Antonio Nunes de Souza*
Estava começando a cair à tarde e, sem fazer nada, fui para o porto da barra ver o lindo e maravilhoso pôr do sol.
Não poderia ter escolhido um programa melhor, uma vez que, segundo os apreciadores do poente, o sol no porto se esconde com uma classe indescritível, fazendo os sonhadores, apaixonados, poetas, boas vidas e namorados, sonharem e partirem depois para fazer o que mais gostam!
Sentei-me em um lugar privilegiado, comecei a tomar uma água de coco geladinha e, sem nenhuma pressa e toda baianidade, passei a mirar o horizonte esperando que o rei dos céus, lentamente, começasse a se esconder, projetando aquele colorido que obscurece o mais belo dos arco-íris.
Como é normal, aos poucos foram surgindo outras pessoas, todos procurando lugares adequados e mais confortáveis, nas pedras que circundam o abandonado monumento ao descobrimento do Brasil.
O interessante é que todos chegam e se cumprimentam pelo menos com um sorriso, mas, aos poucos, as conversas vão surgindo e, em pouco tempo, os mais próximos já estão batendo o maior papo como se fossem velhos amigos. Sem bairrismo, essa característica só se vê na Bahia. Somos mais abertos do que a fronteira do Paraguai. Para o baiano não existe estranho, apenas alguém que você não teve oportunidade de um dia se encontrar. Com um encontro ele já diz: Fulano? É meu grande amigo, cara!
E, por esse normal comportamento, com menos de meia hora eu já estava conversando animadamente com Frederika, uma loura alta, esguia, bonita e inteligente. Ela era professora de história e estava fazendo pós-graduação. E, como eu também estou estudando licenciatura de história, essa conhecidência fez com que nossa conversa fosse mais interessante para os dois e ajudasse a nos entendermos melhor.
Aí, quando o sol começou a se pôr escondendo seu rosto nas águas do oceano, o horizonte deslumbrava com um mar vermelho de tons sobre tons, o céu parecia um quadro do famoso pintor holandês Van Gogh, predominando milhares de pinceladas amarelas, entrelaçadas por outras vermelhas e laranjas, nos proporcionando uma cena deslumbrante, empolgando nosso corpo e espírito, deixando fluir em nossas mentes os desejos das realizações guardadas em nossos pensamentos, que sempre esperamos um dia concretizar.
Sem que sentíssemos, já estávamos eu e Frederika de mãos dadas, nos acariciando com os dedos e pequenos apertos, como se estivéssemos hipnotizados pelo que descortinava em nossa frente.
A cada centímetro que o sol desaparecia, nos olhávamos trocando sorrisos e, aos poucos, já estávamos com os rostos colados deleitando aquele momento, que pra mim, tornou-se inesquecível.
Já escuro, sobrando apenas àquela mancha vermelha confundindo-se com algumas nuvens que teimavam em emoldurar o horizonte, nos levantamos abraçados e, sem dizer uma única palavra, nos beijamos longamente como se estivéssemos comemorando a linda morte do dia e o nascimento de uma bela noite!
Foi algo tão espontâneo e prazeroso, que nenhum dos dois se sentiu deslocados, ou que estavam fazendo algo que não devia. A simpatia conjunta foi tão natural e boa que, sem nenhum rodeio, nos dirigimos para nossos carros e combinamos nos encontrar a noite.
Foi, sem dúvida, uma noite maravilhosa! Amamos-nos com uma paixão devoradora de todas as maneiras, formas e posições, como se fosse algo que esperávamos acontecer em nossas vidas e, naquele dia, como uma dádiva, aconteceu.
Acordamos pela manhã com o sol entrando pela janela do quarto, nos despertando com um bom dia cheio de claridade!
Foi um momento lindo de minha vida, que tive o sol como testemunha no início e no fim dessa aventura que nunca mais se repetiu.
Pois, assim como ela apareceu, Frederika sumiu!
As vezes, quando me recordo, imagino que tudo não passou de um sonho.
*Escritor-Historiador-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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