quarta-feira, 24 de abril de 2019

NASCI PARA SOFRER!

Antonio Nunes de Souza*

Existe grande dúvida com relação aos nossos destinos, se eles já são traçados por Deus logo que nascemos, ou, quem sabe, se não somos nós que em função dos nossos esforços e comportamentos, conseguimos vencer os absurdos da vida, fazendo “bonitinho” um destino brilhante?
Creio que essa grande dúvida perdurará eternamente, pois, como somos teimosos e polêmicos, uma parte deseja uma forma e a outra parte contrária, somente para criar dúvidas!
Vejam vocês o que ocorreu com meu destino: Sou filho de espanhóis (mãe e pai) autênticos e legítimos com fervorosos sangue de Sevilha, local onde as touradas são sagradas e poderosas, seguindo a tradição milenar das arenas.
Mesmo depois de ter feito a faculdade de Educação física, resolvi ir para a Espanha, morar com uns tios que, concidentemente, mexiam com touros e torneios de touradas, tendo inclusive uma escola de adestramento para jovens toureiros! Aí caiu a sopa no mel, pois eu, pela minha descendência, adoraria um dia ser um toureador de linha, dando essa satisfação a minha família. Sem demora, comecei a fazer as aulas iniciais, com muito esforço fui me aprimorando, já fazendo corridas com bezerros, até que, depois de dois anos, eu já estava preparado para entrar numa arena, como toureiro auxiliar.
Daí pra frente comecei a fazer da profissão minha fonte de renda e como era natural, arranjei uma espanhola linda e charmosa e casei-me, com a satisfação de toda família, já que a noiva Maria Del Carmem era ligada aos amigos dos meus tios.
Passados mais dois anos, chegou a verdadeira hora que eu deveria enfrentar com galhardia o meu primeiro touro!
Meus pais vieram para Sevilha, foi a maior entrada triunfal. Mas, como nosso destino parece que já vem traçado, facilitei, talvez possuído pela euforia e, sem esperar, o touro me pegou e, antes que os auxiliares encostarem, me deu umas cinco chifradas, deixando-me desmaiado e todo ensanguentado. Fui para o hospital, felizmente não fui atingido em lugares mortais e, aos poucos fui me recuperando das chifradas recebidas!
Então, para selar meu trágico destino, fiquei sabendo que, durante a minha recuperação de três meses, Maria Del Carmem andou transando com outros toureiros, velhos e novatos, dando-me uma saraivada de chifres novamente, pensando que eu ia morrer. Revoltado com a comprovação, me separei e resolvi voltar para o Brasil e recomeçar minha vida!
Então, para não sair do ramo de touros, montei um açougue e comecei a negociar com bois, porém sem os chifres, simplesmente a carne. Mas, não é que quem tem o destino traçado não escapa?
Casei outra vez com uma brasileira e, a desgraçada, com menos de um ano, já estava me chifrando com o dono do açougue da frente! Com dor no coração, abandonei a desgraçada, não quis mais saber de casamentos, nem açougues, fui exercer a profissão que me formei, antes desta triste história!
Creiam que a culpa de tudo isso não é e nem nunca foi minha, pois sou muito macho, excelente marido, bom nas ações sexuais, etc. Simplesmente a culpa é do meu ingrato destino que já veio “mal traçado!”
*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com

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