sexta-feira, 3 de abril de 2020

PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS!

                 Antonio Nunes de Souza*

Rapaz bonito, embora quarentão seu aspecto era de uma jovialidade tão grande, que até os mais exagerados, diziam que ele tinha 33. E, com essa aparente idade, tinha seus momentos de felicidade com as mulheres, mas, na maioria das vezes, sempre era crucificado com alguma incompreensão.
Sempre trabalhou em diversas áreas, tornando-se altamente eclético e apto para exercer qualquer função que aparecesse. Mas, com essas incertezas do mercado, geralmente nunca demorava em uma só função, sempre passivo das influências financeiras das empresas que, olhando somente para os resultados dos seus gráficos, o dispensava com as desculpas mais descabidas possíveis.
Com seu bom humor, simpatia, conhecimentos e boa educação, tudo isso aliado ao seu charme de jovem bem sucedido, começou a matutar uma idéia no sentido de montar algo promissor com liberalidade, onde não precisasse de investimentos, fosse prazeroso e obtivesse retornos financeiros a curto, médio e longo prazo.
Obviamente, algo nessas condições, que se molde a ele ou a qualquer outra pessoa, não é nada fácil. Pois, todo mundo deseja exatamente esse status, porém, o difícil é encontrar.
Aí foi que, sem esperar, numa noite de farra com amigos, uma independente, centrada, mas, com alguns desequilíbrios quando toma uns vinhos e aspira a poeira química desse nosso ar poluído que, de súbito, lhe fez uma proposta, maravilhosa para sua realização pessoal e, para ele, uma maneira de ganhar algum prazer sem investimentos, completamente liberal e ainda retornos financeiros que, de alguma forma, certamente viriam.
A proposta foi a seguinte: Humbertinho, sempre desejei ter um filho e escolhi você para ser o pai em função das suas qualidades morais, aparência, inteligência, educação e cultura. Tenho certeza que será um pai ideal para o meu filho, fazendo dele alguém muito especial.
Em princípio ele riu pensando tratar-se de uma brincadeira. Mas, o ar sério da amiga Ana demonstrou e enfatizou sua proposta, o deixando pensativo. Então resolveu estudar o assunto e responder posteriormente.
Foi para casa, refletiu bastante, chegando à conclusão que não seria uma idéia ruim, porém, em vez de isoladamente cumprir esse papel, abrir uma empresa prestadora de serviço especializada em paternidade. Chegou até rir nesse momento, se imaginando transando com hora marcada e cobrando uma taxa extra quando fosse necessária a repetição do ato, caso a cliente tivesse errado a sua data de fertilização.
Ora, com tantas inovações no mercado mundial, embora isso pareça uma loucura, assim como existem as inseminações artificiais que estão proliferando mais que igrejas evangélicas, certamente o povo não estranhará algo novo e inusitado em benefício das mulheres sedentas da maternidade, sem a preocupação de compromissos matrimoniais e intervenções médicas. Porém, jamais seria usado como “garoto de programa”. Só atuaria para efeitos de maternidade e havia uma clausura contratual que lhe garantiria esse direito.
Que nome darei a empresa?  Pensou, pensou e, num estalo, surgiu um que era o ideal: La Piroca Caliente (nome estrangeiro para dar um maior status, como é modismo em todos os países).
Foi ao contador, preparou os registros, colocou tudo em ordem para funcionar dentro da lei, inclusive com um bem cuidado contrato para dar todas as coberturas jurídicas, onde cada mãe, além da taxa normal de engravidamento, teria o compromisso de durante os nove meses de gestação, pagar através de um carnê, nove parcelas de iguais valores.
Em princípio atenderia nos devidos domicílios das interessadas, poupando assim de ter que manter instalações adequadas para as funções.
A própria amiga que havia feito a proposta inicial achou genial a idéia e adorou que seu filho pudesse ter, no futuro, vários irmãos, mesmo que eles não se conhecessem.
Rapaz, você não imagina como depois que ele expediu uma mala direta pela cidade e July colocou uma nota na coluna social, como começou a chover os contatos, assinaturas de contratos, transas com dia e hora marcada, numa agenda cheia com atendimentos máximos de duas clientes/dia, porém com direito apenas a uma ejaculação, mesmo que fosse precoce.
Como moro no interior, ficava sabendo a distância que os negócios iam bem. Henriquinho ganhando muito dinheiro, já havia contratado um médico especialista e uma fisioterapeuta muito gostosa para aplicar massagens e carinhos estimulantes, nos casos de clientes muito derrubadas. Montou uma estrutura perfeita para um bom desempenho.
Passados seis meses, lamentavelmente, ao pegar um jornal, leio na coluna de July a seguinte notícia:
“Com muito pesar comunico o falecimento do diretor presidente da empresa La Piroca Caliente, Henrique Costa Caldeiras que, no cumprimento do seu dever, após o atendimento de um chamado extra na calada da noite, sentiu o seu último orgasmo comercial, deixando sua cliente preocupada se seus derradeiros espermatozóides honrarão essa morte gloriosa”
No impacto da notícia, tomei um avião e vim para o enterro do querido amigo, que estava marcado para as 17:00 horas. E, chegando no Campo Santo, acompanhei o cortejo fúnebre da Capela até a sepultura, ouvindo um coral de mais de duzentas mulheres grávidas chorando e cantando: “Segura na mão de Deus, segura na mão de Deus e vai!”
Eu matutei comigo mesmo: “com tantas mortes agora, com esse coronavírus, será necessário repor a população, então... posso até comprar os direitos da “Piroca Caliente” e continuar com a empresa, somente atendendo as segundas, quartas e sextas, afim de me poupar. Não sou muito novo, mas, com as qualidades literárias serei um excelente pai!”                                                                

*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com


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