*Antonio Nunes de Souza
-Pare em
nome da lei! Gritou o policial para um homem que passava na calçada.
-O senhor
está falando comigo?
-Isso mesmo.
O senhor está preso por assalto a mão armada, minutos atrás a uma joalheria!
Tire as mãos dos bolsos bem devagar e coloque-as sobre a cabeça.
-O senhor está louco!
Disse o homem, tirando as mãos dos bolsos e mostrando que era bi-maneta,
vitimado por um acidente. Eu não tenho mão e nem tenho arma. Deve haver um
bruto engano da sua parte.
-A vendedora
disse que o assaltante estava usando uma camisa vermelha, calça preta, sapato
marrom e branco, bigode e cabelos grisalhos, uma bolsa tira-colo branca e tinha
uma cicatriz na testa. E o senhor se enquadra perfeitamente nessa descrição.
-E cadê essa
filha da puta?
-Vamos até a
joalheria e ela vai conosco até a delegacia para prestar a queixa e depoimento.
Dizendo isso, revistou o acusado não encontrando nada, disse: Eu não posso nem
lhe algemar, pois, sem as mãos, você escapa e foge. Mas estou curioso como você
fez para sacar a tal arma!
-Devo ter
enfiado o revolver no cu e virado a bunda pra ela, enquanto com os cotocos dos
punhos eu abria as vitrines e apanhava as jóias.
O policial
não conteve o riso, mas, como começava a juntar gente, preferiu pegar o homem
pelo braço e atravessar a rua em direção ao local do assalto.
O dono do
estabelecimento já havia chegado, atendendo o chamado urgente da vendedora, e
ela contava como aconteceu o fato, já que estava sozinha no momento da
ocorrência.
Quando fomos
entrando e ela nos viu, começou a tremer e gaguejar, apontando para o homem e
dizendo: Foi ele! Ele me pegou pela blusa, meteu a mão em meu bolso, tirou as
chaves das vitrines e com o revolver apontado pra minha cabeça. Eu fiquei
morrendo de medo, pois ele estava com o dedo no gatilho e, como estava nervoso,
tive medo que disparasse acidentalmente.
O homem, com
os braços para trás, olhava a cara cínica da moça ao contar essa absurda
história. Quando ela, depois de enxugar os olhos, olhou diretamente para o
homem, este levou os braços a frente e mostrou para todos que não tinha nenhuma
das mãos, apenas os braços que não iam além dos pulsos.
Ela tomou um
susto tão grande e saiu correndo para o fundo da loja, já gritando que
telefonassem para o seu noivo. Nessa altura, na porta via-se uma multidão de
curiosos, loucos para saber o desfecho.
Sem entender
direito o que estava acontecendo e a reação estranha da moça, o policial pediu
ao dono da joalheria que fechasse a porta e eles iriam até o fundo, onde ficava
o escritório, para poder interrogar a moça e esclarecer os fatos. Feito isso, a
moça encolhida no canto, chorava desesperadamente e pedia que pelo amor de
Deus, telefonassem para que seu noivo fosse imediatamente para lá.
-O que eu
quero é que a senhora fale a verdade, já que vimos que se trata de uma mentira,
toda estória que nos contou. E, soluçando bastante e cabisbaixa, ela começou a
falar: Sei que foi uma loucura da minha parte, mas eu estava desesperada para
casar e como meu noivo e eu não estamos em condições financeiras, resolvi
forjar esse roubo para vender as jóias e conseguir dinheiro para realizar o meu
sonho.
-Mas, como a
senhora acusou esse homem como o autor?
-Aconteceu
que, meia hora atrás, ele estava parado aí em frente e eu gravei todas as suas
características, imaginando que nessa multidão, seria difícil a polícia ou
alguém localiza-lo. Mas, o castigo me pegou, pois ele estava com as mãos nos
bolsos e não notei que ele nem as tinha.
Dito isso, o
policial de acordo com o dono da loja, liberou o homem, apresentando desculpas,
ficando aguardando o noivo que já estava a caminho e desconhecia totalmente
essa atitude da mulher, para irem todos para o distrito policial.
O homem saiu
bastante aliviado e disse pra si mesmo: Porra! Essa é a primeira vez que fico
alegre por ter perdido as mãos naquele acidente, senão teria entrado numa fria
desgraçada.
*Escritor (Membro
da Academia Grapiúna da Letras – antoniodaagral26@hotmail.com
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