quarta-feira, 24 de abril de 2019

MUDANÇA RADICAL!

Antonio Nunes de Souza*

Morador de cidade praiana, ainda começando a ser descoberta pelos turistas, desde menino vivi pelas areias, catando “papa-fumos, mapés, sururus, ostras, etc.”, não só para ganhar uns trocados vendendo para a vizinhança, como também as modestas pousadas e, claro, para a alimentação de nossa casa!
Sou negro, hoje tenho vinte e dois anos, porém forte e atlético com uma altura acima do normal, praticamente um bonito exemplar da raça africana e, com a coloração do constante sol, minha pele tem um bronzeado de dar inveja a muita gente, Tudo isso tornou-me um charmoso nativo!
Atualmente estou vendendo cangas coloridas, óculos, óleo para bronzear e alguns colares de conchas e sementes coloridas. Essa é a minha profissão e trabalho. Entretanto, nunca deixei de estudar, ler alguns livros deixados pelos turistas e da biblioteca da escola. Resultando eu me tornar um cara educado, curso secundário, simpático e bom papo! Meu sorriso super branco, parece um teclado de piano de caldas, e as duas covinhas que se formam em minhas bochechas, me dão um toque irresistível. Graças a isso, consegui transar com quase todas as meninas da cidade e, logicamente, com uma corrente enorme de turistas que iam passear sem seus respectivos namorados ou maridos.
Me considero um cara feliz, cheio de liberdades, ainda moro com meus pais. Minha mãe é lavadeira e meu pai um pescador quase aposentado.
Aí ocorreu o que eu menos esperava! Apareceu uma turista americana, mulher de seus 35 anos, mas, ainda cheia de vida e beleza que, pela morte de seus pais em acidente aéreo, resolveu vir passar um mês no Brasil e, por ironia do destino, a empresa de turismo indicou a nossa cidade, observando que não havia alto luxo, porém as praias eram maravilhosas, águas mornas e serenas e as melhores iguarias de frutos mar!
Como era tranquilidade que ela queria, nosso lugarejo seria o ideal, pois somos somente vinte e cinco mil habitantes, nos oferecendo serenidade e segurança.
Conheci Joanne Truder Smith na pousada, quando fui visitar alguém que havia conhecido na praia. Ela vendo meu estandarte cheio de quinquilharias, pediu para que eu explicasse as utilidade e que mostrasse as cangas e as camisas com frases alusivas a cidade. Mandou-me sentar na varanda e sem falar português começamos a dialogar por gestos e, as vezes, tendo a colaboração da funcionária do hotel, que era “meia” bilíngue! Ela comprou uma série de coisas, dizendo que seriam lembranças para amigos e, com a maior simpatia e educação, me convidou para jantar. Eu, como sou tranquilo e seguro, aceitei, dizendo que ia em casa deixar minhas mercadorias de trabalho, tomar um banho e voltaria. Assim combinamos as vinte e trinta nos encontrar.
Foi um jantar agradável, trocamos ensinamentos de inglês e português, nos entendemos maravilhosamente, ficando até meia noite tomando um bom vinho. Quando chegou a hora da despedida ela me abraçou e, com a maior tranquilidade, me deu um beijo na boca, que não foi nada técnico. Meteu a linguona américana sem fazer cerimônia! Quase que eu já ia aprender inglês por osmose!
Depois de abrir um lindo sorriso, me deu boa noite e que me veria na praia pela manhã. Saí calmamente e feliz, pois, inesperadamente, aconteceu eu conhecer uma mulher legal, bonita e, pelas suas vestes e semblante, deixava transparecer ser bastante rica e independente!
Para simplificar, ficamos namorando durante toda sua estadia, ela, forçosamente, comprou todo meu estoque de mercadoria para que eu ficasse completamente livre, para curtirmos aqueles dias maravilhosamente, sem que nada nos impedisse.
Antes de chegar a data da partida, ela praticamente exigiu que eu fosse com ela para Los Angeles, e lá ficaria trabalhando em sua empresa de transportes terrestres, herdada dos seus pais. Em princípio achei uma meia loucura, mas, para um rapaz do interior, ainda bastante jovem, seria uma aventura deslumbrante e apenas, na pior das hipóteses, me daria mais experiência de vida e aprenderia a falar inglês!
Ela mandou preparar meu passaporte, comprou roupas adequadas quando chegamos a capital, que eu me senti um galã de cinema ao lado de uma louríssima super charmosa. Formávamos um casal muito bonito, mesmo com a diferença de etnias!
Encurtando a história, hoje estou morando em Nova Yorque, sou um executivo da empresa Truder Companny, temos dois lindos filhos (ambos morenos), somos bastante felizes e, sempre que posso, venho ao Brasil, vou a minha pequena e querida cidade pra ver meus pais e amigos. Olho para a praia e me lembro da minha antiga vida que, jamais pensei em acontecer uma guinada tão grande!

Veja você que, quando a felicidade quer e bate em sua porta, não tenha medo. Se prepare e tenha coragem de enfrentar as oportunidades que surgem. Às vezes, ser aventureiro tem suas compensações. Mas, tenha cuidado!
*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmil.com-antoniomanteiga.blogspot.com

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