segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

A MULHER BI!

Antonio Nunes de Souza*

Certamente, com esse título, você logo imaginou tratar-se de uma mulher bissexual mas, não é nada disso! Sou padre há 26 anos, me ordenei com 21 anos de idade e, juro por Deus (mesmo tendo que jurar seu nome em vão, que é pecado), que jamais conheci uma pessoa, ou melhor uma confissão tão estranha e pecaminosa, executada de uma maneira completamente inusitada, levando a personagem a um comportamento dúbio e, o que é mais aterrorizador, completamente de hábitos estranhos!
Cidade de porte pequeno para médio, onde quase todos se conhecem, porém, uma das minhas paroquianas das mais fervorosas, que não revelarei o nome, basta estar quebrando o meu juramento de jamais comentar as confissões ouvidas, sendo o correto determinar rezas e atos de contrições e, mais que depressa, esquecer o que ouviu, entregando para o perdão divino!

Mas, nesse caso, se eu também não fizer uma confissão, ficarei engasgado pelo resto da vida, somente por ter ouvido essa pessoa, beata das verdadeiras “baratas de sacristia”.  Mulher de seus quarenta e cinco anos, solteira, sem filhos e moradora sozinha, já que tinha vindo para a cidade há uns 20 anos em função do seu emprego federal que a transferiu para longe da família moradora em outro estado!

A primeira vez que ela me fez esse relato, achei que seria apenas um fato ocorrido, por razões de oportunidade, ou casualidade que, inesperadamente aconteceu. Disse-me ela que, desde de jovem sentia duas grandes necessidades em sua vida: uma de grande religiosidade e a outra de prazer sexual! De dia rezando e professando com fervor a eucaristia e a noite devotando gananciosamente a putaria! Essas foram, textualmente, as suas palavras! Eu quase caí duro no confessionário, levantei o rosto para olhar a sua cara e vi que era mulher nada mocinha, porém ainda bonita e viçosa!
Não me contive e, sem dar ideia de censura, lhe perguntei se isso era comum na vida dela, ou apenas aconteceu uma vez ou duas?
Ela, sem titubear ou tremer a voz, foi incisiva e repetiu: Padre meu dia todo eu ofereço a Deus, rezando ajoelhada e nunca falho. Mas, a noite só sinto-me bem sentada num caralho! O mais curioso é que ela usava de um linguajar perturbador de tão vulgar, sem, pelo menos, disfarçar seus posicionamentos noturnos!
Lógico que procurei dar uma serie de conselhos, mostrar que esse comportamento era inadequado, que ela deveria ser mais comedida, até que arranjasse um marido e oficializasse esse seu pecado mais que mortal! E ela, veementemente, respondeu: Gosto de rolas diferentes! Nada de repetições de cardápio, pois o que mais adora é a surpresa da variação. Grande, pequena, grossa ou fina, essas todas eu curto desde menina!

Meu Deus, fiquei chocado e horrorizado com essa confissão de uma mulher, realmente “Bi”, pois, de dia era uma santa e a noite uma puta! Imaginei logo que, por ser uma média comunidade, que todos os homens já tinhas comido sua xoxota pecadora e demoníaca, instalada num corpo santificado!

Mandei que ela rezasse uma tonelada de Ave Maria e Padre Nosso. Mas, quem disse que resolveu? Todos os sábado ela volta e repete os acontecidos, cumpre sua penitência e, mesmo dando uma na noite do sábado, no domingo pela manhã ajoelha-se em frente ao altar mor, com véu e terço na mão, pede perdão a Deus e faz a sua comunhão, depois vai cantar no coral da igreja!

Que Deus, na sua divina bondade, me perdoe por estar quebrando a jura do silencio. Mas, se eu não fizesse essa confissão, terminaria enlouquecendo!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga;blogspot.com

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