segunda-feira, 22 de abril de 2019

GRANDE SURPRESA!

Antonio Nunes de Souza*

O nome dele é Rogério Batista Rastelli, e foi um dos meus primeiros namorados na adolescência. Um cara fascinante, bonito, corpo atlético e cheio de simpatia!
Nos conhecemos quando entramos na faculdade, eu estudando medicina e ele Psicologia, ambos com dezenove anos, começando a nossa idade adulta. Também, por nossas famílias serem de bom acomodar e rígidas nos comportamento, por incrível que pareça, nós éramos virgens com relação a sexo. Coisa já rara naquele tempo, pois os avanços nessa área vem de muitos anos.
Houve uma simpatia mútua e, sem muitos encontros, passamos a namorar, aparentemente, ambos completamente apaixonados. E, como sempre acontece depois de várias pegações, nos tornamos amantes em todos os sentidos, praticamente como fôssemos um casal, apenas cada um em sua casa, como também, tudo isso era escondido dos nossos rígidos pais.
Essa deliciosa união demorou três anos cheios de paixões, até que, por transferência do seu pai que era funcionário federal, toda família teve que ir para Pernambuco, inclusive Rogério que pediu sua transferência na faculdade, uma vez que, somente como estudante, seria inviável ficar e assumir um compromisso mais sério comigo.
Para mim, ou para ambos, foi uma situação triste e sofredora, pois, na verdade, existia um grande amor e desejo sexual entre nós dois. Mas, infelizmente, tínhamos que aceitar, esperando que, em futuro próximo, depois das nossas formaturas nos encontraríamos novamente já em condições de casarmos, ou apenas, morarmos juntos!
Começamos a nos comunicar através de telefones, cartas, e-mails, mensagens, etc., porém, com o tempo as coisas foram esfriando, principalmente da parte dele, resultando em um silêncio total, caracterizando o término da relação. Lógico que fiquei enlouquecida, mas, por ter acontecido aos poucos, meu coração partido já estava quase curado!
Terminei o meu curso, fiz especialização, mestrado e doutorado, preparando-me para que minha carreira fosse vitoriosa. Por incrível que possa parecer, fiquei completamente imune de namoros. Saía, passeava, curtia, mas, sempre sozinha, deixando até dúvidas em minhas amigas e colegas que eu era lésbica. Imagine que loucura!
Oito anos depois dessa separação com Rogério, por uma circunstância profissional, tive que ir de S. Paulo para um congresso em Recife e, além de ficar um tanto eufórica, veio em minha mente a possibilidade de reencontrar meu antigo amor e, quem sabe, até reatar e compensar o tempo perdido.
Fui para Recife, levei o endereço que tinha de Rogério e família e, se não mudaram, seria fácil o encontro!
No dia seguinte a minha chegada, tendo a folga da noite, peguei um táxi e fui ao endereço. Mas, chegando lá, encontrei a família dele, porém ele estava morando em outro lugar, endereço que seus pais me deram com a máxima gentileza, sabendo da amizade nossa no passado. Éramos considerados por eles como “bons amigos” apenas. Me despedi depois de alguns minutos e voltei a tomar um novo táxi para ir ver Rogério em sua nova morada. Sou sincera, pois, na minha cabeça estava a ideia de, no nosso encontro, irmos para um motel e tirar toda diferença dos anos de separação.
Quando toquei a campanhia, logo em seguida quem veio me atender foi um rapaz moreno muito bonito e educado.
–Pois não. O que a senhora deseja?
-Queria falar com Rogério. Ele está?
-Está sim. Um momento: Ró, tem uma visita para você!
Nisso aparece Rogério e, vendo-me, tomou um grande susto, porém me abraçou carinhosamente e mandou que eu entrasse. Nos sentamos na sala, ele me apresentou Flávio e, sem nenhuma vergonha ou constrangimento, falou que estava morando com ele, praticamente casados e estavam bastante felizes.
Para mim foi uma grande surpresa, pois, aquele homem sedutor, cheio de sexualidade e másculo, pudesse mudar completamente.
Ele foi claro e objetivo: Estamos passando por um período de várias mutações. Temos que nos adaptar a vida moderna, seguir os padrões aplicados, novos hábitos e costumes que, a cada dia provam que tem sentido. Jamais podemos ficar fora da realidade!
Esse foi seu argumento para justificar a sua mudança para ser homossexual, quer seja ativo ou passivo. Dá no mesmo!

Voltei para S. Paulo, bastante decepcionada e pude ver que o mundo está caminhando para sua transformação completamente fora da normalidade imposta pela antiga sociedade.
Essa grande surpresa foi demais para minha cabeça, e fiquei imaginando: “Será que eu um dia vou virar lésbica para estar na moda?”
*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com


Nenhum comentário: