Antonio Nunes de Souza*
No meu tempo de menino, quando eu
recebia uma moeda de presente, corria imediatamente para a rua para encontrar
um “baleiro” (vendedor ambulante de balas) para transformar meu doce
dinheirinho em balas e voltar para casa sorrindo e feliz. Era sem dúvida um
tempo bom e tranqüilo, que todas as crianças praticavam essa ação como uma das
mais agradáveis recompensas.
Os baleiros eram jovens ou adultos com suas cestas a
tira colo, que já nos conheciam das portas dos cinemas ou de tanto transitarem
em nossas ruas gritando: Baleiro! Baleiro! Baleiro!
E esse conhecimento gerava até algumas compras fiado
ou o ganho de uma bala inteiramente de graça, se nós fregueses estivéssemos sem
a grana habitual.
Infelizmente, esse maravilhoso tempo desapareceu
completamente da vida das crianças e, quando hoje estas vão à rua, voltam da
escola ou na própria porta da escola e encontram um baleiro, trata-se nada mais
nada menos de um assaltante armado que, mandando muitas balas para todas as
direções, premiam as crianças e adultos com a morte ou seqüelas irreparáveis,
complementando com roubos de sacolas, celulares e seqüestros relâmpagos.
Será que isso é progresso ou putrefação humana?
Será que preocupados com outras coisas, estamos
deixando de educar melhor, não transmitindo valores que devem ser perenes?
Precisamos refletir nossos
comportamentos, pois todos nós somos culpados, sendo uns menos e outros mais.
Mas, certamente, ninguém está isento da pecha da culpa, já que vivemos em
comunidade e devemos ser mais enérgicos no exigir as soluções e solidários para
a efetivação dos resultados. A omissão é o pior pecado, pois, por mais que você
seja aquinhoado ou privilegiado, certamente, também é o mais visado por ter
mais o que oferecer.
Lamentavelmente, o meu tempo bom parece que jamais
voltará atrás!
Como brilhavam nossos olhos quando apontava na rua a
figura do baleiro, trazendo em seus braços sua carga preciosa de balas diversas,
para nos proporcionar a doçura da degustação infantil. Tristemente, ficamos
hoje expostos as quadrilhas de baleiros bandidos que, carregados com diversos
tipos de balas, seus trinta e oitos e quarenta e cincos, montados em suas
motos, verdadeiros cavalos de aço, nos fazem saborear a amargura do sangue.
Perdemos o baleiro e ganhamos a bala perdida!
*Escritor–Membro
da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL- antoniomanteiga.blogspot.com –
antoniodaagral26@hotmail.com