Antonio
Nunes de Souza*
O
nome dele é Rogério Batista Rastelli, e foi um dos meus primeiros namorados na
adolescência. Um cara fascinante, bonito, corpo atlético e cheio de simpatia!
Nos
conhecemos quando entramos na faculdade, eu estudando medicina e ele
Psicologia, ambos com dezenove anos, começando a nossa idade adulta. Também,
por nossas famílias serem de bom acomodar e rígidas nos comportamento, por
incrível que pareça, nós éramos virgens com relação a sexo. Coisa já rara
naquele tempo, pois os avanços nessa área vem de muitos anos.
Houve
uma simpatia mútua e, sem muitos encontros, passamos a namorar, aparentemente,
ambos completamente apaixonados. E, como sempre acontece depois de várias
pegações, nos tornamos amantes em todos os sentidos, praticamente como fôssemos
um casal, apenas cada um em sua casa, como também, tudo isso era escondido dos
nossos rígidos pais.
Essa
deliciosa união demorou três anos cheios de paixões, até que, por transferência
do seu pai que era funcionário federal, toda família teve que ir para
Pernambuco, inclusive Rogério que pediu sua transferência na faculdade, uma vez
que, somente como estudante, seria inviável ficar e assumir um compromisso mais
sério comigo.
Para
mim, ou para ambos, foi uma situação triste e sofredora, pois, na verdade,
existia um grande amor e desejo sexual entre nós dois. Mas, infelizmente,
tínhamos que aceitar, esperando que, em futuro próximo, depois das nossas
formaturas nos encontraríamos novamente já em condições de casarmos, ou apenas,
morarmos juntos!
Começamos
a nos comunicar através de telefones, cartas, e-mails, mensagens, etc., porém,
com o tempo as coisas foram esfriando, principalmente da parte dele, resultando
em um silêncio total, caracterizando o término da relação. Lógico que fiquei
enlouquecida, mas, por ter acontecido aos poucos, meu coração partido já estava
quase curado!
Terminei
o meu curso, fiz especialização, mestrado e doutorado, preparando-me para que
minha carreira fosse vitoriosa. Por incrível que possa parecer, fiquei
completamente imune de namoros. Saía, passeava, curtia, mas, sempre sozinha,
deixando até dúvidas em minhas amigas e colegas que eu era lésbica. Imagine que
loucura!
Oito
anos depois dessa separação com Rogério, por uma circunstância profissional,
tive que ir de S. Paulo para um congresso em Recife e, além de ficar um tanto
eufórica, veio em minha mente a possibilidade de reencontrar meu antigo amor e,
quem sabe, até reatar e compensar o tempo perdido.
Fui
para Recife, levei o endereço que tinha de Rogério e família e, se não mudaram,
seria fácil o encontro!
No
dia seguinte a minha chegada, tendo a folga da noite, peguei um táxi e fui ao
endereço. Mas, chegando lá, encontrei a família dele, porém ele estava morando
em outro lugar, endereço que seus pais me deram com a máxima gentileza, sabendo
da amizade nossa no passado. Éramos considerados por eles como “bons amigos”
apenas. Me despedi depois de alguns minutos e voltei a tomar um novo táxi para
ir ver Rogério em sua nova morada. Sou sincera, pois, na minha cabeça estava a
ideia de, no nosso encontro, irmos para um motel e tirar toda diferença dos
anos de separação.
Quando
toquei a campanhia, logo em seguida quem veio me atender foi um rapaz moreno
muito bonito e educado.
–Pois
não. O que a senhora deseja?
-Queria
falar com Rogério. Ele está?
-Está
sim. Um momento: Ró, tem uma visita para você!
Nisso
aparece Rogério e, vendo-me, tomou um grande susto, porém me abraçou
carinhosamente e mandou que eu entrasse. Nos sentamos na sala, ele me
apresentou Flávio e, sem nenhuma vergonha ou constrangimento, falou que estava
morando com ele, praticamente casados e estavam bastante felizes.
Para
mim foi uma grande surpresa, pois, aquele homem sedutor, cheio de sexualidade e
másculo, pudesse mudar completamente.
Ele
foi claro e objetivo: Estamos passando por um período de várias mutações. Temos
que nos adaptar a vida moderna, seguir os padrões aplicados, novos hábitos e
costumes que, a cada dia provam que tem sentido. Jamais podemos ficar fora da
realidade!
Esse
foi seu argumento para justificar a sua mudança para ser homossexual, quer seja
ativo ou passivo. Dá no mesmo!
Voltei
para S. Paulo, bastante decepcionada e pude ver que o mundo está caminhando
para sua transformação completamente fora da normalidade imposta pela antiga
sociedade.
Essa
grande surpresa foi demais para minha cabeça, e fiquei imaginando: “Será que eu
um dia vou virar lésbica para estar na moda?”
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de
Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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