sexta-feira, 29 de março de 2013


O seminarista

                                                                                                                       *Antonio Nunes de Souza

-Meu filho eu quero entregar a Deus!  Essas eram as palavras que D. Maria sempre repetia para suas amigas e familiares, derramando um olhar de meiguice para Luizinho.
Devido um problema genético que impedia sua gravidez, Maria fizera uma promessa que, caso conseguisse ter um filho, este seria entregue a Deus na profissão sacerdotal. E, como um verdadeiro milagre, após todos os desenganos da medicina, um belo dia ela começou a ter tonturas e náuseas e não deu outra. Fez um exame e constatou que estava grávida.
Não precisa dizer que foi o maior carnaval de alegria no seio familiar e, mais que depressa, foram logo a igreja comunicar o fato ao sacerdote, encomendando logo uma missa festiva em agradecimento a dádiva que acabara de ser agraciada.
Luizinho coitado, mesmo sem demonstrar nenhuma vocação para ministro religioso, obedecia religiosamente às determinações da mãe, indo à missa diariamente e já ajudava ao Padre Marcos na celebração, sendo elogiado como um ótimo e dedicado coroinha. Mas, no fundo do seu coração, aquela idéia materna ia de encontro aos seus desejos, suscitando uma dúvida atroz em sua cabeça.
Ao completar 14 anos, sua mãe encaminhou uma carta ao bispo solicitando uma vaga no seminário, para que Luizinho lá concluísse o segundo grau e seguisse sua trajetória, saindo de lá somente após a ordenação.
Como se tratava de uma paroquiana das mais assíduas e colaboradoras em todas as ocasiões, contou com a interferência de Pe. Marcos, que mandou uma carta logo após, reforçando a solicitação.
Até que ele gostava da devoção dedicada e tinha uma fé indubitável em Deus e todos os santos. Mas, pairava em sua cabeça uma forte dúvida com relação ao voto de castidade. Achava o celibato algo inconcebível, principalmente pelo fato de relacionar-se com famílias, e como poderia dar conselhos e orientações sobre algo que somente tinha conhecimento através da literatura?
Nas suas leituras as escondidas, sempre escolhia revistas e livros sobre sexo e sua libido ia lá pras cabeceiras. Muitas vezes terminando em deliciosas masturbações. Porém, seu desejo maior era experimentar a sensação de ter uma relação sexual plena com uma mulher. Bastavam as brincadeiras e gozações de seus colegas, que sempre lhe sacaneavam, dizendo que jamais ele iria transar. Isso era uma guerra mental que o atormentava constantemente. Porém, jamais teve coragem de dizer para sua mãe que preferia ser um advogado ou médico. Seria melhor cuidar dos bens ou dos corpos, do que do espírito e da alma.
Finalmente chegou o dia da partida de Luizinho. Sua mãe havia preparado seu enxoval conforme a exigência do seminário comprou uma mala nova que coubessem todas as suas coisas, aprontando-o como um noivo que chegaria e ficaria no altar, mas, sem nunca ter a felicidade do sacramento do matrimônio e nem a consumação do ato sexual, que lhe atormentava pela aguçada curiosidade.
D. Maria era um choro só. Muito pela felicidade de estar cumprindo sua promessa e outro tanto pela saudade que já sentia do seu único e amado filho.
Embora já convivendo desde criança dentro de uma igreja, Luizinho sentiu-se bastante deslocado, em função das regras e determinações que deveria seguir, conforme as normas educacionais estabelecidas pelo bispo, Diretor Geral do Seminário.
A primeira noite foi nostálgica e mal dormida. Estando alojado em um grande salão, onde camas enfileiradas eram dispostas de tal maneira que, o padre sensor, de qualquer posição poderia ver tudo que estava se passando naquele ambiente. Para ele que tinha o seu quarto individual, sentiu uma horrível sensação de invasão da sua privacidade, inclusive porque sempre detestou trocar de roupas na presença de outra pessoa. Mas, pelo bem da sua mãe, sempre lembrando quanto ela estava feliz por ele estar lá, reteve sua ira e resolveu encarar tudo com tranqüilidade e seguir o destino que lhe traçaram.
Os anos foram passando, Luizinho estudioso como sempre, era um destaque entre todos pela sua eloqüência e conhecimentos profundos de toda história da religião católica, dominando com maestria todos os versículos e capítulos da Bíblia Sagrada, interpretando-os com uma desenvoltura que, ao ouvir falar, transportava os fieis para Jericó, Cafarnaum ou Jerusalém. Suas palavras encantavam os mais descrentes e fazia chorar de emoção os mais detentores da fé. O Bispo o olhava com orgulho, vislumbrando o futuro brilhante que o esperava. Sentindo no fundo, um grande orgulho por ter sido seu mestre.
Luizinho, além da literatura ligada à teologia, jamais deixou de ler centenas de outros livros, clássicos ou não, das publicações mundiais, procurando sempre se ilustrar ao máximo, colocando-se numa posição de homem bastante culto. Entretanto, nessas suas leituras, geralmente se deparava com autores que faziam do sexo, praticamente uma religião e, inevitavelmente, bulia com seus adormecidos, porém vivos, desejos de experimentar o fruto que para ele era proibido.
Chegou o dia maior, que seria o da sua ordenação!  Sua família toda presente, D. Maria vestida a caráter, deixava claro em seu semblante o orgulho da promessa cumprida e a felicidade de ser seu filho o primeiro da classe e o orador oficial da solenidade.
Tudo se desenrolou conforme a tradição. Muitos abraços, choros e Luizinho partiu para umas férias em casa, até que fosse definida a paróquia que lhe seria determinada para servir em nome de Deus.
Embora sempre visitasse sua cidade nos períodos de folgas e férias, esta sua ida teve um significado maior, pois, desta feita, ele era verdadeiramente, um santo padre da Igreja Católica Apostólica Romana. Um orgulho para a pequena e atrasada cidade.
As beatas amigas de D. Maria prepararam uma recepção a altura e festejaram com carinho e amor, à volta do filho pródigo (não como o da parábola), mas, pródigo em conhecimentos e símbolo da fé cristã.
Como desejava, Pe. Luiz (nosso querido Luizinho),foi designado para uma paróquia distante, pois, para ele seria mais interessante e se sentiria melhor, enfrentando uma cidade diferente, não tendo que se deparar diariamente com pessoas por demais conhecidas. Acreditava que, por ser um estranho, sua credibilidade seria encarada de uma forma mais consistente. Lembrou-se ele do adágio popular: Santo de casa não faz milagres!
Sua primeira confissão, obviamente após a ordenação, foi algo que marcou consideravelmente sua vida. Ao entrar no conficionário, aproximou-se uma linda jovem, meio cabisbaixa, usando véu e com um terço na mão, ajoelhou-se e o cumprimentou:
-Bom dia, Padre Luiz!
-Bom dia, filha! Sinta-se à vontade e desabafe o que lhe preocupa, pois estou aqui em nome de Deus para ajudá-la e dar sua absolvição, caso se faça necessário.
-Padre, eu estou com vergonha de falar, Mas preciso desabafar o que sinto, pois creio que extrapolei em meu comportamento, me deixando seguir pelo ímpeto e pelo desejo carnal, praticando coisas que, embora tivessem me dado um imenso prazer, deixou-me cheia de arrependimentos. Mas, não posso deixar de confessar que foi a maior noite de prazeres e satisfações que senti em toda minha vida.
A moça dizia tudo isso, sem ter a coragem de olhar nos olhos do padre, mas, eventualmente, levantava os olhos e percebia a curiosidade que estampava no rosto de Luizinho, que, com os olhos brilhando, aguardava com ansiedade o relato daquela longa noite de loucuras.
-Filha, não tenha vergonha das suas fraquezas, todos nós somos passivos de errar e Deus sabe perdoar seus filhos, pedindo apenas que estes erros não se repitam. Conte detalhadamente o que aconteceu, pois talvez não seja tão absurdo como você está pensando. Esse pedido de “detalhadamente”, deixou claro que o fato despertou algum interesse nele, em ouvir de viva voz o que existe de tão especial numa noite de amor, já que as dissertações através de livros, sempre são fantasiosas, levadas ao exagero e fogem da fidelidade.
-Perdoe-me padre, mas vou ser o mais transparente possível, no sentido de colocar para fora tudo como realmente aconteceu.
-Pois não, filha. Sou todo ouvidos!  Na entonação da sua voz, percebia-se que no fundo estava dizendo: Conta logo pelo amor de Deus!
-Eu tenho 19 anos e moro somente com meu pai, pois minha mãe faleceu o ano passado, acometida de uma doença inesperada. O mês passado veio morar em nossa casa um primo distante, em função de fazer a faculdade aqui em nossa cidade e, como somos parentes, meu pai aceitou hospedá-lo conosco, já que nossa casa é grande e não seria nada demais atender uma solicitação do meu tio que mora em outro Estado.
-Eu nunca fui dada a namoros, mas, assim que Pedro chegou, fiquei vislumbrada com a sua figura atlética, seu lindo rosto e a maneira gentil e brincalhona de ser. Seu sorriso era algo que me deixava embevecida e cheia de encanto. Quando ele me olhava com seus bonitos olhos esverdeados, mesmo sem desejar, o desejo aflorava em todo meu corpo, como se estivesse hipnotizada como uma Naja, quando ouve o toque da flauta do seu amestrador.
-Procurei por todos os meios, desvencilhar-me daquele encanto maldito ou bendito, não sei, tentando evitar que algo pudesse acontecer. Mas, ao deparar-me com ele, desculpe padre, minha excitação chegava ao extremo de provocar secreções vaginais e meu impulso era de agarrá-lo, beija-lo até não mais poder.
-O senhor quer que eu pare? Estou sendo impura na minha confissão?
-Não filha! Continue por favor. Não omita nenhum detalhe, pois sei que isso lhe fará muito bem (na verdade era ele que morria de curiosidade e queria saber minuciosamente o acontecido).
-Então, ontem à noite, Pedro ficou conversando comigo até bem mais tarde, explicando-me um assunto de física e, por baixo da mesa, nossas pernas começam a se tocarem, inicialmente por casualidade, mas, com o decorrer do tempo, passamos a nos esfregar cada vez mais, chegando ao ponto dele começar a alisar minhas coxas, subir até o meu sexo, massageando-o com muito carinho aquele que já se encontrava molhadinho pela sensação que eu estava sentindo. Até então, tudo isso estava acontecendo, enquanto nós não tirávamos os olhos dos livros e falávamos algumas coisas sobre física, mas o certo é que, aquela altura, estávamos mais preocupados com os prazeres físicos do que as equações da física. Pedro, sorrateiramente, pegou a minha mão e colocou encima do seu membro que, ao apertá-lo, senti que estava super duro e latejava no compasso do seu coração.
-Acho bom eu parar padre Luiz! Estou morta de vergonha para continuar contando o que houve depois.
-Não, não, minha filha! Confesse a Deus e desabafe seu coração, pois dizendo toda verdade, Deus saberá quanto estás arrependida e dará o seu perdão!  O certo é que Luizinho já estava super excitado com o que estava ouvindo, principalmente pela voz macia e doce da moça, que sussurrava baixinho as minúcias da sua aventura.
-Aí padre, ele me beijou no rosto várias vezes, depois na minha boca e, como loucos, começamos uma agarração sem limites e seguimos para o quarto, tiramos nossas roupas desajeitadamente, pois já estávamos deitados, começando a nos amar com uma gulodice insaciável. Ele começou beijando meus seios, descendo sua boca até o umbigo e, sem nenhuma cerimônia começou a sugar a minha vagina de uma maneira que eu desconhecia totalmente, fazendo com que eu me contornasse de gozo e prazer, chegando a dar pequenos gritos pela sensação maravilhosa que sentia.
-Oh! Padre Luiz eu vou parar, porque estou morrendo de vergonha e o senhor não vai querer ficar ouvindo esse relato pecaminoso. Vou apenas dizer que aconteceu tudo e pronto.
-Mas menina, como posso fazer uma reflexão a respeito do fato se não souber as minúcias?  O nome confissão foi dado a esse ato cristão, exatamente para que você relate, sem cortes, tudo aquilo que você acha que foi pecado, para que Deus, na sua bondade divina, possa perdoá-la. Pe. Luiz falou de uma forma veemente, pois já estava super excitado e olhando para a bela moça em sua frente, por mais que quisesse desviar o pensamento, seu desejo era estar no lugar de Pedro, para desfrutar daquela aventura e realizar o seu desejo contido desde a puberdade.
-Siga em frente sem cortes nem omissões. Deus castiga os mentirosos. Falou ele para enfatizar sua veemência.
-Tudo bem padre, não pararei mais e farei uma narração fiel do meu pecado, porém peço-lhe que me perdoe se no decorrer o senhor observar ou sentir muito entusiasmo nas palavras ou emoções em meu rosto. Que Deus me perdoe, mas, somente em estar falando, estou sentindo um arrepio no corpo e o mesmo desejo de realizar tudo outra vez. Falou Marise (esse era o seu nome) com um sorriso amarelo nos lábios, porém com uma carinha safadinha, que fez Luizinho ter que se controlar para não cometer uma besteira.
-Então, depois de me fazer sentir diversos orgasmos através do sexo oral, Pedro colocou seu corpo pesado sobre o meu e, sem que precisasse ajuda das mãos, seu penis acomodou-se de uma só vez dentro de mim, fazendo com que, naquele momento, passasse a sentir estertores convulsivos como se estivesse sendo transportada para outro mundo, onde jamais desejaria voltar. Quanto mais ele, freneticamente, fazia aquele movimento de vai e vem, eu o agarrava fortemente, desejando que nos transformássemos em siameses e nunca mais fossemos separados.
Luizinho, esquecendo sua condição de padre, a essa altura já alisava seu membro endurecido, quase se masturbando, graças ao que estava ouvindo e, principalmente, por ser exatamente o que sempre desejou fazer e se reprimia pela sua condição religiosa. E, olhando que a igreja estava vazia e o sacristão estava viajando, num impensado ato, pediu para que Marise fosse até a sacristia para que ele lhe desse uns conselhos.
-Estou indo pra lá e lhe aguardo atrás do altar mor. Disse ele querendo fazer uma cara de respeitabilidade, mas, seu semblante, denunciava completamente suas maldosas (?) intenções.
-Está bem. Irei em seguida. Disse Marise sentindo que algo estava para acontecer, pois os desejos de ambos estavam aflorados nos seus rostos.
Assim que Marise entrou na sacristia, Luizinho trancou a porta e, sem nada dizer, foi agarrando-a pela cintura, enchendo-a de beijos. Marise, sem demonstrar surpresa, pendurou-se em seu pescoço e entregou-se completamente para acontecer tudo que fosse possível e que seu prazer carnal pudesse ser saciado de uma maneira sacro santa. Luizinho já não enxergava mais nada e nem de longe se lembrava da sua condição de ministro de Deus. Naquele momento só o interessava realizar o seu sonho, que desde garoto pairava em sua mente.
Deitaram no tapete e juntaram a experiência teórica de Luizinho e a prática de Marise, adicionados aos desejos de ambos, fizeram uma encenação do Kama Sutra, literalmente ao pé da letra, acrescentando ainda algumas variações em torno do tema.
Duas horas se passaram e eles pararam exauridos, deitados olhando em sua volta uma série de castiçais, velas semiqueimadas, Turíbio e outros equipamentos ali guardados, que serviam nos ofícios religiosos.
Como um estalo, Luizinho caiu na realidade, levantou-se de um pulo, vestiu-se rapidamente e pediu que Marise fizesse o mesmo. Ela tinha um sorriso enigmático nos lábios, pois não sabia ao certo se estava purificada ou “putificada”. Mas, uma coisa ela tinha certeza: Foi uma trepada inesquecível!
Depois de ambos estarem totalmente recompostos, Marise, com a cara mais cínica do mundo, virou-se para Luizinho e perguntou:
-Padre, qual é a minha penitência?
Luizinho, contendo-se para não dar uma gargalhada, disse com um tom super sério: Reze 10 Pai Nossos e 10 Ave Marias. Mas, amanhã, nesse mesmo horário, vou esperar você aqui.
-Combinado. Aguarde-me que não faltarei!
-Benção Padre!
-Deus lhe abençoe minha filha! Vá com Deus, mas, volte pra nosso ato de piedade cristã. Disse Luizinho com um sorriso maroto nos lábios.
                                                                      
*Escritor(Blog Vida Louca – antoniomanteiga.blogspot.com – antoniodaagral26@hotmail.com – Membro da Academia Grapiúna de Letras

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