o campeonato. Estava de 0X0 faltando dois minutos para terminar o jogo e, por sorte aconteceu um pênalti. Como eu era um dos batedores dessa penalidade, fui escolhido para cobrar. Então, logo me veio a cabeça a ideia macabra e sinistra de me vingar. Fingi que havia escorregado e chutei a bola para fora! E, ao mesmo tempo, fiquei me contorcendo no chão como se estivesse me contundido com a queda, como também para não ser triturado pela feroz torcida!
Resultado: O time perdeu o campeonato, fui vendido para outro time na Espanha, ganhei novamente uma boa grana, ficando 4 anos cumprindo meu contrato, em seguida voltei para o Brasil e encerrei minha carreira no Atlético Mineiro!
Reconheço que fui um grande “sacana”, mas, somente quem sofre essa podre discriminação, pode entender o que me fez praticar essa reação!
A mesma coisa acontece na sociedade, não só com os negros como todos os pobres, são marginalizados e excluídos e, fatalmente, tornam-se vingativos, perversos e bandidos!
Lembrem-se que todos nós somos pessoas iguais, apenas muitos precisam de atenções, reconhecimentos, ajudas e solidariedades!
*Escritor–Historiador-Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL –antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com