Antonio
Nunes de Souza*
Confesso que
por mais experiente que possamos pensar que somos, estamos sempre abertos e
passivos de nos deixar entusiasmar com nossos projetos de vida, comprovando
cada vez mais que somos uns eternos aprendizes. E, como todo mundo, também caí
nessa rede emaranhada como as teias de aranhas, me embaraçando com a régua e o
compasso, tornando-me cega e perdendo as diretrizes das linhas.
Pelas minhas
palavras iniciais, percebe-se logo que sou uma profissional na área de
engenharia e, embora tenha alcançado um relativo sucesso no trabalho que
desempenho, vacilei na prancheta da vida e passei a sonhar com o abstrato,
imaginando ser ainda uma adolescente, não sabendo enfrentar com dignidade e
frieza os acidentes de percursos tão comuns quando atingimos determinada idade.
Não que me ache velha caquética. Ao contrário! Sou conservada, tenho 45 anos,
mentalidade jovem e uma cabeça super pra frente e, exatamente por essa razão,
resolvi ir morar numa cidade especial, onde a liberdade de ação e comportamento
faz parte integrante da região, podendo-se encontrar de hippes dos anos 60 até
vanguardistas do próximo século, intercalados por caretas da pré-história. Uma
mistura heterogênea que faz da cidade um lugar especial: Lençóis!
E sendo
dessa forma, logicamente, entrei no clima de cabeça e me transformei em uma
micro “riponga”, porém, muito respeitada pela minha habilidade profissional.
Mas, como
viver sozinha quando ainda sinto o gostinho e a necessidade de companhia, carinho
e sexo? Lógico que teria que procurar uma solução que não fossem as “ficadas”
eventuais.
Aí foi que
pintou o perigo! Pois, em função do meu status, claro que desejei o melhor: Um
rapaz jovem, boa aparência, condições financeiras deixando a desejar e, acima
de tudo, não muito inteligente para que eu pudesse dominá-lo através de
carinhos e, principalmente, presentes para que sua dependência cada vez aumentasse
mais, juntamente com o meu domínio de proprietária do meu querido guapo, como
se fosse mais um troféu para exibição e uso, que um amor conquistado pelos meus
atributos.
Tudo isso
seria bom se eu antes já pensasse assim, mas, na minha cegueira e tolice,
procurei, grosseiramente, criar em minha mente a idéia utópica que essa
situação era normalíssima, que estava havendo um elo de amor e paixão e, sempre
que relatava o fato para amigos, para dar ênfase, eu juntava os indicadores e
polegares de ambas às mãos esfregando as quatro unhas, querendo, tolamente,
mostrar que estava havendo uma junção miraculosa de um amor que brotou na
chapada, abençoado pelos anjos e a fumaça da bendita “sativa”.
Mesmo vendo
claramente o esboço de um projeto que parecia bonito, mas, desprovido de
alicerce, sonhava falando com entusiasmo, querendo enganar a mim própria.
Pô! Quando
me lembro disso tenho uma vergonha retada dos meus discursos tolos que fazia e
sentia nos olhos de todos a descrença estampada. Mas, para mim, era conveniente
tentar convencer que todos estavam errados e eu, mesmo sabendo que não,
continuava enfática. Essa lembrança me dá uma raiva da porra!
O tempo foi
passando, passando, precisando cada dia, necessário maiores presentes para
compensar os menores carinhos, até que percebi que aquele elo manual que tanto
eu repetia, não passava de uma maneira gestual que criei para ilustrar minha
ilusão.
Imagine
vocês que o cara que eu enfeitava todo, perfumava, alimentava e dava os
melhores dos meus carinhos, passou a ter aventuras com outras pessoas, evitando
minha companhia alegando uma série de desculpas esfarrapadas que, inicialmente,
mesmo percebendo claramente, fazia força para não acreditar e não me dar como
vencida por uma realidade mais que esperada.
Lógico que
esse meu comportamento nada teve de anormal! Apenas o que eu deveria era
encarar a situação com mais realismo, conscientizando-me que eu estava era,
simplesmente, comprando um instrumento de prazer que, provavelmente, tinha
prazo de validade. Talvez ou com certeza, não teria me exposto a uma situação
melindrosa e um tanto ridícula perante todos e também a mim.
Contudo,
mesmo com mais essa experiência frustrante, tive dias maravilhosos de ilusões
prazerosas e, melhor que tudo, ensinou-me que devo ser mais realista nos meus
projetos pessoais, assim como sou nos profissionais.
Depois que
implodiu esse castelo de sonhos que construí em minha mente, sinto-me bem mais
preparada para não ter que usar antolhos quando aparecer outro sol brilhando em
meu horizonte.
*Escritor–Membro da Academia
Grapiúna de Letras-AGRAL- antoniomanteiga.blogspot.com-antoniodaagral26@hotmail.com
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