Antonio Nunes de Souza*
Rapaz bonito, embora quarentão seu aspecto era de
uma jovialidade tão grande, que até os mais exagerados, diziam que ele tinha 33.
E, com essa aparente idade, tinha seus momentos de felicidade com as mulheres,
mas, na maioria das vezes, sempre era crucificado com alguma incompreensão.
Sempre trabalhou em diversas áreas, tornando-se
altamente eclético e apto para exercer qualquer função que aparecesse. Mas, com
essas incertezas do mercado, geralmente nunca demorava em uma só função, sempre
passivo das influências financeiras das empresas que, olhando somente para os
resultados dos seus gráficos, o dispensava com as desculpas mais descabidas
possíveis.
Com seu bom humor, simpatia, conhecimentos e boa
educação, tudo isso aliado ao seu charme de jovem bem sucedido, começou a
matutar uma idéia no sentido de montar algo promissor com liberalidade, onde
não precisasse de investimentos, fosse prazeroso e obtivesse retornos
financeiros a curto, médio e longo prazo.
Obviamente, algo nessas condições, que se molde a
ele ou a qualquer outra pessoa, não é nada fácil. Pois, todo mundo deseja exatamente
esse status, porém, o difícil é encontrar.
Aí foi que, sem esperar, numa noite de farra com
amigos, uma independente, centrada, mas, com alguns desequilíbrios quando toma
uns vinhos e aspira a poeira química desse nosso ar poluído que, de súbito, lhe
fez uma proposta, maravilhosa para sua realização pessoal e, para ele, uma
maneira de ganhar algum prazer sem investimentos, completamente liberal e ainda
retornos financeiros que, de alguma forma, certamente viriam.
A proposta foi a seguinte: Humbertinho, sempre
desejei ter um filho e escolhi você para ser o pai em função das suas
qualidades morais, aparência, inteligência, educação e cultura. Tenho certeza
que será um pai ideal para o meu filho, fazendo dele alguém muito especial.
Em princípio ele riu pensando tratar-se de uma
brincadeira. Mas, o ar sério da amiga Ana demonstrou e enfatizou sua proposta,
o deixando pensativo. Então resolveu estudar o assunto e responder
posteriormente.
Foi para casa, refletiu bastante, chegando à
conclusão que não seria uma idéia ruim, porém, em vez de isoladamente cumprir
esse papel, abrir uma empresa prestadora de serviço especializada em paternidade. Chegou
até rir nesse momento, se imaginando transando com hora marcada e cobrando uma
taxa extra quando fosse necessária a repetição do ato, caso a cliente tivesse
errado a sua data de fertilização.
Ora, com tantas inovações no mercado mundial,
embora isso pareça uma loucura, assim como existem as inseminações artificiais
que estão proliferando mais que igrejas evangélicas, certamente o povo não
estranhará algo novo e inusitado em benefício das mulheres sedentas da
maternidade, sem a preocupação de compromissos matrimoniais e intervenções
médicas. Porém, jamais seria usado como “garoto de programa”. Só atuaria para
efeitos de maternidade e havia uma clausura contratual que lhe garantiria esse
direito.
Que nome darei a empresa? Pensou, pensou e, num estalo, surgiu um que
era o ideal: La Piroca Caliente
(nome estrangeiro para dar um maior status, como é modismo em todos os países).
Foi ao contador, preparou os registros, colocou
tudo em ordem para funcionar dentro da lei, inclusive com um bem cuidado
contrato para dar todas as coberturas jurídicas, onde cada mãe, além da taxa normal
de engravidamento, teria o compromisso de durante os nove meses de gestação,
pagar através de um carnê, nove parcelas de iguais valores.
Em princípio atenderia nos devidos domicílios das
interessadas, poupando assim de ter que manter instalações adequadas para as
funções.
A própria amiga que havia feito a proposta inicial
achou genial a idéia e adorou que seu filho pudesse ter, no futuro, vários irmãos,
mesmo que eles não se conhecessem.
Rapaz, você não imagina como depois que ele
expediu uma mala direta pela cidade e July colocou uma nota na coluna social,
como começou a chover os contatos, assinaturas de contratos, transas com dia e
hora marcada, numa agenda cheia com atendimentos máximos de duas clientes/dia,
porém com direito apenas a uma ejaculação, mesmo que fosse precoce.
Como moro no interior, ficava sabendo a distância
que os negócios iam bem. Henriquinho ganhando muito dinheiro, já havia
contratado um médico especialista e uma fisioterapeuta muito gostosa para
aplicar massagens e carinhos estimulantes, nos casos de clientes muito
derrubadas. Montou uma estrutura perfeita para um bom desempenho.
Passados seis meses, lamentavelmente, ao pegar um
jornal, leio na coluna de July a seguinte notícia:
“Com muito pesar comunico o falecimento do diretor
presidente da empresa La Piroca Caliente,
Henrique Costa Caldeiras que, no cumprimento do seu dever, após o atendimento
de um chamado extra na calada da noite, sentiu o seu último orgasmo comercial,
deixando sua cliente preocupada se seus derradeiros espermatozóides honrarão
essa morte gloriosa”
No impacto da notícia, tomei um avião e vim para o
enterro do querido amigo, que estava marcado para as 17:00 horas. E, chegando
no Campo Santo, acompanhei o cortejo fúnebre da Capela até a sepultura, ouvindo
um coral de mais de duzentas mulheres grávidas chorando e cantando: “Segura na
mão de Deus, segura na mão de Deus e vai!”
Eu matutei comigo mesmo: “com tantas mortes agora,
com esse coronavírus, será necessário repor a população, então... posso até
comprar os direitos da “Piroca Caliente” e continuar com a empresa, somente
atendendo as segundas, quartas e sextas, afim de me poupar. Não sou muito novo,
mas, com as qualidades literárias serei um excelente pai!”
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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